Divisor de águas, por que o novo míssil russo é um perigo para a contraofensiva de Kiev?

A Rússia desenvolveu um helicóptero munido de um míssil com capacidades de disparo de posições longe do alcance de armas de defesa antiaérea. A Sputnik relatou os detalhes da nova arma.
Sputnik
A inteligência militar britânica caracterizou as operações do helicóptero de ataque Ka-52 em Zaporozhie como "um dos sistemas de armas russos mais influentes no setor" em relação às tentativas contínuas da Ucrânia de realizar uma contraofensiva eficaz.
"Nos últimos meses, é muito provável que a Rússia tenha aumentado a força no sul com pelo menos um pequeno número de variantes novinhas em folha do Ka-52M: uma aeronave fortemente modificada, informada pelas lições da experiência russa na Síria", disse a Inteligência de Defesa do Ministério da Defesa britânico em um briefing de quinta-feira (27).
"Outra melhoria importante na frota do Ka-52 é a integração de um novo míssil antitanque, o LMUR, que tem um alcance de aproximadamente 15 km. As tripulações do Ka-52 têm sido rápidas em explorar oportunidades para lançar essas armas além do alcance das defesas antiaéreas ucranianas", acrescentou a declaração.

O que é o LMUR?

O LMUR, acrônimo russo para Foguete Guiado Leve Multiuso, também conhecido como Izdelie 305, ou Artigo 305, é um míssil lançado do ar, que pode ser usado de dia e noite, e em todos os climas, podendo ser transportado por uma série de helicópteros russos, incluindo o Kamov Ka-52, o caça-tanques Mil Mi-28 e uma variante Spetsnaz do transportador Mil Mi-8, conhecido como Mi-8AMTSh-VN.
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O míssil de 105 kg é equipado com uma ogiva de fragmentação de alto explosivo de 25 kg e inclui um sistema de orientação por imagem térmica/satélite inercial, incluindo um canal de comunicação bidirecional para controle em tempo real e orientação manual. O míssil pode ser disparado para fora da linha de visão, em direção a coordenadas especificadas, sendo o termovisor usado para localizar e travar alvos no estágio final do voo.
O LMUR apresenta uma configuração de asa em X dupla, incluindo quatro aletas estabilizadoras maiores na parte traseira e quatro menores na parte dianteira. Duas das aletas traseiras são equipadas com um comunicador de dados. O cabeçote em forma de cúpula possui câmeras e equipamentos de sensores.
Os LMUR voam baixo, entre 100 e 600 metros acima do solo. Os mísseis voam a velocidades de até 230 m/s, ou 828 km/h, o que, quando combinado com seu voo em baixa altitude, dificulta sua detecção e destruição antes do impacto.
Os armamentos são fabricados pela Centro de Engenharia de Construção de Máquinas, uma empresa estatal de defesa, ciência e design sediada na região de Moscou, mais conhecida pela produção do sistema de mísseis de curto alcance Iskander, além de uma variedade de sistemas de defesa antiaérea e antitanque soviéticos e russos, incluindo o Shturm, Ataka, Malyutka, Verba, Igla e Strela.
O LMUR apareceu pela primeira vez em fóruns militares na Rússia e no golfo Pérsico em 2021 e entrou ao serviço das Forças Armadas russas no terceiro trimestre de 2022. Houve uma produção de teste realizada em 2016-2017, e sabe-se que o sistema foi submetido a testes de combate na Síria contra alvos terroristas.

Existe um análogo no Ocidente?

Os EUA não têm um míssil com características comparáveis às do LMUR em serviço, embora existam vários análogos estrangeiros, incluindo o míssil guiado Spike "dispare e esqueça" de Israel, o Akeron MP da França e o míssil ar-superfície Nag da Índia. A orientação desses sistemas é menos sofisticada do que a do LMUR (geralmente limitada à capacidade de disparar e esquecer, sem correção manual de curso), bem como eles carregam ogivas menores.

Quais são as perspectivas do LMUR?

Um potencial divisor de águas, o LMUR é muito mais barato de produzir e colocar em combate do que os mísseis balísticos e de cruzeiro convencionais. Com uma capacidade de ser lançado de distâncias de até 15 km, o míssil tem o dobro do alcance de disparo da maioria das armas de defesa antiaérea fornecidas pela OTAN à Ucrânia, incluindo os Stinger (8 km) e os Gepard (5,5 km de seus canhões principais), o que o torna uma arma de afastamento eficaz.
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Tal significa que o helicóptero que transporta o míssil pode disparar e retornar à base sem nunca ser ameaçado pelas defesas aéreas do adversário.

O que a inteligência britânica errou sobre o LMUR?

Dmitry Drozdenko, editor-chefe da Arsenal Otechestva (Arsenal da Pátria, em russo), uma revista russa on-line sobre temas militares, disse à Sputnik que o serviço de Inteligência de Defesa do Ministério da Defesa do Reino Unido errou em suas avaliações. O especialistas apontou que a grande ogiva de fragmentação de alto explosivo do foguete significa que esse é mais bem utilizado contra efetivos, armaduras leves e cercas, e não tanto contra tanques.
"Ele é muito bom para derrotar um inimigo que esteja em algum tipo de abrigo ou prédio, porque enquanto as ogivas cumulativas como as do Vikhr ou Ataka são projetadas para romper a blindagem inimiga", neste caso do LMUR, "uma ogiva de fragmentação altamente explosiva voa e tem características de dano completamente diferentes. Porque o Vikhr e o Ataka farão um buraco e não terão muito efeito em uma sala grande. Já a ogiva de alto explosivo de 25 kg do LMUR destruirá tudo em seu interior", explicou Drozdenko.
Ele mencionou que o LMUR é o primeiro míssil russo capaz de disparar de acordo com o princípio "dispare e esqueça", diferente, por exemplo, do Vikhr e do Ataka, com os quais o alvo precisa ser iluminado constantemente por um feixe de laser, o que limita a capacidade de manobra do helicóptero.
"Se ocorrer um ataque contra ele [o Ka-52] nesse ponto, ele não poderá manobrar totalmente e deverá abandonar a orientação do míssil e deixar a área."
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