Nesta quarta-feira (21), o comunicado do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) manteve a taxa básica de juros Selic em 13,75% ao ano, sem fazer menções a uma possível queda da taxa a partir de agosto, como esperava o governo brasileiro.
A decisão do Copom foi recebida como "horrorosa" pelo Palácio do Planalto, que considerou o comunicado uma "declaração de guerra" à política econômica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, reportou o jornal O Globo.
Integrantes do Ministério da Fazenda já esperavam a manutenção da taxa de juros pelo chefe do Banco Central, Roberto Campos Neto. No entanto, a expectativa era a de que o comunicado abrisse caminho para uma redução na próxima reunião do Copom, a ser realizada em agosto deste ano.
O ex-presidente Lula ao lado de Fernando Haddad e Guilherme Boulos discursa no caminhão de som em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos, em São Bernardo do Campo, em São Paulo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou a decisão do Banco Central, durante entrevista coletiva nesta quinta-feira (22), em Roma.
"Eu acho que esse cidadão joga contra a economia brasileira. Não existe explicação aceitável do porquê a taxa de juros estar em 13,75%", declarou o presidente brasileiro.
Para o professor de Economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Milton Pignatari, a polarização entre Lula e Bolsonaro segue na agenda, mas não define a posição do Banco Central sobre a taxa de juros.
"Não acredito que seja uma declaração de guerra, mas um debate econômico sobre como enfrentar uma situação de recuperação econômica global tímida, na qual os países estão em compasso de espera", disse Pignatari à Sputnik Brasil.
O economista citou a retração econômica chinesa e incertezas quanto ao controle inflacionário em diversas economias emergentes como motivos para cautela por parte do Banco Central.
Pignatari nota que a equipe do presidente do Banco Central Campos Neto é adepta da tese de que segurar a taxa de juros é essencial para manter o controle sobre a inflação.
Roberto Campos Neto presidente do Banco Central
© Foto / Palácio do Planalto / CC BY 2.0
"O Brasil, como país dependente das commodities e das negociações internacionais, deve ter um tipo de controle, e a taxa de juros é, nesse momento, um dos elementos mais palpáveis", considerou Pignatari. "Não temos uma situação fiscal hoje que garanta a sustentabilidade econômica."
O economista ainda se lembrou de países que sofreram processos inflacionários vigorosos após liberações na taxa de juros, como Argentina, Chile e México.
Por outro lado, muitos concordam com o governo e acreditam que o Brasil apresenta índices econômicos bons o suficiente para proceder com a redução da taxa de juros.
"Muitos acreditam que as altas taxas de juros restringem o crédito e, logo, o consumo", explicou Pignatari. "Além disso, a taxa Selic muito alta encarece o déficit primário brasileiro e desincentiva investimentos internacionais."
A campanha pela queda das taxas de juros capitaneada por Lula vem ganhando adeptos dentre a elite econômica nacional. Recentemente, a empresária Luiza Trajano, CEO da rede varejista Magazine Luiza, pediu publicamente ao chefe do BC que reduzisse a taxa Selic.
"Boa parte dos empresários que apoiaram a candidatura do Lula estão do lado dele e batendo de frente com o Banco Central, e a Luiza Trajano é um bom exemplo", considerou Pignatari. "Mas vamos ver se esses empresários e instituições industriais terão fôlego para continuar esse embate, afinal o presidente do BC ainda tem muito mandato pela frente."
Empresária Luíza Trajano, presidente do Conselho Empresarial do Magazine Luiza, fotografada em São Paulo, 11 de maio de 2020 (foto de arquivo)
© Folhapress / Eduardo Knapp
O descompasso entre a decisão do Copom e as expectativas da elite política e econômica do país podem levar a uma revisão da lei que determina a autonomia do Banco Central, considerou o professor do Mackenzie.
"Não tenho dúvidas de que a revisão da independência do Banco Central está na pauta. O Congresso já se movimenta para esclarecer quais as modalidades de destituição de Campos Neto", concluiu o economista.