Uma equipe de pesquisadores a serviço do Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas (Conicet) descobriu o caminho para obter um tipo de célula essencial para gerar uma resposta imune. A descoberta, produzida em laboratório, lança as bases para o desenvolvimento de futuras vacinas, que podem revolucionar a forma de tratamento de pacientes com tumores.
Embora a imunoterapia seja atualmente oferecida a pacientes com câncer, a pesquisa liderada pelos imunologistas Jorge Geffner e Fernando Erra Díaz encontrou uma maneira de obter "células com capacidade maior do que as testadas anteriormente" de "despertar uma resposta imune contra tumores", explicou Díaz à Sputnik. Essas células são chamadas dendríticas.
Segundo o pesquisador, o corpo humano também possui dois tipos de células imunológicas: os linfócitos B e os linfócitos T. Estes últimos precisam de uma célula que lhes apresente proteínas — que podem ser virais, bacterianas ou tumorais. Esse é o papel que os dendríticos desempenham.
A dendrítica é "a única célula capaz de, no tecido tumoral, capturar pequenos pedaços de células tumorais, migrar para os gânglios linfáticos e interagir com os linfócitos T para ativá-los para que possam voltar ao foco inflamatório, ao tumor e atacar o que está nos prejudicando", explicou Erra Díaz.
Avanços e vantagens das descobertas
Ao contrário de estudos anteriores, em que os resultados mostraram que o tumor era capaz de anular a capacidade imunogênica das células dendríticas, as geradas pela equipe de Erra Díaz são "difíceis de domar os tumores". Por isso, o argentino considerou que "poderia ser benéfico pensar na possibilidade de fazer vacinas a partir dessas células".
Especificamente, os pesquisadores descobriram que se eles "bloqueassem conjuntamente dois sensores metabólicos (mTORC1 e PPARg)", eles obteriam um tipo de célula dendrítica derivada de monócitos humanos — um tipo de glóbulo branco responsável pela resposta imune — que tinham "características muito chamativas".
A equipe de Erra Díaz também estudou a exposição de células dendríticas a proteínas de um vírus que causa infecções crônicas. Essas células dendríticas foram carregadas com proteínas derivadas do vírus e depois expostas a células da mesma pessoa. Os resultados laboratoriais foram animadores.
As descobertas da equipe representam avanços nos tratamentos de imunoterapia porque a técnica usada permitiria que um maior número de pessoas gerasse respostas imunes "muito mais robustas" aos tumores, afirmou Erra Díaz.
'Grão de areia' na luta contra o câncer
No entanto, os estudos ainda são preliminares. Até o momento, foram feitos apenas testes em laboratório e a expectativa é que nos próximos meses a pesquisa comece sua próxima fase em testes in vivo, para os quais serão utilizados camundongos. Se fossem bem-sucedidos em modelos pré-clínicos em camundongos, uma etapa que levaria vários anos, os testes em humanos começariam.
Embora Erra Díaz considere que "a imunoterapia é uma ferramenta que dá muita esperança de poder oferecer uma solução para as doenças oncológicas", não descarta que vários tratamentos possam ser combinados para combater o câncer. Além disso, garantiu que as estratégias terapêuticas devem ser desenhadas de forma personalizada para cada paciente.
Os argentinos veem com esperança os resultados alcançados até agora e estimam que, se bem-sucedidas, as vacinas seriam de fácil acesso e poderiam até ser feitas em laboratórios instalados dentro de hospitais e o método não seria caro.
Erra Díaz destacou que, com as recentes descobertas, os pesquisadores acreditam poder "contribuir com um grão de areia a esta odisseia da pesquisa médica contra este importante flagelo que é o câncer".