Nesta segunda-feira (13), o Instituto Internacional de Pesquisa sobre a Paz de Estocolmo (SIPRI, na sigla em inglês) publicou novos dados sobre o mercado internacional de armamentos, atestando o aumento da importação europeia de equipamentos bélicos.
De acordo com os dados, as importações de armamentos da Europa cresceram 47% no período entre 2018 e 2022, quando comparado ao período de 2013 a 2017. Em 2022 a Ucrânia ascendeu ao posto de primeiro importador europeu, um salto do 14º lugar que ocupava no período 2013-2017.
Vladimir Zelensky, presidente da Ucrânia, participa de cerimônia de hasteamento de bandeiras em Izyum, 14 de setembro de 2022
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Já o aumento das importações de armas entre os países da OTAN foi de 65% entre os dois períodos estudados. A tendência de alta tende a se manter no médio prazo, se considerados os programas nacionais de rearmamento em vigor nos países da aliança do Atlântico Norte. Países como a Polônia reforçaram de maneira significativa suas intenções de compra para o futuro próximo, notou o relatório do SIPRI.
De acordo com a vice-coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da UFSC, Graciela De Conti Pagliari, as exportações dos EUA para a Europa devem se manter em alta ao longo de 2023.
"Com o conflito na Europa, a tendência é de que os países europeus se armem mais, buscando fortalecer suas estratégias de defesa. E, com isso, a indústria bélica norte-americana aumentará suas exportações", disse Pagliari à Sputnik Brasil.
O principal fornecedor de armas à Europa são os EUA, que atendem a 56% da demanda, seguidos pela Rússia, com participação de 5,8% e pela Alemanha, com 5,1%.
Presidente dos EUA, Joe Biden, durante entrevista coletiva após cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) em Bruxelas, na Bélgica, em 14 de junho de 2021
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O impacto das transferências de armas dos Estados Unidos para a Ucrânia, no entanto, foi limitado, uma vez que constituem "armamentos menos avançados e sobretudo equipamento militar de segunda mão oriundo dos estoques dos EUA", versa o relatório do SIPRI.
A sede por equipamentos bélicos do velho continente contrasta com a queda nas importações nas demais regiões do mundo. As importações da África sofreram queda de 40%, das Américas de 21% e da Ásia em 8,8%. Até mesmo o Oriente Médio, anteriormente considerado o "barril de pólvora" do mundo, diminuiu suas compras em 8,8%.
Soldado da 378ª Asa Expedicionária da Força Aérea dos EUA treina integrantes da Polícia Real da Força Aérea Saudita, no uso de equipamentos de combate a drones, em base aérea perto de Riad, na Arábia Saudita, 21 de janeiro de 2021
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No entanto, países do Oriente Médio como Arábia Saudita e Catar se mantêm como segundo e terceiro maiores importadores mundiais de armamentos, em função do alto valor de seus pacotes de compras. A Índia segue liderando o ranking mundial de importadores, com compras realizadas principalmente de Rússia, França e EUA.
Principais fornecedores
Os dados do SIPRI ainda revelam que os EUA consolidam sua posição de maior exportador mundial de armas, com aumento de sua participação em 14% entre os períodos de 2013-2017 e 2018-2022. Os principais clientes dos EUA durante o período mais recente foram Arábia Saudita, Japão e Austrália.
A Rússia exportou armas para 47 países e respondeu por 16% do mercado global, o que a mantém como segunda maior fornecedora mundial de armamentos. No entanto, a participação russa no mercado global declinou em 31% entre os dois períodos analisados.
Caça-bombardeiro russo Su-34
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Para Pagliari, o conflito ucraniano leva a Rússia a focar nas suas demandas internas, reduzindo o foco da indústria do país nas exportações.
"[A Rússia] precisa garantir o seu suprimento, uma vez, que, ao que tudo indica, o conflito está longe de finalizar", considerou Pagliari. "Além disso, à Rússia foram impostas sanções em face da guerra que são cada vez mais significativas. Estes fatores ajudam a explicar a queda nas exportações russas."
Clientes fiéis da Rússia como Índia, China e Egito podem não ser o suficiente para conter o avanço da França, que aumenta suas exportações mundiais e se aproxima do segundo lugar no ranking mundial.
"A França tende a se beneficiar [...] da retração das vendas da Rússia", considerou Pagliari. "Por isso ela teve um crescimento exponencial no percentual de vendas, inclusive de armamentos de significativo valor como aviões e navios."
A especialista ainda nota que parte das entregas contratadas à França não são imediatas, e por isso "a tendência é que Paris mantenha um padrão de aumento de suas exportações".
O presidente francês Emmanuel Macron canta o hino nacional após fazer seu discurso de Ano Novo ao exército francês, 20 de janeiro de 2023
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Além da Rússia, as exportações de China e Alemanha sofreram refluxo no período 2018-2022. Mesmo assim, os cinco principais exportadores mundiais de armas – EUA, Rússia, França, China e Alemanha – ainda têm posição destacada, atendendo a 76,4% da demanda total do mercado.
Brasil exportador
O Brasil consta no relatório do SIPRI tanto como país exportador, como importador de armamentos. De acordo com os novos dados, o Brasil foi o segundo maior importador do continente americano, com 16% do total regional.
As importações brasileiras cresceram em 48% no período 2018-2022, quando comparado com o período 2013-2017. Os principais fornecedores da potência sul-americana foram França, Reino Unido e Suécia – país com o qual o Brasil mantém programa de importação de caças.
No entanto, o Brasil também figurou como o 23º maior exportador de armas do mundo, vendendo para parceiros como França, Nigéria e Chile.
De fato, a Indústria de Produtos de Defesa brasileira bateu recorde de exportações em 2021, atingindo US$ 1,7 bilhão (cerca de R$ 8,7 bilhões), um acréscimo de 87,2% em relação ao ano de 2018.
O aumento condiz com as metas da Política Nacional da Base Industrial de Defesa, publicada em agosto de 2022, que prevê as exportações como vetor para o desenvolvimento do setor brasileiro.
A Viatura Blindada de Transporte de Pessoal (VBTP) Guarani, em 19 de outubro de 2016
Dentre os produtos mais vendidos pelo Brasil estão as munições, sistemas de artilharia, material não letal para controle de distúrbios e aeronaves de alto valor agregado produzidas pela Embraer.
Nesta segunda-feira (13), o Instituto Internacional de Pesquisa sobre a Paz de Estocolmo (SIPRI, na sigla em inglês) atualizou seus dados referentes a transferências internacionais de armamentos para incluir o período entre 2018 e 2022. Baseado em Estocolmo, o instituto providencia dados sobre gastos militares, comércio de armamentos, desarmamentos e controle de armas desde 1966.