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Objetivo é transformar o Brasil em uma potência aeroespacial, diz coronel da FAB sobre ITA no Ceará

Ministério da Defesa assinou acordo para abrir unidade do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) no Nordeste. A Sputnik Brasil conversou com especialistas para saber se essa nova filial pode auxiliar o Brasil a alcançar as grandes potências e se transformar em uma potência aeroespacial.
Sputnik
No dia 5 de agosto, o ministro da Defesa, José Múcio, e da Educação, Camilo Santana, assinaram Acordo de Cooperação Técnica para viabilizar a instalação de campus avançado do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) na região Nordeste do país, reportou o Defesa em Foco.
"É uma forma de descentralizarmos as oportunidades da Educação, levar a Ciência para outros cantos do território. A assinatura desse acordo para iniciarmos os estudos é um momento importantíssimo. É um sonho antigo de muitas pessoas envolvidas aqui e será um grande feito para o Nordeste brasileiro", afirmou o ministro José Múcio.
O Ministério da Defesa, através do comando da Aeronáutica, deverá formar grupo de estudos com o Ministério da Educação para estudar as condições de instalação da unidade avançada do ITA na região até o ano de 2025.
O ex-ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) José Múcio Monteiro, em Brasília (DF)
Criado em 1950, o ITA oferece cursos de graduação e pós-graduação em áreas da engenharia, em particular no setor aeroespacial. Formandos do instituto ligado à Força Aérea Brasileira foram os responsáveis pela criação das primeiras aeronaves nacionais e creditados pelo sucesso da empresa Embraer.
Para o doutor em geografia e coronel da reserva da Força Aérea Brasileira, Carlos Eduardo Valle Rosa, a expansão do ITA para o Nordeste é fundamental para diversificar as atividades do setor aeronáutico nacional.
"Trazer uma instituição do porte do ITA para o Nordeste potencializa a expansão do núcleo estratégico do poder aeroespacial, que atualmente está muito concentrado no hub de São José dos Campos [no estado de São Paulo]", disse Valle Rosa à Sputnik Brasil. "O novo núcleo poderá expandir para atividades que o Brasil ainda não domina."
Neste contexto, a Força Aérea poderá se utilizar da base de desdobramento de Fortaleza para abrigar os alunos do futuro ITA nordestino. Bases aéreas de desdobramentos são aquelas que não possuem esquadra permanente, mas estão equipadas para recebê-las, em caso de necessidade.
"A base de Fortaleza seria capaz de receber esse campus avançado do ITA. Ela conta com espaço físico, instalações reformadas, que podem ser dedicadas a esse novo fim", disse o coronel da reserva. "Construir escolas nunca é ruim. O desafio é mantê-las."
FAB realiza campanha de reabastecimento aéreo com avião KC-130 Hércules e helicóptero H-36 Caracal
A região Nordeste ainda abriga dois centros de lançamento de foguetes: a Barreira do Inferno, no Rio Grande do Norte, e a Base de Alcântara, no Estado do Maranhão.
"A Barreira do Inferno hoje desempenha atividades como rastreamento de satélites e testes de foguetes civis e militares. Já a de Alcântara, que é a joia da coroa, tem capacidade de fazer lançamento de foguetes de grande porte", disse Valle Rosa.
O Nordeste brasileiro não é somente uma região estratégica tanto do ponto de vista geopolítico, mas também econômico, lembrou o professor de economia e transporte aéreo da Universidade Municipal de São Caetano, Volney Gouveia.
"A velocidade de crescimento econômico das regiões Nordeste e Norte durante o século XXI tem ocorrido em proporção maior do que a taxa de crescimento das regiões Sul e Sudeste, indicando que há diversificação da pauta produtiva do Norte e Nordeste, com aceleração do desenvolvimento regional", disse Gouveia à Sputnik. "A criação de um instituto tecnológico no Nordeste brasileiro vem tarde, porque a região tem muita potencialidade."
Segundo Gouveia, o efeito multiplicador que a instalação de uma unidade avançada do ITA poderá ter na economia local é significativo, gerando novo impulso no processo de industrialização do Brasil.
Funcionários da Embraer trabalham em um jato comercial Embraer 190 na fábrica da empresa em São José dos Campos, Brasil (foto de arquivo)
"Estamos passando por um processo de desindustrialização, que vem desde os anos 80 e se acentuou a partir do Plano Real. Se, na década de 90, cerca de 25% do PIB brasileiro era gerado pela indústria, hoje infelizmente estamos em somente 10%", explicou Gouveia. "O ITA tem um poder natural de espraiar conhecimento e tecnologia para outros segmentos da indústria."
No contexto nordestino, o estado do Ceará é o que mais tem chances de abrigar a nova unidade do ITA. O estado se destacou por sua capacidade de formar alunos qualificados para serem aprovados pelo rígido processo seletivo da instituição ligada à Força Aérea Brasileira.
"Cerca de 40% dos aprovados no vestibular nacional do ITA são oriundos do Ceará, que tem escolas que se especializam na aprovação de candidatos nesse instituto", disse o coronel da reserva da FAB Valle Rosa. "Esse resultado será um forte argumento em favor da escolha do Ceará como anfitrião."
Usina de Energia Eólica (UEE) em Icaraí (CE)
Volney concorda que os investimentos cearenses em educação podem favorecer o Estado na corrida pela recepção de campus avançado do ITA.
"O Ceará tem apresentado destacados indicadores educacionais, com alunos que apresentam ótimos resultados em exames nacionais", atestou Gouveia. "Essa é uma vantagem comparativa desse estado, uma vez que o setor aeroespacial exige alto nível educacional."

