Na madrugada de quarta-feira (30), o atual presidente do Gabão, Ali Bongo Ondimba, foi reeleito para um terceiro mandato após obter 64,2% dos votos. Pouco depois do anúncio, os militares gaboneses fizeram um discurso televisivo, declarando que os resultados eleitorais tinham sido cancelados devido suposta fraude.
O general Brice Oligui Nguema, que era até agora o comandante da Guarda Republicana Gabonesa, foi o escolhido para liderar o governo de transição na sequência do afastamento do presidente.
Os militares disseram que todas as instituições do Estado, incluindo o governo, o parlamento e o tribunal, foram dissolvidas com a criação do chamado Comitê para a Transição e Restauração das Instituições (CTRI).
É levado ao conhecimento da comunidade nacional e internacional que Ali Bongo Ondimba está mantido em prisão domiciliária", disse um dos oficiais do Exército na televisão estatal, acrescentando que o presidente deposto está rodeado pela sua "família e médicos".
"Hoje, o país atravessa uma grave crise institucional, política, econômica e social [...] [as eleições] não reuniram as condições para um escrutínio transparente, credível e inclusivo tão esperado pelo povo do Gabão", acrescentaram afirmando que decidiram "defender a paz pondo fim ao regime atual".
O analista africano e pesquisador sênior do Centro de Estudos África-China da Universidade de Joanesburgo, Koffi Kouakou, afirmou à Sputnik que uma coisa que torna únicos os atuais desenvolvimentos no Gabão é que se trata de uma tomada militar "sem derramamento de sangue".
Visão geral de um outdoor de campanha rasgado do presidente deposto do Gabão, Ali Bongo Ondimba, em Libreville, em 31 de agosto de 2023
© AFP 2023
Kouakou refere-se aparentemente ao fato de não haver relatos de quaisquer vítimas como resultado da mudança de regime na nação centro-africana.
A opinião semelhante foi expressa pelo professor de História da Universidade de Houston, Gerald Horne, que disse em uma entrevista à Sputnik que depois da detenção do presidente Ali Bongo Ondimba, "eles [oficiais do Exército] estão a falar em realizar um julgamento e acusar os seus filhos de com traição, em vez de arrastá-los para a praça pública e executá-los imediatamente. Este parece ser um processo diferente do que vimos no passado", pontuou.
Jules Lebigui, de 27 anos, disse estar a marchar pela capital por estar "contente": "Depois de quase 60 anos, os Bongos estão fora do poder", disse Lebigui segundo o Publico.
Apesar do aparente apoio popular, o golpe militar foi condenado pelas Nações Unidas, União Africana, a UE e vários outros países, incluindo a França, a antiga potência colonial que tem tropas estacionadas no país.
A representante oficial do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, expressou preocupação com a situação em Libreville.
A representante oficial do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, expressou preocupação com a situação em Libreville.
"Moscou ficou alarmado com as notícias sobre a acentuada escalada da situação interna neste amigo país africano. Continuamos a acompanhar de perto os desenvolvimentos [no Gabão] e esperamos uma rápida estabilização da situação", sublinhou Zakharova.
Com os acontecimentos, o Conselho de Paz e Segurança da União Africana decidiu hoje (31) "suspender imediatamente" o Gabão após o golpe militar no país esta semana.
O órgão afirmou que "condena veementemente a tomada militar do poder na República do Gabão" e decidiu "suspender imediatamente a participação do Gabão em todas as atividades da UA, dos seus órgãos e instituições", segundo a BBC.
A situação no Gabão e recentemente no Níger mostram uma África vivendo um momento de frenesi político, onde militares com certo apoio da população tomam o poder e instituem uma nova ordem. No Níger hoje (31), o MRE instruiu a polícia a expulsar o embaixador francês no país, visto que lhe foi pedido para deixar Niamey em 48 horas na semana passada.