Nesta sexta-feira (14), o encontro entre o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e seu homólogo chinês, Xi Jinping, culminou na assinatura de 15 acordos bilaterais, que podem totalizar cerca de R$ 50 bilhões em investimentos da China no Brasil.
O valor foi estimado pelo Ministério da Fazenda brasileiro e inclui as somas previstas para a construção dos satélites CBERS-6, de parcerias público-privadas e investimentos em infraestrutura, resumiu a Folha de São Paulo.
O presidente brasileiro se mostrou satisfeito com os resultados preliminares da visita, mas pediu aproximação para além do setor comercial.
"A compreensão que o meu governo tem da China é a que temos que trabalhar muito para que a relação Brasil-China não seja meramente de interesse comercial", destacou Lula. "Queremos que a relação transcenda a questão comercial."
Apesar das declarações de Lula, um setor fundamental da manutenção da soberania do Estado ficou em segundo plano nessa visita: o setor de Defesa.
Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, a primeira-dama Janja e demais autoridades, durante cerimônia de aposição de coroa de flores no Monumento aos Heróis do Povo, Pequim, China, 14 de abril de 2023
© Foto / Ricardo Stuckert/PR
Apesar de nove ministros de Estado acompanharem Lula na viagem a Xangai e Pequim, o ministro da Defesa, José Múcio, ficou em Brasília. Dos 15 acordos assinados pelos presidentes, nenhum se refere diretamente ao setor militar.
Para o coronel da reserva e mestre em ciências militares, Paulo Roberto da Silva Gomes Filho, existe pressão política para que o Brasil não se aproxime da China nesta seara. No entanto, fatores como distância geográfica e diferenças culturais são obstáculos ainda maiores.
"É inegável que há pressão política, mas esse não é o único elemento que constrange as relações [militares entre Brasil e China]", disse Gomes Filho à Sputnik Brasil. "Mas acredito que a distância geográfica, a língua, a logística são obstáculos maiores do que as questões geopolíticas."
O especialista notou que o Brasil mantém adidos das três forças em sua embaixada em Pequim, gesto que é reciprocado pelo lado chinês. O intercâmbio de oficiais para cursos de formação e capacitação também é constante.
"Os EUA certamente ficariam incomodados se o Brasil aumentasse sua interação militar com a China", considerou o coronel da reserva."Mas não acredito que isso seja um impeditivo, afinal, o Brasil é um país soberano e pode tomar suas decisões."
Por enquanto, empresas chinesas do setor de Defesa marcam presença na LAAD, a maior feira do setor militar da América Latina, realizada no Rio de Janeiro nesta semana. A Embraer também tem a expectativa de fornecer mais 20 aeronaves para a China – ainda que, por enquanto, sejam modelos destinados ao uso civil.
Presidentes da China, Xi Jinping, e do Brasil, Luiz Inácil Lula da Silva, durante encontro oficial no Grande Palácio do Povo, Pequim, China, 14 de abril de 2023
CC BY 2.0 / Palácio do Planalto / Ricardo Stuckert /
Os custos de uma aproximação militar com a China seriam ainda maiores, em função das tensões geopolíticas entre Washington e Pequim no mar do Sul da China e em função de Taiwan.
"Temos uma conjuntura internacional complicada, mas eu não descarto a possibilidade de o Brasil futuramente cooperar mais com a China no âmbito militar", concluiu Gomes Filho.
O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, realiza visita de Estado à China entre os dias 13 e 15 de abril. Durante a visita, Lula cumpriu agenda de trabalho em Xangai e se reuniu com o presidente chinês, Xi Jinping, em Pequim. No dia 15 de abril, o presidente brasileiro segue para os Emirados Árabes Unidos.