O ataque da Ucrânia a uma faixa da Ponte da Crimeia pode refletir a mudança de estratégia de Kiev após os fracos resultados da contraofensiva, acredita uma especialista em relações internacionais.
Embora a situação esteja agora sob controle e o tráfego em uma faixa da ponte tenha sido retomado, o ataque mostra que o governo de Vladimir Zelensky pode mudar de rumo à medida que as tropas no conflito enfraquecem, de acordo com Sandra Kanety, acadêmica do Centro de Relações Internacionais da Universidade Nacional Autônoma do Mexico, que falou à Sputnik.
"A bola está no lado da Rússia, que é, na prática, a parte prejudicada. [...] Eu acho, e tendo a acreditar, que [o ataque] é uma virada da parte de Kiev, ligada justamente ao fato de que o que eles vêm fazendo há tantos meses para que as tropas russas saiam, não funcionou", observou.
Maria Zakharova, representante oficial do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, sublinhou também a participação dos serviços secretos dos EUA e do Reino Unido por trás do ataque, por esses países serem responsáveis pela estrutura terrorista do Estado.
A esse respeito, de acordo com Kanety, isso abre uma oportunidade para o jogo de poder em vários níveis, inclusive discursivo, devido a Washington se proclamar o principal combatente contra o terrorismo em nível global, mas somente quando se beneficia disso.
"Lembremos que estratégias discursivas são usadas em conflitos armados, e grande parte das mensagens na questão Rússia-Ucrânia está amplamente relacionada a acusações contra o Ocidente de interferir em assuntos que não lhe dizem respeito."
Uma grande parte da irritação de Moscou tem a ver com o fato de que, em particular, o Reino Unido, os EUA e a Alemanha estão interferindo, com armas e dinheiro em apoio a Kiev, no que é um conflito puramente regional e até mesmo binacional, disse ela.
"Os ataques [da Ucrânia] e a declaração [de Zakharova] deixam claro para a comunidade internacional que o governo russo está adotando uma postura defensiva, e não ofensiva, não apenas contra a Ucrânia, mas também contra o ataque ocidental. Em outras palavras, que fique bem claro que as ações que se seguirão ao ataque serão justificadas nesse insulto à Rússia pelo Ocidente, especialmente os Estados Unidos e o Reino Unido, porque não vem só da Ucrânia", afirmou Sandra Kanety.