Panorama internacional

Manto de camuflagem da Kalashnikov para tanques da Rússia: o que é e como funciona?

O conflito por procuração entre a OTAN e a Rússia na Ucrânia prova que os princípios da conduta dos combates de tanques desenvolvidos durante a Segunda Guerra Mundial e aperfeiçoados durante a Guerra Fria permanecem relevantes, com aprimoramento nas táticas feitas em grande medida por novas tecnologias, entre elas materiais absorventes de radar.
Sputnik
Empresas russas no ramo de defesa começaram a instalação em massa de Nakidka (manto ou capa, em português), um sistema de camuflagem absorvente de três níveis que pode fornecer proteção a tanques, veículos de combate blindados, fortificações e outras estruturas de armas de precisão do inimigo.
O sistema de proteção Nakidka "começou a ser entregue ao cliente para uso em condições de combate", disse o consórcio de armas russo Kalashnikov em um comunicado de imprensa. "Várias empresas de engenharia nacionais já receberam as primeiras amostras de Nakidka do Instituto de Pesquisa Científica de Aço para equipar tanques com esse meio de proteção", acrescentou o comunicado.

O que estimulou a criação de materiais absorventes de radar?

O reconhecimento da necessidade de camuflagem baseada em material absorvente por radar surgiu pela primeira vez após a Segunda Guerra Mundial, graças à criação e proliferação de sistemas de mísseis guiados. Entre as décadas de 1970 e 1980, engenheiros conduziram experimentos com uma nova geração de materiais de absorção de radar disponíveis através de avanços na química, incluindo revestimentos de carbonila férrica e ferrita, absorventes de espuma e nanotubos de carbono. Devido aos custos elevados, os materiais absorventes de radar foram inicialmente instalados apenas em aeronaves, não em veículos terrestres.
As coisas começaram a mudar nos anos 2000, com cientistas da Rússia, EUA e outras grandes potências desenvolvendo capas de absorção de radar baratas que poderiam cobrir veículos, drones, aeronaves e até mesmo navios de guerra ou edifícios.
Sistema de camuflagem Nakidka cobrindo um tanque T-90MS

Caraterísticas da 'capa de invisibilidade russa'

Nakidka é um sistema de proteção passiva baseado em ferrita e lançado pela primeira vez em meados dos anos 2000, tendo sido desenvolvido para proteger de emissões eletromagnéticas na faixa de 0,5-50 GHz e reduzir as emissões de campo eletromagnético para entre 10-30 dB (para aqueles que refletem do tecido) e até 100 dB (aqueles que passam por ele).
Em outras palavras, Nakidka impede que o calor gerado durante o funcionamento de um veículo apareça no radar, com o exterior do veículo mantendo uma temperatura ambiente. Enquanto isso, a camada de absorção de radar do manto reduz os sinais enviados por intrusos inimigos de serem rastreados de volta.
O sistema de proteção passiva, que efetivamente oculta as assinaturas térmicas, infravermelhas e de radar do tanque, é fácil de implantar e usar, com kits personalizados disponíveis em 10 componentes separados para a torre, compartimento do motor, blindagem frontal e lateral etc.
A capa protege o equipamento de detecção por uma variedade de sistemas inimigos, incluindo sistemas de radar e imagens térmicas a bordo de satélites, radar aéreo ou terrestre, sistemas de orientação ópticos e de busca por radar de mísseis antitanque etc. Além disso, o sistema é projetado para fornecer proteção de camuflagem tradicional melhorada usando esmaltes especiais.
A Nakidka é leve, tendo aproximadamente de 8 a 10 mm de espessura, pesa cerca de 2 kg por metro quadrado e é resistente ao fogo e pequenos incêndios.
Rússia testa complexo de mísseis capaz de atingir tanques e drones até 100 km de distância

Experiência no campo de batalha

Os relatos da utilização da referida capa na Ucrânia começaram a surgir na primavera de 2022, com investigadores de inteligência de fonte aberta encontrando camuflagens colocadas em tanques russos T-90M Proryv.
Uma fonte confirmou à mídia russa em abril de 2022 que os tanquistas russos usaram capas de camuflagem para reduzir a assinatura de radiação térmica de seus veículos, embora o Exército russo nunca tenha confirmado formalmente essa informação na época.
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