As divergências entre países-membros do bloco sul-americano diminuíram as expectativas na União Europeia sobre o acordo, que pode desmoronar se não for concluído até o final do ano, disseram diplomatas e membros do Parlamento Europeu nesta terça-feira (12).
Dois dos quatro ainda não se posicionaram ao adendo da UE sobre questões ambientais para responder às reservas de muitos Estados-membros do bloco europeu, acrescentaram os diplomatas segundo a Reuters.
Nomeadamente, os países são Uruguai e Paraguai, que ontem (11) disseram que nenhuma resposta por escrito havia sido enviada à UE.
"Se alguma coisa foi enviada, foi a posição do Brasil, não do Mercosul", disse uma fonte do Ministério das Relações Exteriores do Uruguai.
A recente mudança de governo no Paraguai e as diferenças e resistência do Uruguai com o acordo (país que já declarou publicamente seu maior interesse em um acordo de livre comércio com a China) atrasam o processo.
De fato, o Brasil enviou uma resposta no dia 6, como anunciado pelo chanceler Mauro Vieira, entretanto, em seu pronunciamento, ele afirmou que "nós já enviamos à União Europeia as posições dos quatro países [...] eu não posso dar nenhuma garantia que a UE vá aceitar", disse Vieira conforme noticiado.
O Mercosul, principalmente Brasil e Argentina, criticam o adendo do bloco europeu afirmando que as diversas exigências no campo ambiental é "protecionismo" dos europeus em relação a seu próprio mercado e que as condições são "ameaçadoras" – como classificado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva – uma vez que podem gerar suspensão do acordo ou sanções se não forem cumpridas.
No entanto, não é só a "falta de resposta" que incomoda Bruxelas, segundo o eurodeputado austríaco Thomas Waitz, as declarações de Lula sobre o conflito na Ucrânia "desanimaram" os europeus a fechar o acordo.
"Esvaziou como um balão. Isso [as declarações] causaram muita decepção e reduziu o entusiasmo e as esperanças de uma rápida finalização do acordo comercial com o Mercosul", afirmou Waitz segundo a Reuters.
Mas até Lula já reconheceu que a paciência está a esgotar-se com as negociações, que está suspenso desde 2019, devido a preocupações ambientais europeias.
"Precisamos chegar a um acordo nos próximos meses. Concordar ou parar de discutir o acordo, porque depois de 22 anos ninguém acredita mais nele", disse Lula a repórteres na segunda-feira (11) em Nova Deli após a cúpula do G20.
O interesse da UE também poderá diminuir depois de a Espanha, o mais veemente defensor do acordo do Mercosul na UE, concluir a sua presidência de seis meses da União Europeia no final do ano, destaca a mídia.
Prevê-se também que as eleições para o Parlamento Europeu em junho de 2024 afunilem a agenda do próximo ano.
"Se o acordo não for assinado até o final deste ano, a Comissão Europeia não avançará na sua promoção. Farão o seu melhor para mantê-lo fora da campanha eleitoral. Não acho que isso vá acontecer. Isto é uma batata quente", disse Waitz.