Além da Embraer

O Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) é comumente associado ao desenvolvimento da Embraer, terceira maior fabricante de aviões do mundo e líder em aeronaves comerciais de média categoria. O primeiro avião da Embraer, o Bandeirantes, foi criado graças à expertise de engenheiros formados no instituto vinculado à Força Aérea.
"O ITA é vanguarda do desenvolvimento tecnológico aeroespacial brasileiro, não só na área militar, como também na civil", disse Gouveia. "Hoje no Brasil o segmento comercial é predominante: 85% de toda a tecnologia desenvolvida está relacionada a aeronaves comerciais."
Para competir com gigantes do setor de aviação, como Boeing ou Airbus, o setor precisa de investimento do Estado brasileiro, acredita o especialista.
"Empresas dos EUA ou da Comunidade Europeia não vão compartilhar tecnologia conosco. Esse setor é marcado por proteção intelectual fortíssima e competição acirrada", explicou Gouveia. "Para desenvolver capital humano e tecnologia pioneira, precisamos do Estado brasileiro estimulando o ITA e as Forças Armadas."
Representação do caça F-15EX da Boeing
Apesar do sucesso, atualmente o ITA não está sendo capaz de suprir, sozinho, a forte demanda do setor aeroespacial por profissionais qualificados
"Temos um déficit de mão de obra qualificada muito grande no setor aeroespacial brasileiro como um todo e o ITA tem capacidade para somente 600 a 700 alunos. Precisamos ampliar a oferta, porque a demanda é enorme", alertou Valle Rosa. "O nosso anseio e objetivo é transformar o Brasil em uma potência aeroespacial."
Além do ritmo lento de formação de novos quadros, os engenheiros brasileiros já formados por esse instituto de excelência estão sendo contratados por empresas estrangeiras, debilitando as operações de suas concorrentes nacionais.
"A [empresa norte-americana] Boeing tem assediado engenheiros brasileiros dos quadros da Embraer, desarticulando as operações da empresa", lamentou Gouveia.
Para o doutor em geografia e coronel da reserva da Força Aérea Brasileira, Carlos Eduardo Valle Rosa, a expansão do ITA é fundamental para que o Brasil acompanhe o ritmo das grandes potências na expansão da humanidade para o espaço sideral.
"Estamos em um contexto de expansão das atividades humanas para o espaço. Serviços essenciais para nós já são locados no espaço. Estamos em um contexto similar ao das grandes navegações. É a fronteira final de expansão e o Brasil não pode ficar de fora", concluiu o coronel da reserva da Força Aérea Brasileira.
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