Comandantes do Exército e do Corpo de Guardiões da Revolução Islâmica (IRGC, na sigla em inglês) do Irã comentaram a decisão dos Estados Unidos de reforçar sua presença no golfo Pérsico e alertaram que a República Islâmica vai tomar as medidas necessárias para se proteger.
"Considerando o controle e as capacidades de suas Forças Armadas em relação à navegação e segurança da aviação na região do golfo Pérsico, o Irã se reserva o direito de fazer os arranjos de dissuasão necessários em conformidade com as regras e regulamentos do direito internacional e exercerá seus direitos inalienáveis de acordo", disse o comandante em chefe do Exército, Abdolrahim Mousavi, na segunda-feira (24), falando à margem de um grande exercício aéreo e comentando os planos do Pentágono de enviar navios de guerra ao golfo.
"Os americanos vêm e vão da região há muitos anos com suas falsas ilusões, mas a segurança da região só se tornará sustentável com a cooperação entre os países da região", enfatizou Mousavi.
Separadamente, em uma cerimônia nesta terça-feira (25) relacionada à entrega de um novo míssil de cruzeiro naval avançado à Marinha do IRGC, o comandante Alireza Tangsiri disse que as embarcações inimigas vão ser forçadas a ficar a milhares de quilômetros de distância para evitar se encontrar na mira do míssil.
"Podemos disparar o míssil Abu Mahdi de dentro do país. O míssil tem um buscador duplo e funciona com sucesso contra a guerra eletrônica do inimigo", disse Tangsiri.
O Irã caracteriza o Abu Mahdi como "entre os melhores mísseis de sua classe no mundo em termos de direcionamento, alto poder destrutivo e passagem através de obstáculos geográficos e sistemas de defesa inimigos", e diz que o míssil, que tem alcance de mais de 1.000 quilômetros, vai aumentar drasticamente o alcance marítimo iraniano.
"Como o míssil tem um teto de voo muito baixo e um alcance muito longo, dificilmente pode ser rastreado", disse o comandante Tangsiri.
O novo míssil recebeu o nome de Abu Mahdi al-Muhandis, em homenagem ao falecido comandante da milícia iraquiana que foi morto em um ataque dos EUA em Bagdá em janeiro de 2020 ao lado do comandante da Força Quds do IRGC, Qassem Soleimani, que estava em uma missão de paz secreta no país com o objetivo de normalizar as relações entre o Irã e a Arábia Saudita.
Tensões no golfo
As tensões no golfo Pérsico aumentaram no início deste mês depois que os EUA anunciaram o envio de caças F-16 e aeronaves de ataque terrestre A-10 para patrulhar essas águas estratégicas após uma série de apreensões de navios pelo Irã por violações de tráfego marítimo e tentativa de contrabando de petróleo.
Na quinta-feira (20) passada, o Pentágono anunciou o envio de dois navios de guerra anfíbios e milhares de fuzileiros navais da 26ª Unidade Expedicionária de Fuzileiros Navais para o golfo por ordem do secretário de Defesa, Lloyd Austin.
"Através dessas ações, os Estados Unidos estão demonstrando compromisso em garantir a liberdade de navegação e dissuadir as atividades de desestabilização iranianas na região", disse o Pentágono em um comunicado, usando a mesma linha de "liberdade de navegação" que usa para justificar a implantação ilegal de navios de guerra, aeronaves e tropas a milhares de quilômetros da costa norte-americana para águas reivindicadas pela China no mar do Sul da China.
Na semana passada, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã, Nasser Kanaani, enfatizou que "o Irã monitora com sensibilidade qualquer ato ilegal e desconstrutivo que afete a segurança da região" e "prestará atenção especial a quaisquer movimentos provocativos e ilegais, especialmente perto de suas fronteiras".
O Irã tem uma das maiores e mais avançadas forças armadas no quesito tecnológico do Oriente Médio e está equipado com uma variedade de mísseis, navios de guerra e sistemas de defesa aérea projetados e fabricados internamente, projetados especificamente para guerra assimétrica contra um inimigo muito maior e mais poderoso. O país demonstrou repetidamente nos últimos anos que não vai tolerar violações de seu espaço aéreo e marítimo, derrubando do céu um drone espião de US$ 220 milhões (cerca de R$ 1,04 bilhão) sobre o estreito de Ormuz em junho de 2019.
O golfo Pérsico é um dos corpos de água estrategicamente mais importantes do mundo, com cargas de petróleo embarcadas representando aproximadamente de 20% a 30% do consumo passando por suas águas diariamente.