As informações foram divulgadas pelo site Ottawa Citizen na quarta-feira (27).
O governo da época não publicou a segunda parte dos documentos, que foram produzidos em 1986, e censurou grande parte dos trechos divulgados.
Mais de 600 páginas dos documentos, obtidos em partes pela mídia e por organizações sociais através de uma legislação de acesso à informação do país norte-americano, haviam sido redigidas.
O ministro da Imigração, Marc Miller, afirmou na quarta que o governo poderia analisar novamente se os documentos devem ser divulgados.
"O país tem uma história realmente sombria com os nazistas no Canadá", disse Miller enquanto se dirigia à reunião semanal do partido Liberal. "Houve um ponto na nossa história em que era mais fácil entrar como nazista do que como judeu. Acho que é uma história com a qual temos que nos reconciliar", disse o ministro.
Canadá foi único país a aceitar 'banalidade do mal' como defesa
Especialista em crimes de guerra nazistas na Europa Oriental, o diretor do escritório de Israel do Centro Simon Wiesenthal, Efraim Zuroff, afirmou à rede de televisão canadense CBC que já fez pedidos ao governo canadense sobre 252 indivíduos refugiados no país que têm suspeita de serem participantes ou colaboradores do Exército nazista.
Segundo Zuroff, apenas um de todos os nomes identificados pela organização foi acusado judicialmente.
Zuroff afirma ainda que, após a publicação dos relatórios na década de 1980, o código criminal canadense foi alterado para facilitar a investigação de criminosos de guerra nazistas.
Muito desse trabalho, no entanto, foi interrompido abruptamente após o julgamento de Imre Finta, antigo comandante de polícia húngaro acusado de organizar a deportação de mais de 8 mil judeus para campos de extermínio nazistas. Finta foi inocentado sob a defesa de que ele estava apenas seguindo ordens de seu superior.
Segundo Zuroff, os tribunais canadenses foram os únicos do mundo a aceitar esse veredito, e, consequentemente, ninguém mais foi processado.
Mais de 2 mil nazistas abrigados no Canadá
Reportagem publicada em 2020 na revista militar Esprit de Corps mostra que o Canadá abrigou mais de 2 mil nazistas após o fim da Segunda Guerra Mundial, parte deles egressos da 14ª Divisão de Granadeiros da SS, o exército paramilitar do Partido Nazista.
Sediada na região da Galícia, na Ucrânia, a Primeira Divisão Ucraniana foi incorporada à 14ª Divisão de Granadeiros da SS e organizada exclusivamente para combater soviéticos. Composta por voluntários, muitos eram admiradores de Stepan Bandera (1909–1959), colaboracionista nazista ucraniano durante a Segunda Guerra Mundial, ou viam os nazistas como aliados úteis para tentar conquistar autonomia ante Moscou. Essa divisão foi acusada de praticar diversos crimes de guerra.
Foi na Primeira Divisão Ucraniana que o soldado nazista Yaroslav Hunka lutou em prol de Adolf Hitler. Ele foi ovacionado pelo Parlamento canadense, pelo primeiro-ministro, Justin Trudeau, e pelo presidente da Ucrânia, Vladimir Zelensky, na semana passada. A cena se tornou um escândalo de repercussão mundial.
Os aplausos derrubaram o presidente do Parlamento, que renunciou ao cargo nesta semana.
Embora Trudeau tenha pedido desculpas pela homenagem, Zelensky, por sua vez, calou-se: não se pronunciou e tampouco pediu desculpas pelo ato.