O problema levantou uma nova questão entre os políticos sobre se os EUA deveriam enviar para Kiev mísseis de cruzeiro compatíveis junto com os F-16, como o míssil ar-superfície AGM-158 (JASSM, na sigla em inglês) com o seu alcance de aproximadamente 925 quilômetros.
O chefe do Gabinete russo de Análise Político-Militar, Aleksandr Mikhailov, disse à Sputnik na terça-feira (22) que a situação mostra a forma pouco planejada e aleatória como a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) está tratando da entrega a Kiev de todas as armas que puder encontrar, mas especialmente das mais antigas.
"Me parece que tanto a indústria de armamentos britânica quanto a aviação encontrarão uma possibilidade técnica para colocar seus mísseis nos F-16", disse ele. "Acho que o problema aqui é tecnicamente solucionável. Me parece que, em geral, precisamos aguardar a entrega das aeronaves."
Segundo o especialista, não vemos as armas concretas que a OTAN prometeu enviar para Kiev, são promessas, como na história do fornecimento de tanques Abrams norte-americanos em novembro de 2022, que acabaram arrastando tanques europeus para o conflito. Tão logo os EUA prometeram o envio, acabaram alegando falta de base industrial e de reparo para a transferência, em um momento em que tanto o prestígio da defesa alemã quanto seus tanques Leopard já estavam queimando no campo de batalha.
"Agora é uma história muito semelhante. Os americanos gostariam muito que os aviões europeus voassem para a Ucrânia. Além disso, os mesmos alemães possuem aeronaves Tornado de terceira geração, os europeus têm Typhoons, Mirages, Rafales e Gripens. E, em princípio, há muito por onde escolher, especialmente se os europeus forem mais leais. Mas os europeus já não se deixam enganar por estas promessas americanas. Porque, depois da história com os Abrams, quando até os tanques Challenger chegaram à Ucrânia e vários Leopard foram enviados e até participaram das hostilidades, os Abrams não apareceram na Ucrânia", apontou Mikhailov.
O fundador do portal MilitaryRussia.ru, Dmitry Kornev, disse à Sputnik que os ucranianos provavelmente resolveriam os problemas técnicos sozinhos se tivessem tempo suficiente, mas alertou que os F-16 "não são uma arma milagrosa", independentemente das armas que carregue para o campo de batalha.
"Provavelmente, as Forças Armadas da Ucrânia receberão bombas e mísseis que os F-16 podem transportar. Aqui você precisa entender que, se as Forças Armadas da Ucrânia receberem os F-16 — e esta é uma questão difícil que era tratada há muito tempo e ainda não foi definitivamente resolvida — então todas as armas dos F-16 já são uma questão insignificante", disse ele.
No entanto, ele destacou uma forte desconexão entre não apenas as vastas exigências de equipamento feitas por Kiev à OTAN, mas também uma provável incongruência entre as promessas da OTAN e o que vai ser realmente enviado para a Ucrânia. Por exemplo, embora Amsterdã tenha dito que enviaria a Kiev todos os 42 F-16 de seu arsenal, Kornev prevê que, na verdade, não devem enviar mais do que 12 – um único esquadrão. Enquanto isso, Kiev exigiu 128 aeronaves.
Apesar de Kornev não descartar a possibilidade de Washington enviar mais caças para Kiev, "isso provavelmente não acontecerá nem em 2024, mas em 2025 ou 2026."
Se as entregas do F-16 começarem, ninguém vai incomodar as Forças Armadas da Ucrânia com a questão de obter outras aeronaves de terceira ou quarta geração, que foram retiradas de serviço pelos países europeus que receberam os F-35. Por exemplo, aeronaves alemãs, italianas e britânicas Tornado. Esses aviões podem definitivamente transportar qualquer míssil europeu", observou ele, afirmando que, tecnologicamente falando, seria questão de meses adaptar as aeronaves para carregar mísseis europeus.
"Todos os atrasos na entrega dos F-16 dependem da necessidade de treinar pilotos ucranianos. Se existem pilotos no mundo que estão prontos para atuar ao lado das Forças Armadas da Ucrânia como mercenários, isso resolve o problema. Mas a questão aqui é que o aparecimento de um certo número de F-16 provavelmente não mudará radicalmente a situação no campo de batalha. Não existem armas milagrosas", disse ele, observando que se estes caças chegarem à Ucrânia em pequenos números, então "há uma grande probabilidade de nem sequer notarmos isso".
Kornev acredita que as aeronaves podem exercer pressão sobre a defesa aérea e a Força Aeroespacial russa, mas que muito provavelmente ela seria combatida e compensada. "Quando o seu número começar a aumentar e se tornar palpável, terá de ser dezenas ou até mais de 100 unidades. Então será desagradável, mas não acontecerá instantaneamente."
Ainda sobre a defasagem no treinamento de pilotos ucranianos para operar os F-16, Kornev observou que, se o Ocidente tentasse compensar a questão enviando os chamados "pilotos mercenários", eles seriam tratados como "combatentes de pleno direito" pelas forças russas e, portanto, "alvo legítimo para qualquer das nossas ações", algo que a Rússia pretende evitar, se possível, por meios diplomáticos.