Panorama internacional

Guerra no espaço já começou, mas Brasil tem capacidades limitadas, diz coronel da reserva

General do Comando Espacial norte-americano declarou que os EUA estão prontos para lutar "já esta noite" no espaço. Para o coronel da reserva da FAB Carlos Eduardo Valle Rosa, ouvido pela Sputnik Brasil, a guerra no espaço já é uma realidade e o Brasil não está entre os países melhores posicionados para lidar com ela.
Sputnik
Nesta terça-feira (30), o brigadeiro-general norte-americano Jesse Morehouse, membro do Comando Espacial dos EUA, disse que seu país está pronto para lutar no espaço sideral "já esta noite" para conter a Rússia e a China.
"Os EUA estão prontos para lutar já esta noite no espaço, se for necessário", disse Morehouse a repórteres em entrevista coletiva na embaixada dos EUA em Londres. "Se alguém ameaçar os EUA, ou qualquer um de nossos interesses, incluindo os de nossos aliados e parceiros com quem temos tratado de apoio mútuo de defesa, estamos prontos para lutar já esta noite."
O militar norte-americano ainda afirmou que seu país vai desenvolver todas as capacidades necessárias para manter uma posição de dissuasão efetiva, reportou o jornal The Guardian.
A United Launch Alliance lança o foguete Atlas V com o satélite SBIRS GEO 5 na estação da Força Espacial dos EUA em Cabo Canaveral, na Flórida
De acordo com o coronel da reserva da Força Aérea brasileira Carlos Eduardo Valle Rosa, o uso do espaço sideral para fins militares já é uma realidade.

"Eles [os norte-americanos] não tentam esconder que o espaço já é um domínio da guerra, como o domínio cibernético e eletromagnético", disse Valle Rosa à Sputnik Brasil. "São domínios de guerra da mesma forma que a terra, o mar e o ar, a partir do advento do avião."

O coronel da reserva conversou com a Sputnik Brasil em sua capacidade de professor permanente do programa de pós-graduação em ciências aeroespaciais da Universidade da Força Aérea, e, portanto, suas declarações não refletem necessariamente o posicionamento oficial da Força Aérea Brasileira (FAB).
"A guerra cibernética é concreta, assim como a guerra eletrônica, que inclusive vem sendo utilizada no conflito na Ucrânia", disse o coronel da reserva.
Segundo ele, as capacidades de guerra espacial são majoritariamente ofensivas e os países melhor preparados para este teatro atualmente são os EUA, Rússia, China e Índia.
A Organização de Pesquisa Espacial Indiana (ISRO, na sigla em inglês) lança o satélite PSLV-C55/TeLEOS-2 do Centro Espacial Satish Dhawan em Sriharikota, Andhra Pradesh, Índia, 22 de abril de 2023
Além deste grupo, países como Austrália, França, Japão, Irã, Coreia do Sul, Coreia do Norte e Reino Unido também "expressam preocupação e vontade de desenvolver capacidades desse tipo".

"Este tipo de conflito não se refere necessariamente a uma guerra fisicamente no espaço. A maior parte das capacidades militares para essa guerra no espaço é desenvolvida e utilizada a partir da superfície", explicou Valle Rosa. "Equipamentos que interferem no funcionamento de satélites, por exemplo, são mobilizados em terra."

Portanto, um país não precisa necessariamente ter um programa espacial bem desenvolvido para obter capacidades típicas da guerra espacial, disse Valle Rosa.
O Brasil não está entre os principais atores deste novo domínio da guerra. De acordo com o coronel, o Brasil não coaduna com o uso do espaço para fins militares e atua em órgãos internacionais para regular a atividade.
Na Base de Alcântara, no estado brasileiro do Maranhão, oficiais da Força Aérea brasileira observam a torra o Centro de Lançamento de Satélites local, em 14 de setembro de 2018
"A nossa política para o espaço é pacífica [...] focada em trazer do espaço produtos e serviços que tenham impacto socioeconômico, como nas áreas de telecomunicação, banda larga e monitoramento", ressaltou Valle Rosa.
O principal desafio do país é retomar o seu projeto de desenvolvimento de foguetes, severamente prejudicado pela explosão do Veículo Lançador de Satélites (VLS), na base de Alcântara, em 2003, "que vitimou muitos de nossos técnicos qualificados".

"Estamos progressivamente voltando às capacidades do VLS, inclusive com testes bem-sucedidos", comemorou Valle Rosa. "Mas nossos recursos são limitados, por isso não haverá um desenvolvimento rápido como nos casos de EUA, China ou Rússia."

O coronel ainda lembra que o Brasil não tem grande percepção de ameaças provenientes do espaço, já que "nossas capacidades ainda são limitadas".
Na província de Shanxi, na China, um satélite desenvolvido em conjunto por cientistas chineses e brasileiros é lançado, em 21 de outubro de 2003
"Temos poucos satélites militares, o número cabe na palma da mão", notou Valle Rosa. "A maioria dos nossos satélites tem função dual, isto é, cumprem funções tanto civis, quanto militares".
Não obstante, o Brasil tem interesse na regulação do uso do espaço sideral para evitar o acúmulo de detritos espaciais, oriundos tanto da atividade econômica, quanto militar.
"Testes cinéticos, que destroem satélites, geram lixo espacial que afeta todo o mundo", alertou Valle Rosa. "Caso os detritos se multipliquem, poderemos inviabilizar o uso do espaço sideral para conduzir atividades básicas de telecomunicação e pesquisa."
Os riscos da guerra espacial, no entanto, não devem ofuscar o fato de que ela é uma realidade sobre a qual o Brasil deverá se adequar.
"Os programas espaciais de países como os EUA, Rússia e China estão voltando suas atenções para a instalação de bases habitáveis na Lua, como um trampolim para alcançar Marte. Não é uma ficção, é a nova realidade", concluiu o coronel.
Nesta terça-feira (30) o representante do Comando Espacial dos EUA, brigadeiro-general norte-americano Jesse Morehouse, declarou durante entrevista coletiva na embaixada dos EUA em Londres que seu país está pronto para se engajar em conflitos no domínio espacial, após ter desenvolvido capacidades antissatélite para conter a Rússia e a China.
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