O Ministério das Relações Exteriores da Rússia convocou os principais diplomatas dos Estados Unidos, Reino Unido e Canadá, nesta terça-feira (18), em conexão com o que Moscou disse ser uma "interferência grosseira dos três países nos assuntos internos da Rússia e atividades que não correspondem" ao status diplomático dos embaixadores.
O ministério não detalhou os motivos da convocação. No entanto, um dia antes, a representante oficial da chancelaria russa, Maria Zakharova, criticou os embaixadores dos três países por comentários feitos em relação à sentença de 25 anos de prisão proferida por um tribunal russo ao jornalista da oposição, Vladimir Kara-Murza, (reconhecido pela Rússia como agente estrangeiro) por "alta traição" e "descredibilização" dos militares russos e por espalhar informações falsas sobre o conflito na Ucrânia.
Kara-Murza, de 41 anos, foi condenado a 25 anos de prisão, multado em 400.000 rublos (cerca de 24 mil reais) e impedido de exercer atividades jornalísticas por sete anos na segunda-feira (17), após ser considerado culpado de alta traição, colaboração com uma organização indesejada e divulgação de notícias falsas sobre militares da Rússia.
Os embaixadores dos EUA, Reino Unido e Canadá compareceram à audiência de segunda-feira, condenando o veredito e exigindo a libertação de Kara-Murza.
O processo contra o jornalista liberal, que tem dupla cidadania — da Rússia e do Reino Unido —, foi iniciado depois que Kara-Murza falou com advogados na Câmara dos Deputados do Arizona em março de 2022. A figura da oposição é conhecida por Moscou por seus laços com falcões norte-americanos, incluindo o falecido senador do Arizona, John McCain. Ele repetidamente pediu por "mudança de regime" na Rússia.
O Tesouro dos EUA impôs sanções aos juízes envolvidos no caso de traição contra Kara-Murza em março.
O pai de Kara-Murza, também chamado Vladimir, trabalhou com o movimento dissidente soviético durante a Guerra Fria e foi contratado pela Radio Free Europe/Radio Liberty — uma rede de propaganda financiada pelos EUA. Seu tio, Sergei Kara-Murza, é um importante historiador, sociólogo e publicitário russo que não concorda com as opiniões liberais e pró-Ocidente de seus familiares.