Panorama internacional

'Fora de si', diz analista sobre sugestão do ex-chefe da OTAN de enviar tropas para a Ucrânia

Se a Polônia ou outros países do Leste Europeu tentassem enviar tropas para a Ucrânia, isso tornaria a guerra quase inevitável, inclusive em seus próprios países, disse um ex-analista do Pentágono à Sputnik. Felizmente, poucos em Bruxelas provavelmente vão aceitar o conselho "insano" sugerido pelo ex-chefe da OTAN.
Sputnik
Na quarta-feira (7), o ex-secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), Anders Rasmussen, disse a repórteres que vários membros da aliança do Leste Europeu estavam preparados para enviar tropas à Ucrânia para apoiar o governo do presidente ucraniano Vladimir Zelensky se Washington se recusar a dar a Kiev certas garantias de segurança na próxima cúpula em Vilnius, no mês de julho.

"Se a OTAN não conseguir chegar a um acordo sobre um caminho claro para a Ucrânia, há uma possibilidade clara de que alguns países individualmente possam agir", disse Rasmussen. "Sabemos que a Polônia está muito empenhada em prestar assistência concreta à Ucrânia. E não excluo a possibilidade de a Polônia se envolver ainda mais fortemente neste contexto a nível nacional e ser seguida pelos Estados Bálticos, talvez incluindo a possibilidade de tropas no terreno.[...] Acho que os poloneses considerariam seriamente entrar e montar uma 'coalizão de voluntários' se a Ucrânia não conseguir nada em Vilnius."

O ex-analista sênior de política de segurança do gabinete do Secretário de Defesa dos Estados Unidos, Michael Maloof, disse à Sputnik nesta quinta-feira (8) que "o fato de Rasmussen fazer comentários tão irresponsáveis significa que ele teve um dia ruim ou que está simplesmente louco".
"Na prática, isso não será feito. Acho que ele está louco. E acho que tentar engajar e envolver ainda mais a Europa nesse conflito é insanidade."
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A aliança com sede em Bruxelas opera com base no princípio de autodefesa coletiva, o que significa que um ataque a um Estado-membro é interpretado como um ataque a todos os 31 Estados-membros. Não está claro se a OTAN tentaria acionar a regra, conhecida como "se as tropas de um membro forem atacadas enquanto operam no território de outro país não membro". A Ucrânia há muito busca a adesão à aliança, mas até agora foi rejeitada devido a problemas contínuos com corrupção e suas disputas territoriais não resolvidas com a Federação da Rússia.

"O que parece representar, eu acho, é que a parte oriental da Europa está basicamente tentando dominar a OTAN em termos de direção e influência. E também, especialmente a Polônia, tem planos para a parte ocidental da Ucrânia. Eu não sei. Eu não acho que a intenção deles seria defender a Ucrânia, acho que é desmontá-la."

"Uma vez que você coloca as tropas da OTAN na Ucrânia, elas se tornam alvos, e isso quase certamente garantirá que o conflito se alargue, e será culpa da OTAN", disse Maloof, acrescentando que "todos os países da OTAN devem concordar com isso. Então, na prática, simplesmente não vejo isso."
"A menos que eles façam o que os Estados Unidos fizeram quando invadimos a Líbia, indo com os chamados 'países de boa vontade'. Se isso acontecer, você pode simplesmente dá um beijo de despedida na OTAN. A OTAN acabará. E, por falar nisso, o conflito de fato vai aumentar. Com certeza vai trazer Belarus, vai trazer os países da Ásia Central — quero dizer, essa coisa pode explodir totalmente fora de controle. E vai cair na cabeça da Europa."
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Maloof disse que Rasmussen, que anteriormente serviu como secretário-geral da OTAN de 2009 a 2014 e também foi primeiro-ministro da Dinamarca, "deveria saber melhor, francamente", do que fazer tal comentário.

