Nesta quinta-feira (8) o jornal britânico Financial Times informou que os EUA, Taiwan e Japão trocarão dados de drones de reconhecimento naval em tempo real, o que mostra o desejo de Washington de "melhorar a coordenação" no caso de uma situação de crise no estreito de Taiwan.
Segundo os especialistas entrevistados pela Sputnik, a coordenação entre Washington, Taipé e Tóquio na área da inteligência continuará se expandindo, mas Pequim tem algo a responder.
Rede única para compartilhar dados
Os EUA parecem estar determinados a provocar a China explorando novamente a questão de Taiwan, apesar da autodeclarada política de Uma Só China.
As informações disponibilizadas indicam que os drones que Taipé receberá no futuro serão integrados no mesmo sistema que as forças dos EUA na região e as forças de autodefesa do Japão usarão, o que permitirá que os três participantes recebam os dados em tempo real.
Bi Dianlong, colunista chinês sobre as relações dos dois lados do estreito de Taiwan, lembrou à Sputnik que, na verdade, os EUA e Taiwan já haviam concordado anteriormente com a coleta e o intercâmbio de informações, por exemplo, no que diz respeito à implantação de radares de detecção e alerta antecipado de longo alcance PAVE PAW na ilha autogovernada.
O especialista observou que, até agora, quando se trata de compartilhamento de inteligência com os EUA, Taiwan tem sido um "lado fraco" que tem fornecido unilateralmente informações sobre a ilha e a China continental a Washington.
"No entanto, após a rápida escalada da situação entre os dois lados do estreito de Taiwan, o conluio entre os EUA, o Japão e Taiwan veio à tona gradualmente, com a situação caminhando cada vez mais para a radicalização. Eles pensam que o relacionamento entre Taiwan e a China continental continua se deteriorando e isso não pode ser revertido, portanto, somente juntos será possível enfrentar os desafios futuros", comentou o especialista.
Dianlong sublinha que se outros países não tivessem cruzado a "linha vermelha" e provocassem a China continental, as relações entre os dois lados do estreito de Taiwan não se teriam deteriorado tanto.
Estratégia de Washington
Prokhor Tebin, diretor do setor de problemas político-militares e econômico-militares internacionais do Centro de Estudos Abrangentes Europeus e Internacionais da Escola Superior de Economia da Universidade Nacional de Pesquisa da Rússia, disse à Sputnik que o confronto entre os EUA e a China está se intensificando, estando a estratégia atual de Washington focada na expansão máxima de parcerias militares e da cooperação aliada na Ásia-Pacífico.
De acordo com ele, tal inclui toda uma gama de alianças bilaterais e multilaterais, desde a parceria EUA-Japão até o AUKUS, e o envolvimento dos EUA na região continuará aumentando.
"Isso está acontecendo na Europa e também na região Ásia-Pacífico. Isso afeta não apenas os ativos marítimos [de reconhecimento], mas também os ativos de reconhecimento espacial, reconhecimento terrestre, reconhecimento de rádio e assim por diante. O objetivo é vincular todos esses elementos separados em um único sistema, em um nível multinacional", explicou o especialista.
Bi Dianlong tem um ponto de vista semelhante. De acordo com o especialista chinês, no futuro, os EUA, o Japão e Taiwan podem não apenas continuar a aprofundar a cooperação na troca de dados, mas também podem se coordenar ainda mais em termos de sistemas de comando e treinamento, e ainda integrar a Coreia do Sul.
Resposta de Pequim
A possível resposta da China ao estabelecimento de uma rede de compartilhamento de dados de drones navais poderia ser dupla, na opinião de Tebin.
"A China desenvolverá sua capacidade. A China desenvolverá a cooperação com a Rússia em determinadas áreas. A situação na região se tornará cada vez mais tensa. Vale lembrar que existem outros problemas regionais muito sérios e suficientes, além do impasse entre os EUA e a China. O mundo ficará incómodo, perigoso e cada vez mais conflituoso", avaliou, e acrescentou que a China já preparou um plano preliminar para a mudança da situação em torno do estreito de Taiwan.
"A China continental já avaliou antecipadamente a mudança da situação em torno do estreito de Taiwan e preparou um plano preliminar para isso. No que diz respeito ao conluio entre Taiwan e outros países, a China lidará de forma resiliente com qualquer mudança da situação ", garantiu o acadêmico.
Prokhor Tebin expressou sua esperança de que, apesar da ação conjunta de Washington, Taipei e Tóquio, seu objetivo não será atingido.