Panorama internacional

Mais uma preocupação para Taiwan: maior fabricante de microchips do mundo perde investidores

Dada a conturbada situação da região, a ilha enfrenta um novo perigo capaz de minar o pilar crucial da sua economia e trazer consequências funestas. A Sputnik discutiu os detalhes do evento com um especialista.
Sputnik

O que aconteceu?

A Empresa de Fabricação de Semicondutores de Taiwan Limitada (TSMC, na sigla em inglês) representa um elo crucial na economia da ilha. No entanto, nem mesmo esse status no mercado mundial impediu o famoso investidor norte-americano, Warren Buffett, dono da Berkshire Hathaway, de finalmente vender todas as ações da empresa.
Nos últimos meses, o agravamento da tensão em torno de Taiwan representa um dos principais motivos de preocupação em todo o mundo. Como o próprio bilionário admitiu em uma reunião com investidores neste mês, a decisão foi ditada exatamente por essa preocupação.
Esta venda de ações da TSMC por Buffett parece um sinal perturbador para todo o setor de chips e para a indústria global de semicondutores.

Por que a decisão de Buffett está atraindo tanta atenção?

A fama internacional de Buffett como um dos investidores mais bem-sucedidos do ramo chegou até ele graças ao seu talento para fazer investimentos excepcionais de longo prazo. Por exemplo, a Berkshire Hathaway possui cerca de 50 empresas em seu portfólio, como Apple, Bank of America, Chevron, Coca-Cola e American Express liderando o caminho.
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Buffett comprou ações da TSMC no final de setembro do ano passado. O valor de mercado de 60,06 milhões de ações chegou então a cerca de US$ 4,12 bilhões (cerca de R$ 20,9 bilhões), mas no quarto trimestre de 2022, o investidor norte-americano mudou de ideia e se livrou de 86% das ações. Este mês, Buffett vendeu o restante.
Portanto, a forte venda de ações da fabricante taiwanesa de microchips causou razoável preocupação entre os acionistas. Principalmente depois que Buffett motivou sua decisão pela "localização geográfica" da ilha.
"Tenho mais confiança no capital que colocamos no Japão do que em Taiwan. Gostaria que fosse diferente, mas acho que essa é a realidade", disse Buffett à mídia taiwanesa.

O que acontece no mercado global?

O professor associado da Universidade de Finanças e Economia de Shanxi, Li Kai, disse à Sputnik que as declarações de figuras políticas mundiais hoje têm uma influência direta no valor das empresas para o investidor.
No que diz respeito a Taiwan, a visita da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, à ilha e as correspondentes reações da China, incluindo manobras militares, têm sido um ponto importante nos últimos acontecimentos. Levando em consideração o curso da escalada das hostilidades na Ucrânia até a crise total, há uma percepção na comunidade internacional de que o conflito em torno de Taiwan pode se agravar ainda mais e até levar a um confronto armado.
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É importante ressaltar que esses sentimentos estão sendo aquecidos não apenas pela mídia ocidental, mas também pelos fornecedores de armas, bem como pelo complexo militar-industrial dos EUA, que estão aproveitando a oportunidade para expandir suas vendas. Portanto, Li Kai tem certeza de que foi o ambiente político que influenciou a decisão de Buffett, rejeitando assim o fator desempenho econômico da empresa.
"Isso sugere que os riscos geopolíticos estão realmente afetando o valor de investimento das empresas, especialmente quando você ouve opiniões de que as fábricas da TSMC serão explodidas em caso de guerra", explicou o especialista.
Segundo o seu ponto de vista, estes sinais evidenciam a deterioração do clima de investimento em Taiwan, o que, a longo prazo, poderá afetar gravemente a economia da ilha.

Antiglobalização em movimento

Da mesma forma, Li Kai indicou que a crescente competitividade entre Pequim e Washington afeta os processos de globalização que mudam sua direção para a decomposição. O especialista enfatizou que o mundo "aderiu à tendência antiglobalização", que pode finalmente dividir as cadeias de suprimentos globais em duas: uma da China e outra dos EUA e da Europa.
"Cada vez mais os investidores internacionais estão incorporando fatores geopolíticos ao avaliar as vantagens de determinados investimentos. Acredito que a geopolítica continuará influenciando as decisões dos investidores por muito tempo", concluiu o especialista.

China se prepara para tomar a iniciativa

A China está lutando por total autonomia no setor de semicondutores, antecipando possíveis barreiras, inclusive dos EUA. No país há um aumento do investimento estatal, o governo já destinou mais de ¥ 12,1 milhões (cerca de R$ 8,5 milhões) em subsídios a 190 empresas locais que operam neste ramo.
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Por exemplo, no dia 16 de maio, o Escritório Nacional de Estatísticas da China relatou um aumento de 3,8% na produção de chips. A empresa Huawei, que foi retirada da lista de clientes pela TSMC na primavera de 2020, durante esses três anos criou seu próprio conjunto de ferramentas para o design de processadores sem tecnologia estrangeira e pretende compartilhar seu desenvolvimento com o restante dos players do setor de computação chineses envolvidos no projeto de microchips.
Ao mesmo tempo, no mês de abril, o presidente do conselho de administração da maior fabricante mundial de chips móveis, a MediaTek de Taiwan, Rick Tsai, manifestou preocupação com os processos ocorridos no âmbito do seu trabalho. Ele afirmou que se o governo de Taiwan não tomar medidas adicionais para desenvolver o setor de Tecnologia da Informação (TI), a ilha vai perder rapidamente uma parte significativa do mercado mundial.
Rick Tsai também enfatizou que a crescente influência da China no mercado global de chips ameaça não apenas a indústria de semicondutores da ilha, mas também as pessoas empregadas nela. No início de 2023, apenas o setor era responsável por empregar cerca de 52.000 pessoas.
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