Caças F-16 norte-americanos 'podem não durar muito' se forem entregues à Ucrânia

Em meio ao clamor do regime de Kiev por mais entregas de armas do Ocidente, particularmente caças, em fevereiro, o presidente dos EUA, Joe Biden, disse que os caças F-16 que a Ucrânia estava procurando estavam fora de questão "por enquanto".
Sputnik
Se Kiev finalmente conseguir os caças norte-americanos F-16, eles "podem não durar muito", acredita o analista de guerra aérea do instituto de pesquisa Royal United Service do Reino Unido (RUSI, na sigla em inglês), Justin Bronk.
Também apelidado de Fighting Falcon, o caça multimissão F-16 da General Dynamics requer bases aéreas e pistas de pouso especialmente preparadas — algo em que a Ucrânia precisaria trabalhar. A maioria dos aeródromos ucranianos são "muito curtos" e "austeros" para permitir a utilização segura de um F-16 totalmente carregado, disse Bronk, citado pelo podcast Geopolitics Decanted (Decantando a geopolítica).
"Você teria que empregar muito trabalho para deixar aquelas pistas ucranianas e antigas de padrão soviético em um estado limpo o suficiente para usar um F-16 sem alto risco de detritos de objetos estranhos entrarem e danificarem os motores", disse ele.
Existem várias razões pelas quais os jatos F-16 requerem aeródromos específicos. Em primeiro lugar, os F-16 têm trem de pouso "razoavelmente leve", de modo que "não há mais peso no jato do que o necessário". O caça multifuncional compacto e manobrável se distingue por sua grande entrada de ar sob o nariz que "suga tudo do solo diretamente para ele", continuou o especialista, acrescentando que "os F-16 normalmente exigem bases aéreas muito limpas, muito bem conservadas".
Assim, se os EUA finalmente decidissem entregar seus caças F-16 para a Ucrânia, as autoridades de Kiev enfrentariam um extenso trabalho envolvendo recapeamento das pistas existentes, extensão das pistas de pouso etc.
Mas o fato é que todo esse trabalho de manutenção e modificação pode ser "altamente visível" para os satélites da Rússia. Embora as bases aéreas ucranianas não tenham sido alvo da Rússia no curso de sua operação militar especial até agora, porque o poder aéreo de Kiev "não representa uma ameaça massiva", esclareceu Bronk, se o trabalho começar lá para acomodar caças de fabricação ocidental, essa abordagem seria mudada drasticamente.
"Todas as bases aéreas da Ucrânia estão ao alcance dos mísseis balísticos e de cruzeiro da Rússia", disse o analista de guerra aérea no podcast.
Ele resumiu dizendo que os mísseis da Rússia facilitariam o trabalho de destruir qualquer frota ucraniana de F-16.
Desde que a Rússia lançou sua operação militar especial na Ucrânia no ano passado, o regime de Kiev tem exigido incessantemente que, além das já vastas quantidades de armas entregues a ela, os países ocidentais doem seus caças para substituir a frota cada vez menor de MiG-29 e caças Su-27 da era soviética.
Até agora, os países ocidentais relutaram em enviar jatos, com exceção dos membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), Polônia e Eslováquia. Esses dois prometeram a Kiev alguns MiG-29 mais antigos com os quais os pilotos e mecânicos ucranianos estão familiarizados.
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Anteriormente, o diretor-executivo do Instituto Mitchell para Estudos Aeroespaciais, Douglas Birkey, foi citado ao dizer que com os recentes "vazamentos do Pentágono", as avaliações da inteligência dos EUA sugeriam que a Ucrânia estava ficando sem mísseis terra-ar e a Rússia estava prestes a ganhar superioridade de espaço aéreo.
Após a promessa de Berlim e Washington de fornecer aos militares ucranianos os principais tanques de batalha Leopard e Abrams em janeiro de 2023, alguns altos funcionários de Kiev começaram a pedir ao governo Biden que fosse ainda mais longe e enviasse aviões de combate F-16 para a Ucrânia. Alguns legisladores dos EUA, de ambos os partidos, aderiram a esses apelos insistindo que os caças fabricados nos Estados Unidos "poderiam ser decisivos para o controle do espaço aéreo ucraniano neste ano" em uma carta enviada a Biden no dia 16 de fevereiro.
No entanto, o presidente dos EUA, Joe Biden, descartou repetidamente o envio de caças F-16 para Kiev. Falando a uma emissora norte-americana no dia 24 de fevereiro de 2023, Biden disse que o presidente ucraniano Vladimir Zelensky "não precisa de F-16 agora", acrescentando que "não há base para que haja uma justificativa" para fazer isso. Ao mesmo tempo, porém, o presidente dos EUA deixou claro que isso não significa "nunca".
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Um democrata de alto escalão no Comitê de Serviços Armados da Câmara, Adam Smith, disse em fevereiro que o painel concluiu que não seria um uso inteligente dos recursos enviar F-16 para a Ucrânia.
"Nós consideramos esse pedido. [...] Nós olhamos para isso e determinamos que não é um uso sábio dos recursos necessários para vencer o conflito."
Smith também observou que levaria um tempo considerável e custaria uma quantia significativa para entregar os F-16 para a Ucrânia, treinar pilotos e mecânicos, criar campos aéreos para acomodar a aeronave e fornecer as peças de reposição necessárias para mantê-los operando. Os caças de quarta geração também "lutariam para sobreviver" no campo de batalha contra a Rússia, disse Smith.
Moscou alertou repetidamente que a ajuda militar dos EUA e de seus aliados a Kiev está apenas prolongando o conflito ucraniano. O Ministério das Relações Exteriores da Rússia destacou que os países da OTAN "brincam com fogo" fornecendo armas a Kiev e que qualquer comboio de armas para a Ucrânia vai se tornar um alvo legítimo para as forças russas.
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