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Lula fala de Bolsonaro, BC e perfil de indicação ao STF: 'Não governo para o mercado'

Em entrevista à emissora CNN, nesta quinta-feira (16), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou de vários temas que estão em debate na sociedade atualmente, entre eles o embate do governo com o Banco Central (BC) e eventuais indicações ao Supremo Tribunal Federal (STF).
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O presidente completou, nesta semana, 45 agitados dias de governo. Aos poucos, as pautas econômicas vêm ganhando espaço, com discussões sobre salário mínimo, taxa de juros, inflação e geração de emprego. Mas o início foi mais conturbado e voltado ao debate político, com a invasão da Praça dos Três Poderes, em Brasília, em 8 de janeiro.
Para Lula, o ex-presidente Jair Bolsonaro tem responsabilidade pelo que ocorreu no início de seu mandato. À CNN, o presidente disse acreditar que Bolsonaro tentou articular os atos para o dia 1º, mas que recuou da ideia devido à quantidade de pessoas em sua posse.

"Ele sabe que tem responsabilidade pelos atos do dia 8 de janeiro. Na minha cabeça, tenho noção de que ele estava tentando fazer aquilo no dia 1º de janeiro. Não fez porque tinha muita gente aqui e ele não ousou fazer aquilo. Pegou um momento que estava toda a sociedade muito tranquila para ativar seus milicianos para fazer a baderna que fizeram", afirmou Lula.

Lula e Jair Bolsonaro participam do debate presidencial promovido pela TV Bandeirantes. São Paulo, 16 de outubro de 2022. Foto de arquivo
Apesar disso, o presidente falou que Bolsonaro deve voltar e que "é importante termos oposição" e que o Brasil possa continuar a ter o debate político. Mas também pediu um debate verdadeiro e não mentiroso para que a sociedade possa "melhor escolher" seus candidatos.
Lula também criticou o governo anterior na área econômica, afirmando que foram gastos "quase 60 bilhões de dólares para tentar ganhar as eleições". "Não foi pouca coisa a quantidade de dinheiro jogado para tentar ganhar as eleições", disse.

"Se tem uma pessoa que desrespeitou toda a lógica da economia foi ele [Bolsonaro], porque ele não entendia nada, e o [Paulo] Guedes [ex-ministro da Economia] fazia o que bem entendia", declarou.

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'Não estou governando para o mercado'

Quanto às pautas econômicas, Lula fez questão de continuar marcando sua posição, que tem gerado ruídos com agentes do mercado.
O presidente disse conhecer os interesses de especuladores financeiros, apontou que há "gente séria no mercado", mas garantiu que governará para "aqueles que mais necessitam".

"Não estou governando para o mercado. Sei o que o mercado faz para ganhar dinheiro, mas estou para o povo brasileiro, estou governando para tentar recuperar o bem-estar que o povo alcançou quando fui presidente", disse Lula.

Segundo ele, o país "não pode ser governado pendendo apenas para um lado", mas sim para todos, frisando a necessidade de olhar para os mais pobres.
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Sobre os embates com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, Lula reforçou suas críticas às altas taxas de juros e indicou que é preciso haver diálogo entre o governo e o BC.
Segundo o presidente, não caberá a ele sentar e conversar com Campos Neto, e sim ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e à ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, em meio a futuras discussões do Conselho Monetário Nacional (CMN).

"Aumentar o juro é importante quando tem inflação de demanda. [...] Mas não é o caso do Brasil, não tem inflação de demanda neste país, porque não tem crédito neste país. Estamos vivendo uma crise de crédito. Somos um país capitalista sem crédito", destacou. "Se tem uma lei que diz que o presidente do Banco Central tem essas funções, ele tem que cumprir essas funções, é a meta dele."

Quanto à autonomia da instituição, Lula disse que não é contra por princípio, mas que acha importante ver os resultados na prática. O presidente afirma que, se a política atual tiver êxito, não tem por que mudar o modelo. Porém, "se [o país] não melhorar, temos que mudar", apontou.

'Minha indicação sempre será neutra'

Logo em seu primeiro ano de mandato, o presidente terá direito a duas indicações ao STF, com as aposentadorias dos ministros Ricardo Lewandowski e Rosa Weber.
Lula afirma que suas indicações só serão definidas após conversas com pessoas do ramo. Mas apontou que deseja nomes independentes e da corrente "garantista" da Constituição Federal, criticando a operação Lava Jato.

"Quando você indica um ministro do STF, não é para fazer política para mim, nem favor. Indiquei [em seus primeiros mandatos] por achar que eram pessoas que podiam prestar um enorme serviço na defesa da Constituição brasileira, porque o Poder Judiciário é muito importante", ressaltou. "Nunca pedi favor para nenhum dos ministros que indiquei", completou.

A ministra Rosa Weber em sessão plenária do STF. Foto de arquivo
O presidente afirmou "lamentar profundamente que um cidadão e uma tal de força-tarefa [Lava Jato] conseguiram por anos enganar a imprensa, o Poder Judiciário e a sociedade brasileira". Sem citar o nome do ex-juiz e atual senador Sergio Moro (União-PR), Lula afirmou que o processo contra ele "foi a maior mentira já contada" no país.
O presidente também minimizou a atuação de alguns ministros do STF indicados pelo PT, ao longo de seu governo anterior e do da ex-presidente Dilma Rousseff, em favor da Lava Jato.
"Vi o comportamento de cada um, o que cada um fez. Não posso voltar a governar magoado com o que foi feito e que me prejudicou. Tenho que deixar isso no canto e governar. O que importa para mim é como eu vou deiar o país em 2026. Meu compromisso com o povo é esse", apontou.
O presidente avalia que não há como prever a atuação de eventuais indicados às vagas na Corte. Segundo ele, não é possível saber se os ministros continuarão "com o mesmo pensamento que tinham antes" quando vestirem a toga.

"Minha indicação sempre será neutra. Não quero ninguém a meu favor ou contra. Quero alguém a favor da justiça, do cumprimento da Constituição, garantiu.

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