Dezenas de foguetes foram lançados no norte de Israel a partir do território libanês no dia 6 de abril, levando Israel a retaliar com ataques terrestres e aéreos no enclave palestino da Faixa de Gaza e supostos ativos do Hamas no sul do Líbano. De acordo com a mídia israelense, o bombardeio do Líbano foi o maior desde o conflito militar de 2006 entre os dois países.
Jogo político do Hezbollah
O movimento palestino Hamas, que supostamente foi o responsável pelo recente bombardeio, agiu com a aprovação do Hezbollah, disse a especialista política libanesa no Oriente Médio e Norte da África, Laura Haytayan, à Sputnik.
"Existem pessoas no Líbano que aprovaram a resistência [contra Israel]. A maioria dos libaneses achava que as terras dos países de fato estavam ocupadas por Israel e o Hezbollah foi um dos grupos que lutou até deixar os territórios em 2000, mas o Hezbollah manteve-se sob o pretexto de que ainda havia fazendas a serem libertadas. O grupo costumava ter o apoio da população em geral, mas hoje os libaneses não o veem como um movimento de libertação, mas como uma força política que usa armas para impor sua vontade sobre os libaneses", disse ela.
Haytayan enfatizou que o envolvimento libanês na guerra de Yaser Arafat contra Israel foi uma das causas da Guerra Civil de 1975-1990 no Líbano.
"Nem todos concordam com o lançamento de foguetes do Hamas contra Israel e traz lembranças muito ruins quando depois de 1969 a Liga Árabe aprovou a guerra de Yaser Arafat contra os israelenses de terras libanesas e isso acabou sendo uma das principais causas da guerra civil no Líbano. Isso não é aceitável para muitos libaneses", acrescentou.
Ou guerra por procuração do Irã?
Ao discutir as recentes tensões entre Israel e o Líbano, o especialista político israelense no Departamento de Estudos Políticos da Universidade Bar-Ilan Ramat-Gan, Zeev Khanin, disse à Sputnik que acreditava que o Irã, por meio de seu suposto representante no Líbano, o Hezbollah, queria "sentir se Israel e suas defesas tinham sido enfraquecidos pela crise interna".
Os israelenses protestavam há meses contra as reformas judiciárias propostas no país, que prejudicam e retiram da Suprema Corte a capacidade de julgar leis inconstitucionais e dariam ao governo maiores poderes na seleção de juízes. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, anunciou no final de março uma pausa em suas polêmicas reformas, sucumbindo à crescente pressão após um dos maiores protestos da história de Israel.
Khanin alegou que o Irã poderia ser encorajado pela divisão política interna israelense e pela recente reaproximação saudita-iraniana intermediada pela China em março, após anos de animosidade mútua, dando a Teerã liberdade para se concentrar em "derrotar Israel".
Segundo o especialista, o Irã estaria errado se presumisse que o foco israelense em segurança e proteção foi enfraquecido, destacando que, da perspectiva de Israel, a ameaça iraniana permanece como antes e, portanto, não há espaço para mudar sua abordagem e demandas.
As tensões entre Israel e o grupo militante palestino aumentaram na semana passada depois que as forças de segurança israelenses invadiram a mesquita Al-Aqsa, um dos locais muçulmanos mais sagrados, em Jerusalém na quarta-feira (12), prendendo 350 palestinos e ferindo dezenas. O ataque atraiu protestos do mundo árabe. A Palestina em uma carta aos membros do Conselho de Segurança da ONU (CSNU) destacou que Israel deve ser pressionado para garantir o pleno respeito pelo status quo histórico e legal na mesquita de Al-Aqsa.
A violência na região ocorre em meio ao mês sagrado muçulmano do Ramadã, que coincidiu neste ano com o feriado judaico da Páscoa. O chefe militar israelense, Hertzi Halevi, disse na sexta-feira (7) que Israel vai continuar a usar a força o quanto for necessário, "contra qualquer inimigo e em qualquer arena", independentemente dos feriados ou da crise interna.