Panorama internacional

'Novo normal de energia' da Europa não impediria perda de competitividade mesmo com gás mais barato

A agência norte-americana Bloomberg publicou um artigo de opinião que comparou desfavoravelmente a situação no continente europeu na década de 2010 com a atualidade.
Sputnik
Apesar da grande redução recente dos preços do gás no mercado europeu, a situação permanece ruim para o continente, argumentou na segunda-feira (6) um colunista da agência norte-americana Bloomberg.
Javier Blas, especializado em energia e mercadorias, apontou que é verdade que o preço do gás na Europa chegou aos € 350/mW (R$ 1.935) em agosto de 2022, e que, entretanto, baixou para cerca de € 50 (R$ 276). No entanto, menciona, entre 2010 e 2020 os preços médios ainda eram duas vezes inferiores. No caso do Reino Unido, os custos com o gás atingiram um máximo de 550 libras esterlinas (R$ 3.439) em agosto e dezembro de 2022, e agora caíram para pouco abaixo de 150 libras (R$ 938).
Os preços ainda superiores estão obrigando as empresas a subir os custos para cobrir suas margens financeiras, incluindo no início de 2023, quando os novos preços costumam entrar em vigor. Isso, nota o colunista, agrava os níveis de inflação, particularmente nos serviços e na fabricação, mas também na alimentação. A título de exemplo, algumas estufas não estão conseguindo se aquecer no inverno europeu e são obrigadas a fechar nesse período, provocando escassez e custos mais altos.
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"A competitividade da Europa está sofrendo cada vez mais. Os altos preços da energia estão agora colocando um peso adicional sobre a rentabilidade e a competitividade", resumiu Martin Brudermuller, CEO da BASF. A situação é agravada pelo posicionamento do Banco Central Europeu e o Banco da Inglaterra, que deverão subir ainda mais as taxas de juro, apesar do crescimento econômico já "anêmico".
Assim, mesmo com a Europa conseguindo atravessar os últimos meses com prejuízos muito menores que os esperados, Greg Molnar, um analista de gás da Agência Internacional de Energia, vê fatores como um tempo favorável, o próprio dano econômico, o uso do carvão, em contravenção aos objetivos de uma economia verde, e o acesso ao gás natural liquefeito não necessário à China em meio aos lockdowns antipandêmicos do país, como responsáveis por 80% da queda da demanda em 2022.
Somente os restantes 20% aconteceram devido à eficiência energética e à mudança de comportamento, sublinha.
Por causa disso, Javier Blas espera que os próximos invernos sejam mais complicados que o último, assegurando um "novo normal de energia" com continuação de preços do gás relativamente elevados na Europa.
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