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Celso Amorim diz que Rússia 'tem suas razões para se preocupar com Ocidente'

Assessor especial da Presidência afirmou que objetivo do Brasil "não é agradar aos EUA, a UE, nem a Rússia, nem a China", o país quer conversar com todos, mas destaca que é preciso "reconhecer realidades", e que negociação Moscou-Kiev sem concessões dos dois lados visa "a destruição".
Sputnik
Em entrevista nesta sexta-feira (10) publicada pelo O Globo, o assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais e ex-chanceler, Celso Amorim, fez algumas declarações sobre o conflito Rússia e Ucrânia, especialmente agora após o presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, ter falado com Vladimir Zelensky.
Segundo Amorim, é notório que de certa forma, após Lula começar seu governo e falar sobre paz em relação ao conflito, um movimento maior em torno do assunto foi amplificado. Ou seja, além do curso natural de um pedido de paz mundial após um ano de conflito, o presidente brasileiro colaborou para engrenagem.
"O que mudou bastante [em relação ao conflito], e não posso atribuir ao presidente Lula, não tenho essa pretensão, mas depois que o presidente começou a falar de paz muita gente fala de paz. A própria resolução da ONU, que tem um parágrafo que eu não gosto muito, porque torna mais difícil a negociação, está voltada para a paz. É primeira vez que isso acontece, e a proposta específica brasileira foi falar em cesse de hostilidades […]", afirmou o assessor.
Entretanto, Amorim destacou que o objetivo do Brasil "não é agradar aos Estados Unidos, a União Europeia, nem a Rússia, nem a China. O telefonema para o Zelensky foi importante, porque mostrou que falamos com todo mundo […]".
Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante videochamada com o presidente da Ucrânia, Vladimir Zelensky no Palácio do Planalto, Brasília
Durante a conversa com o presidente ucraniano, Zelensky pediu a Lula que o ajude a articular um encontro com países latino-americanos, indagado pelo jornal se seria possível, Amorim afirmou que "organizar uma cúpula para um líder específico acho que não seria uma coisa muito adequada. […] Para pensar em paz, é preciso entender os pontos de resistência, de um lado e de outro".

"Mesmo que se condenem o uso da força e a quebra do princípio da integridade territorial dos Estados, não quer dizer que você não compreenda preocupações de segurança. Tem uma aula dada para a BBC por talvez o maior historiador britânico, Arnold Toynbee, chamada 'A Rússia e o Ocidente'. Ele não era comunista, não gostava da União Soviética, e dizia que a Rússia tem suas razões para ter preocupações com o Ocidente. Isso foi em 1952. É preciso ter uma compreensão disso, não se trata de dar a razão. Temos de entender, para encontrar uma solução com base no direito internacional, reconhecendo realidades", afirmou.

Ao mesmo tempo, Amorim destacou que quando se trata de acordos de paz, concessões dos dois lados têm que acontecer, uma vez que "negociação é negociação".

"Negociação é negociação. Por que senão, qual é o objetivo, destruir a Rússia? Outros já tentaram, Napoleão tentou, Hitler tentou, deu no que deu, sempre. A Rússia, mesmo desfeita de tudo o que tinha antes, do Império do Czar… é um país com 11 fusos horários, e um grande número de nacionalidades. O que se quer fazer, desintegrar isso tudo? Primeiro, os russos não vão deixar. É preciso encontrar uma negociação. O que está errado, está errado, agora temos de descobrir e discutir uma maneira que permita ter paz", afirmou.

Questionado sobre plano de paz da China para o conflito, Amorim disse que "o movimento é importante, porque marca um desejo de envolvimento da China no processo".
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"O movimento é importante, porque marca um desejo de envolvimento da China no processo. E a China é um ator importante, porque não adianta ter amigos só de um lado. A menos que você queira destruir", complementou.
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