Segundo as mais recentes pesquisas eleitorais, ambos os candidatos estão em "máxima igualdade" nas intenções de voto dos argentinos. Se as eleições fossem hoje, Milei alcançaria 33,2% dos votos, mesmo percentual de Massa. Na terceira posição aparece a candidata também de direita Patricia Bullrich, com 28,1%.
Se Massa representaria uma continuidade do atual governo, de Alberto Fernández, Milei, com base em seus discursos, representaria uma ruptura com os rumos atuais e uma oposição à própria classe política da Argentina, sendo comparado ao ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro pela mídia graças a seu discurso antissistêmico e nacionalista.
Milei promete se afastar dos maiores parceiros comerciais do país, Brasil e China, em favor de desenvolver os parques industrial e agropecuário do país. Contudo, para José Niemeyer, coordenador do curso de relações internacionais do Ibmec, as falas de Milei são muito mais eleitoreiras do que uma proposta factível.
"Essa ameaça de Milei com relação à China e ao Brasil é um discurso muito de momento eleitoral. Se isso acontecer, a Argentina vai ter graves problemas, porque os parques industrial e agropecuário argentinos perdem muito comparados ao chinês e ao agronegócio brasileiro."
Juan Agulló, doutor em sociologia e professor do Instituto Latino-Americano de Economia, Sociedade e Política (ILAESP) da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), vê no caráter antissistema de Milei uma forma de agradar poderosos dentro e fora da Argentina.
"Uma Argentina que aprofunde suas relações comerciais com a China, aumente os termos da sua integração com o Brasil e se projete internacionalmente através do BRICS pode, sim, incomodar muitos. Mas que perguntem aos grandes produtores agrários, que sobretudo vendem à China, o que melhor convém ao país."
Ainda que brade, Milei terá que lidar com a realidade
Um dos pontos de destaque eleitoral para Milei é que, assim como Bolsonaro no Brasil, espera-se que ele vá em contrariedade à política internacional estabelecida da Argentina. Contudo, os analistas não veem no candidato força suficiente para jogadas muito ousadas no cenário geopolítico mundial.
Para Felipe Bueno, jornalista, historiador e analista internacional, Milei só concretizaria a ameaça de quebrar o relacionamento com a China, por exemplo, se ele fosse bancar tudo aquilo que a Argentina exporta para a China "com o dinheiro dele".
"Óbvio que é impossível. Se ele for minimamente saudável da cabeça, ele não vai fazer isso."
No que tange à América do Sul, a Argentina é um dos membros fundadores do Mercosul, podendo ditar rumos e políticas para o bloco. No entanto os analistas não acreditam que Milei será capaz de prejudicar o bloco, especialmente após a experiência de Bolsonaro enquanto líder do Brasil, país com a maior economia dentro do grupo.
"Bom, com Bolsonaro teve as consequências que teve. A gente precisa ser honesto: a eleição dele não provocou a indeterminação política do projeto. O que ao mesmo tempo é verdade é que também não contribuiu, em nada, para desentupir a situação", disse Agulló.
Apesar de sua retórica combativa, que pode ver a Argentina como "criadora de problemas" dentro do Mercosul, Bueno não acredita que o país terá forças para atrapalhar negociações bilaterais.
Agulló, entretanto, ressalta que Milei ainda pode ser uma pedra no sapato de outros órgãos supranacionais menos estabelecidos, como a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC).
"Aí uma eventual eleição de Milei, eu acho que poderia, sim, ter um impacto negativo. Especialmente se começarem a aparecer outros Mileis em outros países da região, o que, infelizmente, não é improvável."
Lula e Milei terão relação protocolar
De campos opostos, Milei promete trocar farpas com Luiz Inácio Lula da Silva assim como Bolsonaro trocou com Alberto Fernández, atual presidente argentino. No entanto, a diferença na posição econômica dos países pode dissuadi-lo disso.
"Olha, sempre que um presidente da República ganha uma eleição, só se ele tiver uma postura muito alternativa, mas geralmente diminui a fervura e esse presidente se aproxima da principal liderança do principal país da América Latina, que é o Brasil", afirmou Niemeyer.
Já Lula deverá manter uma distância protocolar do argentino, afirmaram os analistas. Para Bueno, Lula deverá se manter republicano, "dentro da liturgia do cargo". Já Agulló pensa que o presidente brasileiro deverá agir com cautela e estrategicamente.
"Não só Milei na presidência da Argentina é contrário, per se, aos interesses estratégicos do Brasil: ele pode virar uma fonte de conflitos e de problemas, tudo o que o Brasil não precisa."