Na última sexta-feira, surgiu na Internet um novo lote de documentos secretos norte-americanos,
que dizem respeito à Ucrânia, ao Oriente Médio e à China, bem como sobre a luta contra o terrorismo,
segundo o The New York Times. O Departamento de Justiça dos Estados Unidos disse que iniciou uma investigação e está em contato com o Pentágono sobre a questão.
De acordo com o jornal, mais de 100 documentos foram publicados no Twitter e em outras redes sociais. Um deles é datado de 23 de fevereiro e está marcado com um carimbo confidencial — significa que os dados contidos lá não se destinam à transmissão para outros países.
De acordo com funcionários e analistas entrevistados pelo jornal, a escala do vazamento de informações confidenciais pode causar "grandes danos".
Para o presidente da Associação Internacional de Estudos Estratégicos e fundador do serviço de inteligência Global Information System, Gregory Copley, os vazamentos são
prejudiciais ao governo Biden simplesmente porque "destacam o grau de realidade, do que agora está se tornando disponível para o público em todo o mundo".
"O governo Biden tentou retratar isso [o conflito ucraniano] como uma guerra que a Ucrânia poderia vencer com apenas uma pequena ajuda de Washington e dos [Estados] europeus. Isso claramente não é mais o caso. Certamente, o governo Biden tentou retratar a posição russa como sendo de uma grande perda. Portanto, seria insustentável e invencível para Moscou. Isso não é mais visto como o caso", afirma o especialista.
Para o especialista, desde o início da operação militar especial de Moscou, em muitos campos da segurança Ocidental, indivíduos ou instituições relacionadas à inteligência sentiram que a insistência do governo Biden em apoiar a Ucrânia estava sendo feita às custas de mostrar uma face forte e resoluta a Pequim, na tentativa de impedir que Pequim avance para um possível ataque a Taiwan.
Ao mesmo tempo, Copley acredita que a reação da Bloomberg sobre o vazamento por em risco o apoio dos EUA ao regime de Kiev um exagero.
Para Copley, há um apoio cada vez menor para continuar o conflito na Ucrânia. "O apoio vem apenas da Casa Branca e do Departamento de Estado", pontuou ele salientando que dar muito apoio à Ucrânia implica em sacrificar a prontidão militar frente à ameaça que a China representa para os EUA na Ásia-Pacífico, mais precisamente na questão de Taiwan.
Mesmo sem conseguir determinar quem teria vazado tais documentos, Gregory Copley afirma que o desgaste da postura norte-americana não é apenas por conta da China, mas também porque os militares dos Estados Unidos estão cientes de que, ao longo de muitas décadas, a expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) para o Leste e particularmente para incluir a Ucrânia iria atrair uma resposta inevitável de Moscou para impedir isso.
A tese defendida no Ocidente é que a Rússia precisa manter seu acesso através de seus territórios tradicionais até o mar Negro, bem como para o mar Báltico através dos territórios russos do Extremo Oriente, se quiser permanecer uma potência global unificada. "Portanto, a Rússia não pode se dar ao luxo de perder esta guerra. Portanto, lançará todos os recursos precisos pelo tempo que for necessário para garantir que prevaleça nesta guerra contra Kiev", argumentou.
Apesar de reconhecer que o Pentágono não possa falar muito do assunto sem a autorização de Biden, o especialista acredita que o vazamento representa
uma mudança de paradigmas na alta cúpula das Forças Armadas dos EUA e que a intenção por trás dele possa ser despertar "uma discussão muito mais detalhada, complexa e equilibrada" do conflito no Ocidente "sobre a importância ou sua importância relativa".