O Exército da Rússia relatou um grande aumento no recrutamento de mercenários estrangeiros pela Ucrânia. As estimativas de quanto esses "aventureiros" recebem variam muito, de menos de US$ 1.000 (R$ 4.938) por mês a US$ 2.000 (R$ 9.876) por dia.
A Sputnik conversou com dois especialistas militares veteranos para saber mais sobre este fenômeno.
Experiências de combate na Ucrânia
Um veterano das Forças Armadas da Alemanha que se voluntariou para lutar ao lado do exército ucraniano, revelou recentemente a taxa surpreendentemente baixa de estrangeiros que participam do conflito por procuração da OTAN contra a Rússia na Ucrânia.
"Depende de quanto tempo você passa na linha de frente. Existe um princípio de pagamento por combate, ou seja, eles pagam por cada dia passado em batalha [...] Por mês, o valor gira em torno de € 2.000 a € 2.500 [R$ 10.654 a R$ 13.318]. Para a Ucrânia, isso é bastante", disse o mercenário, acrescentando que as tropas que passam mais tempo no front podem receber ainda mais, até cerca de € 3.000, ou R$ 15.981 por mês.
O testemunho do mercenário parece coincidir com os números divulgados em fevereiro pelo Comitê de Investigação da Rússia, que concluiu que os estrangeiros na Ucrânia recebem entre 30.000 e 100.000 grivnas (de R$ 4.011 a R$ 13.370). Os dados também são corroborados por dados da rádio francesa RTL, que descobriu em julho que os mercenários ligados à infame Legião Internacional da Ucrânia recebem um salário base de € 500 a € 3.000 (R$ 2.664 a R$ 15.981) quando estão no front.
Os voluntários também se queixaram de ter que pagar do próprio bolso por veículos, suprimentos e até mesmo armas de pequeno porte, apesar das dezenas de bilhões em armas suprimidos a Kiev.
"Acho que US$ 1.000 a US$ 2.000 [R$ 4.938 a R$ 9.876] por mês é um pouco baixo. Se você me dissesse que isso é por um dia, eu diria que tudo bem, posso aceitar isso. Talvez um pouco exagerado, mas até esse valor para um comandante ou algo do gênero, sim, eu posso entender", disse Earl Rasmussen, um tenente-coronel aposentado do Exército dos EUA, e agora um consultor internacional com mais de duas décadas de experiência militar, à Sputnik.
"A menos que fosse por uma causa na qual eu acreditasse firmemente, eu não colocaria minha vida em risco por esse tipo de dinheiro", comentou ele, citando o salário médio como sendo equivalente ou até menor do que o de alguém que trabalha em um emprego de colarinho azul no varejo ou na indústria nos EUA.
Para ele, outras razões preocupantes sobre este tipo de recrutamento são relatos como os que um terço dos cerca de 100 voluntários franceses que lutavam na Ucrânia eram motivados por opiniões neonazistas.
"A taxa de sobrevivência de muitos na linha de front é baixa, e espero que a baixa qualidade da liderança militar e as demandas políticas na Ucrânia não sejam um grande atrativo para essa remuneração limitada", contou Karen Kwiatkowski, tenente-coronel aposentada da Força Aérea dos EUA e oficial do Pentágono, e agora uma denunciante, à Sputnik.
"A Ucrânia está enviando homens com mais de 70 anos de idade para treinamento da OTAN na Alemanha, e quando esse tipo de extremo é combinado com relatos de que muito poucos refugiados ucranianos na Europa pretendem voltar para casa depois da guerra, isso diz muito sobre o estado atual de sua capacidade de defender sua fronteira restante e seu futuro como uma nação produtiva", lamentou a especialista.
O Ministério da Defesa da Rússia referiu que a interrupção dos planos de mobilização e as tentativas de ocultar grandes perdas em meio à contraofensiva falha de Kiev levaram à intensificação do recrutamento de mercenários, com o auxílio da inteligência dos EUA no recrutamento, inclusive de áreas da Síria ocupadas pelas forças de Washington.
O órgão militar russo estimou que quase 5.000 mercenários estrangeiros foram mortos, e cerca de 4.900 outros teriam fugido do país desde o começo da operação militar especial. Em maio, o Ministério da Defesa da Rússia avaliou que cerca de 2.500 mercenários permanecem na Ucrânia lutando por Kiev. Muitos dos que fugiram relataram histórias de terror sobre sua experiência, apesar de vários chegarem à Ucrânia com sentimentos idealistas e positivos.
Quem financia os mercenários?
Questionado sobre as fontes de financiamento para os mercenários, Rasmussen sublinhou que, embora os cheques possam ser assinados pelo governo ucraniano, o dinheiro obviamente vem dos apoiadores ocidentais de Kiev, não só de fontes governamentais, mas também de doadores privados.
"Há doadores envolvidos aqui. Há ONGs. Há pessoas como [George] Soros, da Open Society, quem sabe como estão canalizando seu dinheiro e para onde ele vai. Tenho certeza de que ele está sendo lavado por meio de várias organizações diferentes. Mas a fonte original vem do Ocidente", concordou Kwiatkowski.