Em recente artigo publicado no portal Buzos, Lavrov compartilhou reflexões sobre as perspectivas das relações da Rússia com a América Latina e Caribe no atual contexto geopolítico.
"A situação no mundo continua extremamente tensa e em muitos aspectos continua se deteriorando. A principal razão para isso é a insistência do chamado Ocidente histórico – liderado pelos EUA – em manter seu domínio global, impedir o desenvolvimento e a consolidação de novos centros de poder", afirmou o chanceler.
De acordo com ele, os EUA continuam tentando impor uma ordem global unipolar e neocolonial à comunidade internacional, o que, nas palavras do presidente russo Vladimir Putin, significa o mesmo que "cobrar um verdadeiro tributo da Humanidade, extrair uma renda hegemônica".
Lavrov argumenta que diversos povos no mundo já sentiram as consequências da imposição norte-americana nesta antiga lógica hegemônica, tais como Cuba, Venezuela, Iugoslávia, Iraque, Afeganistão, Líbia e Síria.
Mas, para ele, o cenário geopolítico em rápida mudança oferece novas oportunidades para expandir a cooperação mutuamente benéfica entre a Rússia e os países da América Latina, que nas palavras do ministro, "estão desempenhando um papel cada vez mais visível no mundo multipolar".
A cooperação russa com a região latino-americana é baseada em uma abordagem não ideologizada e pragmática, sem se dirigir contra qualquer outro Estado, destaca o chanceler. De acordo com a orientação da política externa do Kremlin, a Rússia não segue a política das velhas metrópoles coloniais.
"Não dividimos os parceiros em 'nossos e deles', não os colocamos diante de um dilema artificial: conosco ou contra nós. Somos pela unidade e diversidade dos países latino-americanos e caribenhos. Na diversidade, eles são fortes, politicamente coesos e economicamente sustentáveis", defendeu Lavrov.
No espírito da associação estratégica, o chanceler destaca as relações com países como o Brasil, Venezuela, Cuba e Nicarágua, os quais a delegação russa vai visitar na segunda quinzena de abril.
"Estamos prontos para desenvolver contatos multifacetados no nível de chefes de Estado e de governo, parlamentos, serviços diplomáticos e outros ministérios e agências. Também estamos abertos a ampliar a cooperação em bases multilaterais, em primeiro lugar no âmbito do diálogo da Rússia com a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos [CELAC]", destacou.
Nos últimos anos, os tratados entre a Rússia e a América Latina e Caribe se expandiram consideravelmente abrangendo um total de 27 Estados da região — atualmente toda a América do Sul e praticamente toda a América Central isentam de visto os cidadãos russos.
Apesar das sanções impostas à Rússia e da pressão política no contexto do conflito ucraniano, as exportações totais para os países latino-americanos e caribenhos cresceram 3,8% em 2022 e os embarques de fertilizantes e derivados de petróleo também aumentaram.
"Tanto a Rússia quanto a América Latina têm suas vantagens competitivas no contexto dos processos objetivos de formação de uma ordem mundial multipolar", afirmou Lavrov que salientou ainda a importância da complementaridade das economias russa e latino-americana.