O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi um dos convidados da Cúpula de Líderes do G7 (grupo composto por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido), realizada na cidade japonesa de Hiroshima, juntamente com Austrália, Coreia do Sul, Vietnã, Índia, Indonésia, Comores e Ilhas Cook, representando economias em desenvolvimento.
O Brasil tornou-se, assim, o único país latino-americano convidado para a cúpula. O país, que sucedeu a participação da Argentina — protagonista da edição realizada na Alemanha em 2022, voltou ao fórum em um novo contexto. Em diálogo com a Sputnik, o cientista político brasileiro, Emir Sader, garantiu que o retorno do Brasil ao G7 é "uma situação muito especial" porque o país latino-americano não havia sido convidado desde que Lula deixou a Presidência.
O especialista afirmou que os membros do G7 "tornaram-se de alguma forma um grupo de países mais fechados entre si". Por outro lado, considerou que outro grupo de países, entre os quais citou a Rússia, a China e o Brasil, "tornaram-se mais fortes".
Sader alertou que, desde a última intervenção do Brasil no fórum, "houve uma mudança" porque "naquela época os Estados Unidos ainda eram a única potência hegemônica do mundo". Hoje, no entanto, o BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) está assumindo um papel maior na arena internacional.
"O declínio da hegemonia dos EUA se intensificou e aqueles que defendem um mundo multipolar se fortaleceram", alertou o especialista.
O presidente brasileiro se reuniu no Japão com "um grupo muito seleto, conservador, com posições já consolidadas", e por essa razão as intervenções de Lula podem ser consideradas "críticas" ao consenso adotado pelos membros da bancada política do fórum.
Consenso e desenvolvimento econômico
O discurso do líder do Partido dos Trabalhadores (PT) girou em torno do desenvolvimento econômico mundial, onde questionou o protecionismo dos países ricos, alertou para novas emergências mundiais e exigiu um novo tratamento para a dívida externa, com foco no social, pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Nesse sentido, o presidente se referiu principalmente ao endividamento que a Argentina atravessa.
Sader explicou que Lula aposta na flexibilização do pagamento da dívida do FMI, principalmente com a Argentina. O presidente brasileiro já havia anunciado que seu governo conversaria com o FMI "para tirar a faca do pescoço da Argentina" no marco da visita de seu homólogo argentino no início de maio.
Alinhado aos objetivos de seu governo, Lula destacou a importância do cuidado com o meio ambiente e a transição ecológica e energética e insistiu que o combate à desigualdade deve estar no centro da agenda internacional.
Da mesma forma, o líder apelou à união e garantiu que "nenhum país conseguirá enfrentar isoladamente as ameaças sistêmicas de hoje", então "a solução não está na formação de blocos antagônicos ou de respostas que contemplem apenas um pequeno número de países".
Unidade e representatividade internacional
O presidente anunciou que a transição para uma ordem multipolar "exigirá mudanças profundas nas instituições". Além disso, reivindicou o papel do G20 (fórum intergovernamental mais amplo constituído por 20 países, dentre eles Rússia, China e México) como o "principal espaço de coordenação econômica internacional" por sua maior representatividade.
Em seu discurso, o presidente defendeu a paz e exigiu uma reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU) que incluísse novos membros permanentes.
Aumentar o número de membros efetivos do conselho "é uma proposta histórica para o Brasil", lembrou Sader, que acrescentou que o pedido constitui "uma reivindicação histórica que sempre foi adiada". De fato, o presidente tem insistido nesse ponto em seus mandatos anteriores (2003-2011), buscando novos países em desenvolvimento para serem considerados no Conselho.
Lula como intermediário
O especialista observou que o presidente Lula "foi quase o único, junto com a China, que se propôs a intermediar uma solução de paz para o conflito na Ucrânia". Nesse sentido, o presidente brasileiro havia planejado um encontro com seu homólogo ucraniano, Vladimir Zelensky, no Japão, mas o encontro não se concretizou.
"A mídia diz que Lula rejeitou Zelensky, Lula respondeu que não, que até deram três horários possíveis e que devido às suas atividades, Zelensky não apareceu", explicou Sader, acrescentando que o presidente brasileiro "quer saber qual é a proposta" do presidente ucraniano.
O líder brasileiro tem insistido na criação de um Clube da Paz e na mediação da China para defender a paz na Ucrânia. No entanto, ele garantiu recentemente que "nem Putin nem Zelensky estão falando sobre paz no momento".