Se Pequim abandonar o dólar americano em acordos comerciais, os Estados Unidos vão enfrentar consequências "duras", alertou uma agência de notícias chinesa.
Ressaltando que uma "nova ordem comercial está surgindo", o artigo destaca a tendência global de desdolarização abrindo caminho para a moeda chinesa, o yuan. Como a República Popular da China ostenta o status de um dos maiores países comerciais do mundo, se Washington optar por "se separar" da China, isso pode desencadear um efeito dominó, com cada vez mais países preferindo negociar com a China usando o yuan como um moeda de troca.
"Somos a favor da redução do risco e da diversificação, não procurando dissociar", disse o conselheiro de segurança nacional dos EUA, Jake Sullivan, na Brookings Institution no final de abril, em referência à economia da China.
No entanto, de acordo com a mídia, as importações de bens de consumo pelos EUA caíram 20,6% em relação ao ano anterior nos primeiros três meses deste ano. Se a tendência de queda continuar, por sua vez, "acelerará a tendência global de desdolarização", alertou a publicação. Enquanto isso, a participação do yuan nos pagamentos transfronteiriços da China disparou para 48% em março, mostraram dados citados pela matéria.
De fato, a desdolarização está se tornando uma tendência, já que a moeda de reserva mundial está perdendo rapidamente seu brilho. Moscou adotou o yuan como moeda de reserva, ao mesmo tempo em que se comprometeu a usar o meio de pagamento chinês "entre a Rússia e os países da Ásia, África e América Latina". A China e o Brasil fecharam recentemente um acordo para realizar transações comerciais e financeiras diretamente, trocando yuans por reais.
Um número crescente de países, especialmente no Sul Global, está se separando do dólar americano por vários motivos. Isso inclui a política agressiva de sanções dos EUA contra países que ele destaca para esse fim. Sanções à Rússia, incluindo o congelamento de reservas do Banco Central no exterior, e sua retirada do sistema SWIFT, juntamente com restrições impostas às indústrias chinesas, foram um alerta para muitos países em desenvolvimento, com a queda na demanda por dólares em transações internacionais. Outros fatores foram a crescente dívida pública dos Estados Unidos, a volatilidade do dólar, uma série de falências de bancos norte-americanos e, mais recentemente, a disputa sobre o teto da dívida americana. Tudo isso tem corroído a confiança no dólar. Os aumentos agressivos das taxas de juros pelo Federal Reserve (Fed) dos EUA tornaram os empréstimos em dólares caros em escala global.
A diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, alertou em janeiro de 2022 que o aumento das taxas de juros dos EUA poderia sair pela culatra na economia global e especialmente em países com níveis mais altos de dívida denominada em dólar. Este ano, Georgieva admitiu que está ocorrendo uma mudança em relação ao dólar americano, embora não haja "alternativa ao dólar" como moeda de reserva mundial no futuro previsível, argumentou a autoridade.