Na quarta-feira (15), um grupo de investigadores forenses apresentou à Justiça o relatório final de uma ação judicial que dura mais de 12 anos para precisar qual foi a verdadeira causa da morte de Neruda. A morte do escritor é investigada judicialmente desde 2011, quando o Partido Comunista do Chile, na qual Neruda era membro, questionou formalmente a versão oficial.
O regime de Pinochet alegava que o poeta morreu de câncer metastático. Esse tese foi por muitos anos rebatidas pelo motorista de Neruda, Manuel Araya, e especialistas, que não conseguiam precisar o que provocou o falecimento.
"A bactéria Clostridium botulinum encontrada em seu corpo não deveria estar no esqueleto de Neruda, isso significa que ele foi assassinado, que houve intervenção de agentes do Estado", disse Rodolfo Reyes, que também atua como advogado da família, logo após a apresentação do laudo.
Essa bactéria foi encontrada em 2017 em um dos dentes do poeta, em uma das inúmeras vezes que seu corpo foi desenterrado para realização de laudos periciais, o que teria dado origem a este último laudo para corroborar a tese de envenenamento.
Em entrevista ao jornal argentino Página 12, nesta quinta-feira (16), Reyes frisou que a responsabilidade da morte de Neruda deve ser atribuída ao ex-ditador.
"No Chile nada acontecia sem a autorização ou ordem de Pinochet. Neruda era candidato e opositor ferrenho do ditador e estava prestes a se exilar no México porque sua vida corria perigo no país", disse Reyes.
"Sabemos que a bactéria, encontrada por um laboratório canadense, foi injetada em Pablo, e ele morreu algumas horas depois. [...]. Neruda foi assassinado e agentes do Estado intervieram. Pinochet foi o responsável pela morte de Neruda."
O advogado disse que vai esperar que o juiz entregue uma cópia do laudo para que os dados presentes ali sejam tornados públicos.
Neruda, cujo nome verdadeiro era Neftalí Reyes, morreu em 23 de setembro de 1973, doze dias após o golpe perpetrado por Pinochet. Durante a ditadura, mais de 28 mil pessoas foram torturadas, 3.227 foram assassinadas e cerca de 200 mil foram forçadas ao exílio, segundo dados oficiais.