O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, tem o costume de classificar seus adversários, e praticamente qualquer um que discorde dele, de fascistas, mas aplaude um ex-combatente que lutou sob o comando de nazistas na Segunda Guerra Mundial, ironizou o jornalista Brendan O'Neill, em sua coluna desta semana para a revista britânica The Spectator.
"Brilhante, embora sombria ironia, a ovação do Parlamento canadense a Yaroslav Hunka. Certamente algo sem precedentes na história do Ocidente moderno", comentou em seu artigo de opinião em alusão à homenagem da Câmara dos Comuns do Canadá, na sexta-feira passada (22) ao ex-combatente ucraniano, de 98 anos, que integrou a 14ª Divisão de Granadeiros da SS nazista.
O evento contou com a participação do presidente da Ucrânia, Vladimir Zelensky, que também aplaudiu efusivamente o soldado nazista.
Para ele, foi "extraordinário" ver que, assim como os parlamentares, Trudeau, "o homem mais correto da cristandade, ostentoso detestador da extrema-direita", também aplaudiu de pé e com entusiasmo o colaborador nazista.
"Ele vê fascismo por todos os lados, a não ser quando está diante dele. Falam muito do Canadá moralmente correto, onde a classe trabalhadora que defende seus postos de trabalho é 'protofascista', enquanto um ex-soldado próximo do fascismo é aplaudido nos corredores do poder."
Hunka foi membro da Primeira Divisão Ucraniana, composta por voluntários ucranianos e depois incorporada à 14ª Divisão de Granadeiros da SS, o exército paramilitar nazista, responsável por operações contra judeus, poloneses, russos e comunistas durante a Segunda Guerra Mundial.
Trudeau se desculpou pelo ocorrido na quarta-feira (27).
A representante oficial do Ministério de Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, declarou que a afirmação de Trudeau, de que desconhecia completamente o passado nazista do homenageado, é mentirosa.
O incidente gerou críticas e indignação de setores da sociedade civil e política no Canadá e em vários países.
A Organização das Nações Unidas (ONU) se pronunciou a respeito e disse que é contrária a qualquer homenagem a nazistas.
Para o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, a atitude foi descuidada com a memória que deve ser preservada em relação aos nazistas: "Esses crimes não prescrevem. Tal negligência, certamente, é motivo de indignação", declarou ele na segunda-feira (25).