Os Estados-membros do BRICS foram informados sobre o uso potencial de moedas alternativas para proteger o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) do grupo do impacto das sanções.
A questão encabeçou a agenda da reunião ministerial do BRICS na Cidade do Cabo, na África do Sul, na quinta-feira (1º), quando os participantes discutiram como o bloco poderia ganhar maior influência global e desafiar os Estados Unidos.
Os chanceleres do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul também discutiram os planos de admissão de novos integrantes na organização. A mais alta diplomata sul-africana, Naledi Pandor, destacou que é preciso mais trabalho para viabilizar essa admissão, manifestando esperança de que um relatório relevante esteja pronto até agosto, quando vai ocorrer a cúpula do BRICS.
O vice-ministro das Relações Exteriores da China, Ma Zhaoxu, por sua vez, deixou claro que seu país estava feliz com a possibilidade de mais países ingressarem no BRICS, pois isso expandiria a influência do bloco e lhe daria mais poder para servir aos interesses dos países em desenvolvimento.
Para o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, o BRICS é uma nova organização baseada nos princípios da Carta da ONU em todos os seus aspectos e relações, e que isto "simboliza a evolução do mundo multipolar, que está sendo discutida cada vez com mais frequência" diante dos interesses de uma série de países em ingressar no bloco.
BRICS e a desdolarização
A ministra das Relações Exteriores da África do Sul, Naledi Pandor, dizendo no início deste mês que em meio a um crescente coro de vozes levantando a necessidade de usar alternativas ao dólar no comércio global, os Estados-membros do BRICS devem continuar a discutir a introdução de uma moeda comum.
O vice-presidente da Duma da Rússia, Aleksandr Babakov, disse que no caso de uma moeda única emergir no BRICS, ela poderia ser lastreada não apenas pelo ouro, mas também por outros grupos de produtos, como elementos e terras raras.
Diante das incertezas financeiras globais levantadas por Washington, quer seja pela adoção de sanções unilaterais à Rússia pelo conflito ucraniano — o que inclui o congelamento de ativos russos no exterior — quer seja pela fragilidade de seu sistema de crédito que novamente tem quebrado bancos nos EUA, ou ainda pelo tamanho de sua dívida pública e o risco de uma recessão econômica, Lavrov lembrou as palavras do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a questão.
"Por que uma instituição como o banco do BRICS não pode ter uma moeda para financiar as relações comerciais entre o Brasil e a China, entre o Brasil e todos os outros países do BRICS?", questionou Lula durante uma visita ao NBD, com sede em Xangai.
"A participação das moedas nacionais nos acordos entre os países do BRICS já está crescendo rapidamente. Os países do BRICS têm iniciativas que atendem à necessidade de trabalhar na criação de sua própria moeda. A razão é muito simples: não podemos contar com mecanismos que estão nas mãos daqueles que podem trapacear a qualquer momento e se recusar a cumprir suas obrigações", disse Lavrov a repórteres.
Nesse sentido, o especialista russo Mikhail Khazin disse à Sputnik que o processo "inevitável" de desdolarização foi facilitado pelas amplas sanções de Washington contra os principais atores globais, incluindo a Rússia, e o uso do dólar como mecanismo de "punição".
Ao congelar os ativos do Banco Central da Rússia, separando a nação da Sociedade para as Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais (SWIFT, na sigla em inglês) e proibindo as exportações de cédulas denominadas em dólares americanos para o país, Washington enviou um sinal sinistro a outros atores mundiais, destacou Khazin.