"Acho que é desespero por parte da Europa em geral. Acho que representa um desespero de que a Ucrânia não esteja ganhando. E acho que é isso o que basicamente se evidencia. E então eles estão tentando procurar todos os caminhos para tentar ajudar a Ucrânia. Seus estoques de armas sobressalentes estão se esgotando muito, muito rapidamente. Assim como os nossos", disse Maloof, que é norte-americano.

"Não podemos continuar, os Estados Unidos não podem continuar a encher esses países [de suprimentos de armas] sem parar e não permitir que eles assumam sua parte justa da carga, se essa é a abordagem política que desejam adotar. Mas eles estão em um impasse. Suas indústrias não podem mais suportar isso. E, em alguns casos, eles esgotaram completamente seus estoques de armas, incluindo munição. Quero dizer, é uma coisa insana. E acho que é apenas um pedido de desespero."
Maloof rejeitou a sugestão de Rasmussen de que a OTAN desse a Kiev garantias de segurança por escrito, que apenas os membros da aliança podem receber.

"Acho que não temos qualquer controle sobre a Ucrânia. A Ucrânia não tem controle sobre a OTAN. Portanto, não vejo onde temos qualquer obrigação de fazer algo como uma aliança, como a aliança da OTAN para a Ucrânia — porque eles não são membros, pura e simplesmente. Eles têm que superar isso. Eles são aspirantes à OTAN. Eles não são membros da OTAN. Ponto final. Fim da história."

De fato, se Bruxelas o fizesse, seria "totalmente desastroso", observou.
"Não consigo imaginar que a OTAN consideraria isso seriamente, embora Rasmussen anteriormente estivesse no comando. Simplesmente não consigo imaginar que os países da OTAN contemplariam algo assim considerando sua própria situação. Eles já subiram o suficiente em um galho que eles estão basicamente serrando do lado errado. E eles têm que considerar sua própria população e sua preservação e sua qualidade de vida."

"A Europa hoje em sua qualidade de vida diminuiu tanto como resultado desta guerra porque eles voluntariamente decidiram agir contra os próprios interesses apenas para enviar uma mensagem à Rússia de que 'não precisamos ou queremos mais sua energia'. Mas veja o que eles fizeram a si mesmos, ao povo. Agora, alguns desses países estão em recessão e sua indústria não pode suportar tal coisa. Quero dizer, eles estão loucos se pensarem seriamente nisso."

Maloof disse que se a Polônia e os Países Bálticos enviassem tropas para a Ucrânia, eles "ficariam sujeitos a quaisquer consequências decorrentes dessa decisão e isso incluiria conflito em seu próprio solo."
"A Rússia não está tão longe e eles têm mísseis hipersônicos e podem viajar em segundos, dada a proximidade e localização. Então, eles realmente precisam pensar seriamente e começar a 'tirar o cavalo da chuva' e começar a olhar para a realidade e não para a ideologia."
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A maior parte do território agora sob o controle de Kiev foi historicamente governada por Varsóvia e Cracóvia antes de ser cedido ao Império Russo no final do século XVIII, e os poloneses étnicos continuaram a viver nessas terras depois disso. No século XX, quando a Alemanha nazista invadiu e ocupou a Ucrânia soviética, forças colaboracionistas de extrema-direita como o Exército Insurgente Ucraniano realizaram massacres genocidas de poloneses no oeste da Ucrânia ao lado de outras etnias não ucranianas, como russos e judeus.
Voltando à questão levantada anteriormente sobre os desejos territoriais de Varsóvia na Ucrânia, Maloof observou que o governo do presidente polonês Andrzej Duda já estava emitindo passaportes para poloneses étnicos no oeste da Ucrânia.

"Eles basicamente querem começar a separar o que é a Ucrânia ocidental junto com a Hungria e a Romênia. Eles têm laços históricos. Há etnias nessas áreas que agora vivem nessas áreas, assim como os falantes de russo vivem na parte oriental do país. Eu vejo o século XIX voltando à vida. Todas essas conexões vão para trás e ainda mais longe. Então é como revisitar a história", explicou o analista.

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