"O Vale do Cunene é parecido com o Vale do São Francisco, no Brasil: uma região historicamente afetada por secas que se transformou num polo produtor de alimentos", declarou.
"A África tem tudo para se tornar uma potência agrícola, com capacidade para alimentar seu povo e o mundo. O Brasil continuará a ser parceiro nessa empreitada. Assim como no passado, uma versão do Mais Alimentos para a África deve ser retomada como mais uma vertente da cooperação Sul-Sul brasileira", apontou.
"Se olharmos o que os países europeus fizeram na África, eles não deveriam nem estar falando nada com relação ao protecionismo verde e à produção sustentável. O que foi feito na colonização belga, francesa e inglesa na África foi uma espécie de arrasa-quarteirão", critica. "Agora, de qualquer maneira, não assusta, porque nós estamos alguns anos-luz à frente deles [europeus] em termos de escala. A agricultura ABC [plano setorial para adaptação à mudança do clima e à baixa emissão de carbono] já funciona há dez anos, as condições de fazer um tipo de agricultura como a ABC na África são enormes e nos dão uma diferença, uma referência boa com relação aos países africanos", aponta.
"A dieta deles é um pouco diferente da nossa. Aliás, é bem diferente da nossa. Então, a gente precisaria levar para lá, por exemplo, a ideia de cesta básica e começar a trabalhar com a produção de feijão. Já tem o niebê, que é o feijão-de-corda, muita gente come isso no continente inteiro, além de mandioca, de frutas que existem na região. Temos uma tecnologia muito boa na produção desses alimentos, que a gente pode utilizar lá", indica.
"O Brasil perdeu espaço e prestígio no continente, e parte importante da cooperação com os países africanos foi encerrada (ou muito fragilizada). No contexto atual, a partir do início do governo Lula, há um movimento no sentido de restabelecer esses laços, o qual, todavia, seguramente enfrentará um longo percurso, tanto pelo retrocesso vivido ao longo do período anterior quanto porque, ao longo desse período, outros atores internacionais incrementaram seus laços com os atores africanos, aumentando significativamente a competição que será enfrentada pelo Brasil nessa busca de retomar sua presença no continente", finaliza o professor da UFRGS.