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Vazamento de arquivos militares no Uruguai reacende suspeitas após meio século de ditadura no país

Embora muitos deles já fossem conhecidos, a publicação anônima de mais de 1.600 arquivos da ditadura uruguaia confirma a hipótese de que há mais documentos de inteligência com informações importantes nas mãos dos militares, disse o jornalista especializado, Samuel Blixen, à Sputnik.
Sputnik
Após 50 anos do início da ditadura civil-militar que governou o Uruguai entre 1973 e 1985, a combinação de vários elementos parece confirmar que se trata de um período que não foi totalmente esquecido pelos uruguaios. É que além do aparecimento de restos mortais em um complexo militar que poderiam ser de um detento desaparecido, uma fonte anônima publicou na Internet 1.600 arquivos de inteligência militar da época.
Os documentos compõem o chamado Arquivo Berrutti e são mais de 100 documentos dos serviços de inteligência, da justiça militar e das Forças Conjuntas (militares e policiais) do regime, que perseguiram, prenderam e assassinaram opositores políticos.
O nome Arquivo Berrutti responde ao fato de terem sido encontrados em 2006 e entregues à então ministra da Defesa uruguaia, Azucena Berrutti, que ordenou sua digitalização. Desde então, os documentos estão à disposição da Justiça, do Ministério da Defesa, da Instituição Nacional de Direitos Humanos e da Universidade da República, embora não tenham sido publicados para livre acesso.
Em diálogo com a Sputnik, o escritor e jornalista uruguaio Samuel Blixen, autor de inúmeros livros e publicações sobre a ditadura uruguaia, lembrou que o Exército uruguaio começou a microfilmar todos os seus documentos em 1980, incluindo neste novo formato arquivos de 1973, quando começou a ditadura.
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"A partir desse 'arquivo-mãe', como eu chamo, a inteligência militar resolveu enviar esses arquivos para a Escola de Inteligência do Exército, estimo que como material didático para ensinar como se faz inteligência no Exército", explicou o jornalista.
Com efeito, os rolos de microfilme foram encontrados, com base em uma denúncia anônima, em um edifício onde funcionava o Centro de Formação Geral de Oficiais da Reserva e onde anteriormente funcionava o Serviço de Informação da Defesa (SID).
Para Blixen, a existência do Arquivo Berrutti e sua publicação junto com outros novos arquivos confirmam que "fazem parte de um arquivo maior" no qual, segundo o jornalista, pode haver informações importantes sobre crimes contra a humanidade e o paradeiro de desaparecidos detidos.
Segundo o cronista, é claro que o vazamento da documentação "é de origem militar", pelo que alguém das Forças Armadas tem acesso para manipular este tipo de arquivo.
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O jornalista considerou que o ministro da Defesa, Javier García, "deve descobrir onde está esse arquivo e registrar o que aconteceu". Segundo Blixen, é provável que esse "arquivo-mãe" do qual surgiu o Arquivo Berrutti "tenha várias cópias microfilmadas para diferentes organizações" e que estejam em alguma dependência militar.
Blixen afirmou que o local de sepultamento dos detentos desaparecidos deve ter sido registrado em documentos da inteligência militar, já que "todas essas coisas foram escritas e relatadas" nas forças armadas internas.
"Se o ministro estiver realmente comprometido, ele deve dar ordem aos seus subordinados para dizer onde estão enterrados. Acho que tem gente que sabe", resumiu o jornalista.
O repórter lamentou que a publicação anônima dos arquivos tenha gerado um "clima rarefeito" e especulou que a ação poderia ter fins políticos, buscando "colocar o governo em maus lençóis", que buscava divulgar os arquivos de sua parte, e "descrédito à esquerda", revelando documentos que poderiam questionar líderes da coalizão esquerdista Frente Ampla.
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