O conflito por procuração entre a OTAN e a Rússia na Ucrânia demonstrou a importância dos drones na guerra moderna, sendo eles usados por ambos os lados para reconhecimento, seleção de alvos e ataques kamikaze. Quais são os quatro principais tipos de defesas antidrone? Quais são as vantagens e desvantagens de cada uma? A Sputnik explora as respostas.
História breve dos drones
Em 1997, no último episódio da oitava temporada d'"Os Simpsons", ocorreu um diálogo feito à partida com intenção de humor, mas com uma previsão altamente exata:
"As guerras do futuro não serão travadas em um campo de batalha ou no mar. Elas serão travadas no espaço ou, possivelmente, no topo de uma montanha muito alta. Em ambos os casos, a maior parte da luta real será feita por pequenos robôs e, quando você sair hoje, lembre-se sempre, seu dever é claro: construir e manter esses robôs."
Um quarto de século depois, a ideia de usar drones em guerras se tornou onipresente.
Embora drones de reconhecimento pequenos, com hélices e foguetes, equipados com câmeras de filme, existam desde a Guerra Fria, a guerra moderna com drones, incluindo drones de espionagem e ataque equipados com GPS, montados com câmeras e operados remotamente, é um produto do início do século XXI, com os EUA dando início à primeira campanha mundial de assassinatos seletivos usando VANT em 2002.
À medida que drones pequenos, baratos e prontos para uso começaram a entrar no mercado comercial na década de 2010, eles começaram a ser usados por agentes não estatais para atacar Exércitos e governos, com terroristas apoiados pelos EUA os usando na Síria contra as forças de Damasco e Moscou, e os militantes houthis do Iêmen os aplicando contra a coalizão liderada pela Arábia Saudita.
Drones durante a operação especial
A Rússia tem se contraposto aos modelos usados pelas forças de Kiev apoiadas pela OTAN usando uma série de sistemas de defesa contra drones desenvolvidos internamente. Em abril Andrei Demin, comandante da Força de Defesa Aérea da Rússia, em declarações à revista russa Krasnaya Zvezda, informou que mais de 100 drones Bayraktar foram destruídos em combates na Ucrânia.
Contra drones grandes, incluindo na sua detecção e destruição, é possível usar os mesmos sistemas de monitoramento e ataque usados contra aeronaves tradicionais.
Quanto à dificuldade de detectar VANT menores, os militares russos desenvolveram o RLK-MT Valdai, um sistema de defesa aérea especial, que inclui um radar projetado especificamente para detectar, suprimir e neutralizar pequenos drones até 15 km de distância, incluindo através de guerra eletrônica a distâncias de até 2 km. O veículo pode ser operado remotamente.
Lasers e outros drones seriam eficazes?
Os lasers têm várias vantagens claras em relação aos mísseis de defesa aérea convencionais, entre as quais o seu baixo custo. As autoridades israelenses se gabaram, por exemplo, de que o novo sistema de defesa antiaérea Feixe de Ferro, baseado em laser, usa apenas US$ 2 (R$ 10) de eletricidade, ou seja, 10.000 a 50.000 vezes menos do que os mísseis Cúpula de Ferro convencionais.
As desvantagens dos lasers incluem a necessidade de garantir grandes quantidades de eletricidade, o que limita sua mobilidade, além de problemas para operar em determinadas condições climáticas, incluindo neblina e nuvens.
Em 2022 Yuri Borisov, ex-vice-premiê russo responsável pela defesa e pelo setor espacial, que mais tarde foi nomeado chefe da agência espacial russa Roscosmos, revelou que os militares russos testaram um sistema misterioso de laser de combate conhecido como Zadira, capaz de incinerar drones em segundos a distâncias de até 5 km na Ucrânia.
A Rússia não é o único país que está experimentando o uso de armas a laser para a guerra antidrone, já que os EUA e Israel também estão trabalhando em tais armas.
Sistemas como o drone suicida multiuso ZALA Lancet também são capazes de atingir VANT inimigos, e seus desenvolvedores criaram um conceito apelidado de "mineração aérea" por seus projetores, que envolve a implantação de um grande número de modelos Lancet na vanguarda como proteção contra incursões de drones de ataque pesado.
Resultados da guerra antidrone da Rússia
Desde que a Rússia iniciou a operação militar especial na Ucrânia, ela fez muitas das mudanças difíceis, mas necessárias, de forma a dar ao Exército o equipamento necessário para uma guerra de drones eficaz.
Na semana passada, uma avaliação de inteligência não classificada do Ministério da Defesa do Reino Unido concluiu que os militares russos integraram com sucesso o reconhecimento de drones em operações que envolviam ataques com mísseis de longo alcance no interior da Ucrânia.
Também na semana passada, um relatório separado do Instituto Real de Serviços Conjuntos (RUSI, na sigla em inglês) do Reino Unido calculou que a Rússia tem usado recursos de guerra eletrônica para destruir mais de 10.000 drones ucranianos por mês. De acordo com a avaliação, a Rússia mantém "um grande sistema de guerra eletrônica aproximadamente a cada 9,6 km" ao longo de toda a linha de frente de 1.200 km.
Essas declarações são refletidas nas reclamações de um funcionário do Ministério da Defesa da Ucrânia, que contou em março ao jornal britânico The Economist que as forças russas obtiveram recursos de "magia negra" contra o vasto arsenal de drones ucranianos fornecidos pela OTAN, incluindo a capacidade de "bloquear frequências, falsificar o GPS e enviar um drone para a altitude errada para que ele simplesmente caia do céu".