A 82ª Brigada de Assalto Aéreo, com 2.000 soldados, sofreu suas primeiras perdas nesta semana tentando atacar as defesas russas perto da vila de Rabotino, na região de Zaporozhie, na terça-feira (15), com o Ministério da Defesa da Rússia relatando que as forças ucranianas perderam mais de 200 soldados, cinco tanques, seis veículos de combate de infantaria, dois veículos blindados de combate, dois outros veículos e dois obuseiros Msta-B. As forças russas supostamente repeliram três investidas ucranianas separadas ao longo da linha de frente.
O Ministério da Defesa não especificou os tipos de tanques que foram destruídos. No entanto, acredita-se que a brigada de elite ucraniana esteja armada com alguns ou todos os 14 tanques de batalha principais Challenger 2 enviados à Ucrânia pelo Reino Unido recentemente, juntamente com estoques de controversa munição de urânio empobrecido para seus canhões principais.
Considerações de reputação
O Challenger 2 tem sido o orgulho do Exército britânico desde sua entrada em serviço no final dos anos 1990, com a mídia se gabando do recorde do tanque sem perdas em campo de batalha (sem contar um incidente de fogo amigo durante a invasão do Iraque em 2003) e prevendo com confiança na primavera (no Hemisfério Norte) que nas mãos ucranianas os Challenger 2, juntamente com os Leopard e Leopard 2 alemães, iriam passar através das defesas russas como uma faca quente na manteiga.
Logo depois que a Ucrânia iniciou sua contraofensiva no início de junho, os observadores ocidentais começaram a reconhecer a loucura dessas suposições, com as forças ucranianas retirando seus pesados tanques alemães da linha de frente apenas alguns dias após os gigantes ficarem presos em campos minados russos, provando serem vulneráveis ao fogo da artilharia russa e ao apoio aéreo nos campos abertos e planos de Zaporozhie e Kherson.
Quanto aos Challenger 2, as forças russas não relataram ter entrado em contato com eles nos últimos dois meses e meio, com os militares da Ucrânia publicando um vídeo sem contexto de um dos tanques britânicos percorrendo uma estrada de terra em junho, e montando um clipe promocional mostrando um dos tanques parado, aparentemente imóvel em um campo girando sua torre sem fazer pontaria.
Primeiros sinais de alerta
Os militares ucranianos receberam pela primeira vez sinais de alerta sobre o potencial de combate de seus blindados britânicos em janeiro, quando o alto escalão das Forças Armadas britânicas disse explicitamente a seus colegas ucranianos para evitar o posicionamento dos tanques em áreas onde eles poderiam ser capturados ou destruídos pelas forças russas.
"O primeiro passo é treinar e trabalhar com planejadores de missão para tentar garantir que os Challenger não sejam usados em cenários onde eles pensam que o colapso [da frente] é uma possibilidade realista. O segundo passo é garantir, no nível tático, [que] os ucranianos sejam treinados para recuperar um tanque sob fogo", disse uma fonte de defesa na época.
As exigências feitas aos tripulantes de tanques ucranianos para tomarem um cuidado especial com seus caros equipamentos britânicos levantaram questões sobre se eles seriam capazes de usá-los nas linhas de frente, dado o risco constante de destruição e captura, enquanto a Rússia continua a acumular equipamentos da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) capturados suficientes para criar um pequeno exército.
Problema pesado
Outra questão que inevitavelmente vai atormentar a implantação do Challenger 2 da 82ª Brigada em Zaporozhie é a guerra aérea e de artilharia — duas áreas onde a Rússia, mesmo com a admissão de funcionários ocidentais, ganhou superioridade esmagadora.
Este é um problema que inevitavelmente afeta todos os veículos militares, tropas e fortificações da Ucrânia, seja mais próximo à frente ou na retaguarda. Mas o Challenger 2 apresenta dois desafios especiais a este respeito, relacionados com o seu tamanho e peso.
Pesando entre 64 e 75 toneladas (dependendo da configuração da blindagem), o Challenger 2 está entre os tanques mais pesados do arsenal da OTAN. Isso significa que simplesmente se movimentar, principalmente em áreas não adequadas para tanques pesados devido à lama, rios, ruas estreitas e pontes e outros obstáculos naturais e artificiais, pode ser um desafio. Além disso, ser transportado por longas distâncias exigiria a assistência de caminhões porta-tanques especiais, lançadores de pontes e serviços de engenharia que devem estar sempre por perto – e novamente sob risco de ataque da artilharia russa ou aéreo.
