A expansão do BRICS foi bastante negociada nos bastidores e envolveu outros interesses dos países-membros na mesa, relata a coluna de Assis Moreira no jornal Valor Econômico. Conforme noticiado anteriormente, o Brasil e a Índia eram os membros mais resistentes à ampliação do bloco.
No que diz respeito a Brasília, o governo brasileiro acabou aceitando a entrada de outros membros, mas jogou com as cartas que pôde para "liberar" o acesso, especialmente a que fala sobre outra ampliação: a do Conselho de Segurança da ONU. E como vem sendo indicado na mídia, a China vem tentando conter o ingresso de outros países no organismo da ONU.
Na pressão de Pequim pela expansão, os relatos são de que o governo Lula viu oportunidade de arrancar compromissos envolvendo a reforma, que continua sendo uma prioridade da política externa. A estratégia brasileira em Joanesburgo foi calcada nisso, ressalta o colunista.
Na primeira reunião ministerial, a China apareceu querendo carimbar logo os acordos de expansão do grupo. Foi quando o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, retrucou lembrando a importância de critérios e insistindo que os cinco membros precisavam antes, portanto, discutir temas em aberto, afirma o jornalista.
Diante da resistência à sua pressão para fechar acordo, a delegação chinesa teria ficado impaciente na reunião ministerial. Mauro Vieira manteve a posição brasileira. Em seguida, segundo relatos ouvidos pela mídia, Lula, "com sua experiência dos tempos de sindicalista, saiu do encontro com a linguagem resolvida sobre o Conselho de Segurança".
Ao final da cúpula, a declaração dos líderes traz no seu parágrafo 7: "Apoiamos uma reforma abrangente da ONU, incluindo seu Conselho de Segurança, com o objetivo de torná-la mais democrática, representativa, eficaz e eficiente, e de aumentar a representação dos países em desenvolvimento entre os membros do Conselho, para que ele possa responder adequadamente aos desafios globais predominantes e apoiar as aspirações legítimas dos países emergentes e em desenvolvimento da África, Ásia e América Latina, incluindo o Brasil, a Índia e a África do Sul, de desempenhar um papel mais importante nos assuntos internacionais, em particular nas Nações Unidas, incluindo seu Conselho de Segurança".
O lado brasileiro comemorou como um avanço a menção ao Brasil, Índia e África do Sul de desempenhar papel mais importante na ONU "incluindo seu Conselho de Segurança". Entretanto, para certos negociadores, isso não significa que a China mudou de posição, acrescentou o colunista.
Ainda sobre a definição dos países que seriam convidados a se tornarem membros do grupo, a Rússia tomou a iniciativa de propor o Irã, segundo uma fonte. A Índia, ao contrário do que alguns imaginavam, não vetou os iranianos.
Novos membros do BRICS: confira o mapa atualizado do bloco
Já presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, fez um apelo para ser incluído um país da África subsaariana. A escolha ficou então entre o Senegal e a Etiópia. A decisão foi de convidar a Etiópia, que abriga a sede da União Africana, ponto central da diplomacia no continente. O país tem a China e a Rússia como seus maiores parceiros comerciais.
O Brasil defendeu a entrada da Argentina como representante da América Latina. E por fim, a Indonésia confirmou que preferia não entrar agora no grupo, porque tem outras tarefas regionais.
A adesão oficial dos seis países ao bloco acontecerá em janeiro de 2024.