Não seria lucrativo para os Estados Unidos se o teto de preço do petróleo russo fosse revisado para baixo, já que esse mecanismo também afeta os preços dos produtores norte-americanos, disse o vice-diretor do departamento de Economia dos Setores de Combustíveis e Energia do Centro de Pesquisa Estratégica, Sergei Kolobanov, à Sputnik.
Kolobanov observou que a necessidade do G7 (grupo composto por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido) de se reunir para reavaliar o teto de preço do petróleo russo — que entrou em vigor em 5 de dezembro de 2022 — para determinar se algum reajuste deve ser implementado não deve ser benéfico para os EUA.
"Mesmo antes da imposição do teto, as empresas [russas] conseguiram entrar em novos mercados principalmente por meio do fornecimento de descontos, e esse dumping forçado, que se intensificou depois que o teto foi introduzido tem um efeito descendente sobre os preços globais do petróleo", afirmou ele.
Comprar da Rússia era mais lucrativo do que lidar com custos mais altos de outros fornecedores, explicou Kolobanov.
"Por causa do embargo ocidental ao petróleo russo, o dumping forçado está afetando os preços dos produtores norte-americanos, incluindo empresas petrolíferas americanas e europeias operando em todo o mundo, que atualmente enviam uma parte significativa de suas exportações de petróleo para a Europa", disse o especialista.
Ele acrescentou que a busca por maneiras de transportar petróleo da Rússia que não seja por via marítima — após a proibição da União Europeia (UE) às exportações marítimas — elevou os custos de transporte de matérias-primas no mundo, afetando ainda mais as receitas potenciais dos produtores.
No início de março, a secretária adjunta do Tesouro dos EUA, Elizabeth Rosenberg, disse que os países do G7 pretendiam revisar o preço máximo do petróleo russo no final do mês. Relatos da mídia indicaram que alguns países, como Polônia, Lituânia e Estônia, estão propondo reduzi-lo de US$ 60 para US$ 51,45 por barril. No entanto, alguns meio de comunicação sugeriram que os países do G7, em particular os Estados Unidos, não apoiaram uma mudança no teto do preço do petróleo russo.
Ao mesmo tempo, de acordo com Kolobanov, os países que agora são mais ativamente a favor da redução do teto do preço do petróleo não são Estados produtores de petróleo e suas declarações são "de natureza populista em alto grau".
Depois que a Rússia lançou sua operação militar especial na Ucrânia, o chamado Ocidente coletivo desencadeou uma ampla campanha de sanções contra Moscou. Buscando ativamente maneiras de limitar as receitas relacionadas à energia da Rússia, principalmente de petróleo e gás, a UE impôs um embargo em dezembro de 2022 ao petróleo bruto russo. Então, junto com as nações do G7 e a Austrália, o bloco europeu concordou com um teto de US$ 60 por barril para o petróleo da Rússia, a ser revisado a cada dois meses para que possa permanecer 5% abaixo da referência da Agência Internacional de Energia (AIE).
Depois disso, Bruxelas concordou com a proposta da Comissão Europeia de um teto de US$ 100 (cerca de R$ 527,94) por barril para o diesel russo e US$ 45 (cerca de R$ 237,57) por barril para produtos com desconto, como óleo combustível, com a medida entrando em vigor em 5 de fevereiro de 2023. As sanções autodestrutivas chegaram em um momento de aumento dos preços do diesel, enquanto a Europa luta para garantir importações de fontes alternativas.
Em resposta às restrições, Moscou proibiu o fornecimento de petróleo e derivados russos caso o contrato preveja, direta ou indiretamente, um teto de preço, de acordo com um decreto assinado pelo presidente russo, Vladimir Putin, que também permite a emissão de licenças especiais. No final de dezembro, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, alertou que os tetos de preço do petróleo e do gás russos são inaceitáveis para Moscou e que o país nunca vai concordar com a destruição dos preços de mercado.