Na semana passada, o ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, João Gomes Cravinho, revelou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai fazer um discurso no Parlamento na sessão solene do 25 de abril, data da Revolução dos Cravos.
"É a primeira vez que um chefe de Estado estrangeiro faz um discurso nesta data", disse o ministro em entrevista coletiva em Brasília segundo o jornal O Globo.
Entretanto, apesar da amizade demonstrada, o anúncio e a ida de Lula não agradaram a todos os parlamentares portugueses por dois motivos: primeiro que Gomes Cravinho anunciou sozinho que o mandatário brasileiro irá ao país sem a decisão ter sido tomada em conferência dos líderes partidários do Parlamento, como determina o regimento da Casa.
Em segundo, a ala da extrema direita é contra a presença de Lula no evento, pois acredita que nenhum chefe de Estado estrangeiro deva discursar em uma data tão nacional para o país.
"O [partido] Chega se reúne nesta terça-feira [28] com vários movimentos e associações de brasileiros em Portugal e prepara a maior ação de repúdio alguma vez vista em Portugal à visita de um chefe de Estado estrangeiro", disse o deputado e presidente da legenda André Ventura citado pela revista Veja.
Contudo, não é só o fato de ser "um chefe de Estado estrangeiro" que incomoda a legenda. Recentemente, Ventura virou notícia em Portugal e no Brasil depois de ter chamado Lula de bandido durante uma sessão do Parlamento português.
Ao que tudo indica, a polarização transcende o oceano e chega às terras lusitanas, uma vez que o deputado Pedro Filipe Soares, do Bloco de Esquerda, amorteceu a "trapalhada" – como chamou o episódio – de Gomes Cravinho e saudou Lula.
"Não será a trapalhada do ministro que deve impedir um momento que nos encherá de orgulho, que é receber Luiz Inácio Lula da Silva, o homem que foi responsável por tirar do poder o genocida [Jair] Bolsonaro", disse Soares.
Já para o presidente português, Marcelo Rebelo de Souza, o importante é que a visita "corra bem”, mas "há que respeitar a competência da Assembleia da República e o funcionamento da separação de poderes".