Panorama internacional

Paramilitares dizem que tomaram pontos-chave do país, Exército diz que não: o que acontece no Sudão?

O principal grupo paramilitar sudanês e as Forças Armadas trocaram tiros em Cartum e em outras partes do país hoje (15) em uma aparente luta pelo controle que pode mergulhar o Sudão em um conflito generalizado. Vários civis foram mortos e muitos outros ficaram feridos.
Sputnik
No início deste sábado (15), um correspondente da Sputnik informou que tiros podiam ser ouvidos do lado de fora do acampamento militar das Forças de Apoio Rápido do Sudão (RSF, na sigla em inglês) em Cartum.
Em seguida, as RSF disseram que assumiram o controle do Aeroporto Internacional de Cartum, da base aérea de Merowe e do Palácio Republicano do país, a residência presidencial, informou o comando paramilitar.
"As Forças de Apoio Rápido, defendendo-se, infligiram pesadas baixas às forças de ataque e conseguiram tomar o controle do aeroporto e da base em Merowe. Os agressores também foram expulsos do quartel-general do campo de Soba [em Cartum] e o aeroporto de Cartum foi controlado. As Forças de Apoio Rápido do Sudão tomaram o Palácio Republicano", afirmou a RSF em um comunicado.
O grupo paramilitar acrescentou que contatou mediadores internacionais sobre a situação no país, bem como legisladores sudaneses influentes, e afirma que o Exército as atacou primeiro. Ao mesmo tempo, o Serviço de Inteligência Geral do Sudão (GIS) descreveu as ações das RSF como "amotinadas".
Entretanto, o Exército Sudanês disse que continua a manter o Palácio Presidencial e outros lugares estratégicos sob seu controle, apesar das RSF afirmarem o contrário.
"Os nossos militares estão a contrariar as tentativas das Forças de Apoio Rápido de tomar objectos estratégicos, incluindo o Palácio Republicano, o Comando Geral e o quartel-general do Conselho de Soberania", afirmou o Exército Sudanês em comunicado.
Mais tarde, o Exército também comunicou que seus caças estão realizando ataques nas bases das RSF perto da capital Cartum: "A Força Aérea sudanesa está destruindo os acampamentos RSF de Taíba e Soba e perseguindo membros do RSF que tentam se disfarçar entre os civis", diz a nota do Exército.
Médicos disseram que um "número muito grande" de civis foi morto e ferido nos confrontos, que se estenderam a vários bairros residenciais da capital. Eles confirmaram apenas três mortes, pois as pessoas estavam se protegendo de tiros, relata a Reuters.

Escalada

Na quinta-feira (13), o Exército sudanês emitiu uma rara declaração dizendo que o destacamento das RSF em Cartum e em várias cidades era ilegal e ocorreu sem coordenação com as Forças Armadas. De acordo com relatos da mídia, a declaração do Exército foi motivada pela implantação repentina de unidades das RSF perto do aeroporto na cidade de Merowe.
O canal Al-Arabiya relatou que o Exército também havia implantado unidades em Merowe, "no caso de falta de segurança", e que a força deu às RSF um certo tempo para desocupar a cidade.
Porém, o comando paramilitar disse que sua presença em Merowe faz parte de suas tarefas e deveres. Após a declaração, de quinta-feira (13) as tensões foram escalando e culminaram nas trocas de tiro entre o grupo paralimitar e o Exército hoje (15).
Como mencionado, as RSF disseram que o Exército o atacou primeiro, enquanto o Exército afirma que estava lutando contra as RSF em locais que os paramilitares disseram ter tomado. Com versões conflitantes dos eventos dadas pelos dois lados, a situação no terreno não é clara.
Os confrontos seguem tensões crescentes entre o Exército e as RSF sobre a integração das RSF nas Forças Armadas. O desacordo atrasou a assinatura de um acordo apoiado internacionalmente com os partidos políticos sobre a transição para a democracia.
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Repercussão

A Embaixada da Rússia em Cartum expressou neste sábado (15) preocupação com a escalada e pediu aos adversários que cessassem o fogo e negociassem.

"A embaixada expressa sua preocupação com a escalada da violência. Pedimos aos lados sudaneses um cessar-fogo rápido e negociações para estabilizar a situação no Sudão, que é um país amigo nosso. Ao mesmo tempo, pedimos aos cidadãos russos no Sudão para ficarem em casa e manterem a calma", disse a missão diplomática em um comunicado.

A Liga dos Estados Árabes (LAS, na sigla em inglês) disse que o secretário-geral, Ahmed Aboul Gheit, condenou o uso de armas no Sudão e pediu um cessar-fogo imediato. Gheit salientou a necessidade de "travar a escalada e o derramamento de sangue", acrescentando que a organização está disposta a intervir para investigar os acontecimentos no Sudão.
A União Europeia apela igualmente às partes em conflito no Sudão para que ponham fim imediato à violência.
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O Egito pediu "moderação", no início do dia: "A República Árabe do Egito está acompanhando com grande preocupação a situação no Sudão após os confrontos em andamento e pede a todas as partes sudanesas que mostrem a máxima contenção", disse o MRE egípcio em um comunicado.
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse estar profundamente preocupado com a situação que se desenrola no país africano, pedindo a todas as partes que parem a violência imediatamente e evitem uma nova escalada.
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