Deputados da Assembleia Nacional da Venezuela, o Parlamento unicameral do país, aprovaram nesta quinta-feira (21), por unanimidade, a convocação de um referendo consultivo sobre o apoio à reivindicação de Caracas pelo território de Essequibo, região fronteiriça entre Venezuela e Guiana alvo de uma disputa territorial que data do século XIX.
Segundo o presidente do Parlamento, Jorge Rodríguez, a proposta de referendo é uma resposta às declarações dadas na última quarta-feira (20) pelo subsecretário de Estado adjunto dos Estados Unidos para Assuntos do Hemisfério Ocidental, Brian Nichols, que defendeu o que chamou de "direito soberano da Guiana de explorar seus próprios recursos naturais" e apoiou a participação da empresa americana de petróleo e gás ExxonMobil na exploração dos recursos.
Rodríguez classifica como interferência as afirmações de Nichols e disse que a posição do subsecretário prioriza interesses transnacionais em detrimento dos direitos legítimos da Venezuela sobre o assunto.
Também na quarta-feira, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, acusou o governo do presidente americano, Joe Biden, de usar a ExxonMobil e o Comando Sul dos Estados Unidos (USSOUTHCOM) para retirar os direitos de seu país ao território.
Caracas também alertou a comunidade internacional sobre as intenções dos EUA de criar, na América Latina e no Caribe, uma base militar na Guiana, para transformar o país na ponta de lança de uma operação agressiva contra a Venezuela, o que representa um risco para a estabilidade da região.
Originalmente, o território de Essequibo fazia parte da Capitania Geral da Venezuela. Durante o período da colonização espanhola do continente, a Holanda aproveitou as turbulências do império espanhol para tomar posse sobre a Guiana. Em 1814, parte do território foi vendida pelos holandeses à Inglaterra, que começou a ocupá-la a despeito do reconhecimento, por parte de Portugal, Espanha e Brasil, de que a região pertencia à Capitania Geral da Venezuela.
No final do século XIX, os EUA se aliaram à Inglaterra e fizeram com que a Venezuela assinasse um tratado, sem a presença de nenhum representante do país sul-americano, que determinava a renúncia de Caracas ao território de Essequibo. O documento foi questionado posteriormente através dos mecanismos da Organização das Nações Unidas (ONU). O Acordo de Genebra de 1966 definiu o território como venezuelano. Porém, mesmo após a assinatura do acordo, o território segue sob influência britânica e americana.
A discussão ganhou novo impulso em 2015, quando foram descobertas grandes reservas de petróleo na costa de Essequibo. Atualmente os poços são explorados pela ExxonMobil.