Panorama internacional

China restringe exportação de terras raras e pode frustrar as ambições dos EUA, diz analista

Os controles chineses de exportação de germânio e gálio entraram em vigor em meio a temores de que isso significasse microchips, painéis solares, carros e até armas mais caras. Em particular, as restrições ameaçam afundar as ambições domésticas de fabricação de microchips do governo Biden, diz o especialista em comércio China-EUA, Thomas Pauken II.
Sputnik
As restrições de terras raras da China entraram oficialmente em vigor nesta terça-feira (1º), com as medidas, anunciadas no mês passado depois que Pequim disse que precisava proteger sua "segurança e interesses nacionais", devendo causar um salto acentuado no custo de uma série de bens manufaturados avançados, especialmente eletrônicos.
Os controles de exportação, que vão exigir que as empresas que desejam exportar o par de metais de terras raras solicitem licenças, vêm em retaliação a uma longa lista de medidas hostis dos Estados Unidos, incluindo restrições à importação de produtos chineses de alta tecnologia.

"Este é apenas o começo", disse o ex-vice-ministro do Comércio chinês, Wei Jianguo, no mês de julho, alertando que "a caixa de ferramentas da China tem muito mais tipos de medidas disponíveis" caso Washington tente retaliar a proibição parcial de terras raras.

A China produz mais de 80% do gálio mundial e 60% do germânio, com especialistas prevendo que a medida pode levar "gerações" para os EUA substituírem a capacidade chinesa perdida.
As restrições às terras raras mostram que a viagem da secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, a Pequim no mês passado para tentar aliviar as tensões claramente não conseguiu fazer com que a China alterasse sua posição, com a nação asiática adotando uma linha mais dura em retaliação à guerra tecnológica e comercial de Washington e suas tentativas de isolar Pequim no Leste Asiático, no início deste ano, começando por sancionar a gigante norte-americana de semicondutores Micron Technology em maio.
Gálio e germânio são usados na fabricação de semicondutores complexos, incluindo chips com aplicações militares, mas também transistores comuns, diodos e outros componentes eletrônicos, para uso geral, desde smartphones e laptops até painéis solares, veículos e equipamentos médicos.
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Movimento pode afundar o esquema de semicondutores de Biden

"Obviamente, essas consequências serão devastadoras para os esforços dos Estados Unidos em promover sua indústria manufatureira, para criar essas fábricas quando [elas] estão voltando para casa", disse Thomas Pauken II, um consultor veterano e comentarista sobre assuntos da Ásia-Pacífico, à Sputnik, referindo-se ao impulso de mais de US$ 50 bilhões (cerca de R$ 239 bilhões) anunciado pelo governo Biden no ano passado para restaurar as capacidades domésticas de fabricação de componentes eletrônicos dos EUA.
"O problema é que você precisa desses ingredientes necessários para os chips e os semicondutores", disse ele.

"Então, agora estou ouvindo que a TSMC", a gigante de semicondutores com sede em Taiwan, "está repensando sobre fazer sua fábrica de semicondutores ou fundição que eles estavam pensando em abrir no Arizona. Além disso, há outra história sobre a Intel. Eles iriam abrir esta grande fábrica de chips em Ohio, e agora de repente eles estão dizendo, 'bem, talvez não abramos esta fábrica em Ohio porque perdemos todos os nossos clientes chineses. E por causa desses controles de exportação, nós não temos a capacidade de criar todos esses chips'", disse Pauken.

EUA foram pegos desprevenidos

Pauken acredita que os Estados Unidos e seus aliados não esperaram que Pequim cumprisse com suas ameaças de restrição à exportação de terras raras, a julgar por relatórios limitados sobre o assunto, além de think tanks especializados com sede em Washington alertando sobre o "impacto devastador" que tais controles de exportação poderiam ter sobre os EUA, Europa, Japão "e grande parte do mundo".
"Acho que a verdadeira história é que o Ocidente talvez tenha pensado é que a China estava blefando. Talvez eles pensassem que a China não estava levando a sério esses controles de exportação. E agora que estão começando a entrar em vigor, estão percebendo o quão destrutivos podem ser."
"O fato é que os EUA não fizeram os preparativos adequados para lidar com as contrassanções ou contra-ataques liderados pela China [...]. Eles apenas pensaram que se fizessem todos esses anúncios de que iriam atrás da China e de todos esses outros países que estavam seguindo-os, então, de alguma forma, a China desistiria, pareceria assustada e depois mudaria de ideia sob pressão. Mas, na realidade, o que a China aprendeu é que você não pode recuar sob a pressão de Washington", disse o observador.
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Pauken acredita que as restrições à exportação causarão um "grande dano" à economia global, mas não tanto a Pequim, que pode até receber um impulso em sua indústria manufatureira doméstica, já que as terras raras que antes iam para outros países vão ficar na China.
O especialista enfatizou que, se Washington fosse inteligente, "repensaria" sua política para a China e reconheceria que uma abordagem dura para Pequim não funcionou e não funcionará e, em vez disso, "foi um desastre para a economia norte-americana". Infelizmente, ele acrescentou, "não parece que os EUA aprenderam nenhuma lição [...] então parece que eles simplesmente continuarão com sua legislação anti-China".
"Então, basicamente, é um caso de se você for duro com a China, a China reagirá com a mesma força. Se você for legal com a China, então a China será legal. Neste momento, a Europa decidiu que quer apoiar os Estados Unidos e quer recuar contra a China. Então, é claro, a China não está apenas atrás dos EUA, mas também está atacando a Europa", disse o observador.

Opções limitadas

A escalada das tensões China-EUA sobre terras raras levou as autoridades norte-americanas a iniciar uma busca global por alternativas, incluindo a Mongólia, nação do nordeste da Ásia que contém cerca de 17% dos depósitos globais de terras raras.
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"A Mongólia está enfrentando uma oportunidade geracional. E essa oportunidade geracional é uma necessidade para encontrarmos minerais críticos e terras raras para atingir nossas metas de energia limpa", disse recentemente à mídia americana o subsecretário de Estado, Jose Fernandez, que viajou para a Mongólia no final de junho.
Mas não é tão simples quanto investir na produção de terras raras da Mongólia e extrair recursos, disse Pauken, apontando para o status do país sem litoral e os esforços dos EUA para irritar os vizinhos da Mongólia, Rússia e China.
"Obviamente, você não pode passar pela Rússia", disse ele, "porque a Rússia está sendo sancionada".
"Então eles teriam que passar pela China. E, obviamente, se a Europa e os EUA decidirem continuar pressionando a China, eles vão tornar mais difícil para os mineiros da Mongólia transportar seus produtos para os portos de embarque", concluiu Pauken.
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