Depois que o presidente chinês Xi Jinping visitou a Rússia para se encontrar com o presidente Vladimir Putin em meados de março, houve uma enxurrada de atividades diplomáticas em torno de Pequim. Enquanto Washington olha a potência asiática cada vez mais assertiva através do prisma do antagonismo, designando-a como sua principal concorrente global e uma ameaça à segurança, os líderes europeus foram direto para Pequim.
Recentemente, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, fez uma incursão na China. O chefe de política externa da UE, Josep Borrell, também deve fazer uma visita a Pequim já na próxima semana.
"Hoje, a presidente [da Comissão Europeia] [Ursula] von der Leyen estará em Pequim com o presidente francês [Emmanuel Macron], o primeiro-ministro espanhol [Pedro] Sánchez esteve lá na semana passada e eu também viajarei na próxima semana. Muitos europeus estão indo para a China", disse Borrell a repórteres.
A ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, pode seguir o exemplo em meados de abril.
A viagem de Macron à China representa um ato de retomada de equilíbrio, de acordo com analistas de ambos os lados, já que o líder francês está em uma missão para tentar dissuadir Pequim de apoiar a Rússia, mas sem alienar um parceiro comercial importante e um ator global cada vez mais assertivo. Além disso, a visita ocorre no contexto de mudanças geopolíticas cruciais, quando os EUA elevaram sua rivalidade com a China a novos patamares, enquanto mantêm a Europa, que se recupera da crise energética na medida em que as sanções contra Moscou saíram pela culatra, firmemente sob seu controle.
Macron e von der Leyen parecem determinados a reiterar o compromisso da UE de seguir prontamente a linha conduzida por Washington em relação ao apoio ao regime de Kiev, algo que o líder francês já havia discutido com o chanceler alemão Olaf Scholz, em março. Ambos diziam compartilhar "uma visão comum" para "se envolver com a China a fim de pressionar a Rússia".
"Os presidentes da França e da China manterão amplas discussões sobre a guerra na Ucrânia para trabalhar na restauração da paz e no cumprimento do direito internacional, particularmente a integridade territorial e a soberania da Ucrânia", disse o gabinete do presidente francês em um comunicado antes da visita.
Atualmente, a França tem se esforçado para conter os violentos protestos contra a reforma da previdência, mas Macron parece ansiar pelo papel de ator regional com influência na Ásia-Pacífico, uma região com foco de rivalidade geopolítica, entre Washington e Pequim, especialmente no que tange a questão de Taiwan.
Outra questão premente para ser tratada no encontro, tanto para a França quanto para UE, é a relação comercial com Pequim já que, no ano passado, a China permaneceu como a terceira maior parceira para as exportações do bloco europeu e a maior parceira para as importações da UE. A China foi a sétima maior parceira comercial da França em 2021.
Visitas como a de Macron a Pequim "demonstram a grande importância que os países europeus e as instituições da UE atribuem às suas relações com a China, pois veem a China como um ator importante em questões globais", disse Fu Cong, chefe da missão chinesa à UE, de acordo com a mídia chinesa na segunda-feira. Ele acrescentou que a Europa quer "explorar oportunidades de negócios em um mercado tão grande e próspero".