Considerando as comunicações eficazes entre unidades de reconhecimento russas e o apoio de artilharia e aéreo, as forças russas devem ser capazes de combater qualquer ataque blindado ucraniano, inclusive usando o Challenger 2, que, quaisquer que sejam as capacidades avançadas que possam ter, não são imunes ao ataque inimigo em distâncias longas demais para ser capaz até de atirar de volta.
Vulnerabilidades antitanque
Mesmo contra armas antitanque convencionais (como canhões de tanques inimigos e mísseis antitanque portáteis), o Challenger 2 vai estar sob constante ameaça das forças russas. Por um lado, o Challenger 2 é o único tanque de batalha principal moderno sem um canhão liso, com seu canhão principal estriado L30A1 de 120 mm menos preciso e menos poderoso do que seus análogos russos — e é incompatível com as munições de canhão da OTAN.
Em segundo lugar, embora as poucas implantações operacionais do tanque tenham oportunidades limitadas para as forças inimigas testarem a blindagem defensiva e os sistemas de proteção ativa do Challenger 2 usando mísseis antitanque portáteis, tanques comparáveis, incluindo o Leopard 2, o Abrams e o israelense Merkava, provaram ser tão vulneráveis a sistemas antitanque de fabricação russa como o Kornet quanto qualquer outro veículo blindado produzido em massa.
Os Challenger podem virar a maré?
Observadores militares russos esperam que toda a companhia ucraniana de tanques Challenger 2 (mais seu complemento de veículos de engenharia e recuperação) ligada à 82ª Brigada seja agrupada em uma única unidade, visto que dividir a companhia em pelotões e usá-los em várias direções diluiria seu potencial de fogo e causaria dores de cabeça relacionadas ao reparo, logística e evacuação.
Dada a perda de centenas de tanques ucranianos nos últimos dois meses, incluindo até 30 Leopard 2 de várias modificações, os 14 Challenger 2 por si só não podem virar a maré da contraofensiva de Kiev, diz o veterano da inteligência militar e emérito coronel da Rússia na reserva Rustem Klupov.
"Provavelmente, esses tanques serão destruídos da mesma forma que os Leopard queimaram. Porque na guerra moderna ter 14 tanques no campo de batalha não resolve nada e, em segundo lugar, não pode fornecer uma imagem objetiva se esta é uma máquina boa ou ruim", disse Klupov à Sputnik.
Se os tanques forem perdidos, eles vão ser perdidos para sempre, sem que nem a Ucrânia, nem o Reino Unido (cuja indústria de defesa não produz mais muitos dos componentes dos tanques) sejam capazes de repor as perdas em tempo hábil. E enquanto as remessas de partes adicionais do Challenger 2 do Reino Unido são hipoteticamente possíveis, uma revisão recente da defesa descobriu que a nação insular agora tem apenas 157 em mãos e em condições de combate. A equipe da Defesa britânica já se queixou em particular que a ajuda à Ucrânia e o fracasso em comprometer novos recursos de defesa para os militares "esvaziaram" o Exército britânico, e não se sabe como eles podem reagir se ainda mais dos recursos de defesa cada vez menores do Reino Unido forem enviados para lutar em uma guerra por procuração.
Os Challenger 2 da Ucrânia deveriam ser uma reserva estratégica, "a ser introduzida durante um avanço", observou Klupov. "A ciência militar nos ensina que um avanço é feito primeiro e, em seguida, as melhores unidades mecanizadas com os tipos de armas mais poderosos são introduzidas nele para fazer manobras de envolvimento ou dissecação em uma ampla distância. Isso é o que os alemães e o Exército soviético fizeram durante a Segunda Guerra Mundial."
Mas no conflito por procuração na Ucrânia as defesas da Rússia "misturaram todas as cartas [do inimigo]", com as forças ucranianas, por "uma série de razões objetivas e subjetivas", falhando não apenas em romper as posições russas, mas "até em superar a faixa de segurança" que separa as linhas ucranianas e russas, resumiu Klupov.