De acordo com o Global Times (GT), economistas chineses afirmaram que a decisão da Reserva Federal (Fed) dos EUA de manter as taxas de juro inalteradas, ao mesmo tempo que mantém uma postura política agressiva, sugere mais riscos profundos para a economia dos EUA do que a confiança almejada pelo mercado.
Apesar da inflação ainda elevada, a inércia do Fed ressalta as limitações das políticas monetárias dos EUA para enfrentar um intrincado conjunto de riscos e desafios.
O perigo que a economia dos EUA representa para a economia global — em especial para os países em desenvolvimento — contrasta fortemente com a contribuição da China para o crescimento global, apesar das afirmações das autoridades dos EUA.
Na última quarta-feira (20), o Fed manteve as taxas de juro inalteradas, apesar da inflação ainda elevada. Mesmo atendendo às expectativas do mercado, os responsáveis do Fed reforçaram uma posição política agressiva de que podem domar a inflação, mantendo ao mesmo tempo uma economia "sólida" com um crescimento "forte" das taxas de emprego.
"A minha sensação é que o Fed não se atreveu a tomar qualquer medida porque a economia dos EUA está atolada em uma série de fatores complexos, na qual não pode controlar a inflação simplesmente aumentando as taxas", disse o pesquisador sênior da Associação Chinesa do Comércio Internacional, Li Yong, ao GT.
Desde o início de 2022, o Fed montou uma campanha agressiva para controlar a inflação, resultando em sérias implicações para os bancos dos EUA e para a dívida pública norte-americana. A taxa de juro de referência dos EUA permanece a mais alta dos últimos 22 anos, enquanto a inflação permanece bem acima (3,7% em agosto) da meta do Fed (2%).
Embora alguns indicadores econômicos dos EUA sugiram uma recuperação otimista – com o crescimento anual do produto interno bruto (PIB) apresentando melhora de 2,4% no segundo trimestre — os analistas estão preocupados especialmente com a dívida crescente, que atingiu a casa dos US$ 33 trilhões (cerca de R$ 162,2 trilhões).
Depois de os EUA terem evitado um incumprimento histórico da sua dívida no mês de maio, através de um acordo temporário, o Congresso norte-americano não conseguiu até agora apresentar uma lei de despesas que continue a financiar o governo.
Os meios de comunicação dos EUA sugeriram que uma paralisação do governo a partir de 1º de outubro parece "inevitável", o que "causará uma perda de dinamismo" à economia, alertou a secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, na segunda-feira (18).
Apesar de alguns indicadores econômicos serem considerados melhores do que o esperado, "o que precisamos estar atentos é como os riscos se acumularam na economia dos EUA e como isso poderá levar a uma grande implosão", disse Hu Qimu, vice-secretário-geral do Fórum 50 de integração das economias digitais-reais.
Dentre as implicações globais elencadas pelos economistas, muitos países vão ter de aumentar as suas próprias taxas de juro para manterem fluxos de capitais saudáveis. A consequente elevação também fortalece o dólar americano, o que impacta o pagamento de dívidas em muitos países em desenvolvimento, cujas dívidas externas são frequentemente denominadas em dólares.
"O resultado é que quando os EUA estão doentes, o mundo inteiro tem de tomar medicamentos", disse Li, acrescentando que os riscos e desafios econômicos internos dos EUA representam uma ameaça à recuperação econômica global.
Para dificultar ainda mais o cenário, o governo dos EUA também lançou guerras comerciais e tecnológicas, impondo constantemente sanções a outros países, o que causou turbulência em várias cadeias industriais e de abastecimento globais.
Para muitos economistas chineses, ao contrário do que disse o presidente dos EUA, Joe Biden, sobre a economia da China, é a economia dos EUA que mais parece uma "bomba-relógio" para o mundo. O Fundo Monetário Internacional (FMI) e outras instituições globais previram que a China vai continuar a ser a grande economia com crescimento mais rápido e o maior contribuinte para o crescimento global neste ano.