Panorama internacional

Taiwan lança seu 1º submarino doméstico e está na reta final para colocá-lo em serviço em 2024

A ilha vai realizar agora testes de aceitação portuária em seu primeiro submarino militar de fabricação nacional, que deve entrar em serviço no próximo ano. Quais são as características da embarcação e Taipé planeja construir mais submarinos desse tipo no futuro? A Sputnik responde.
Sputnik

Cerimônia de lançamento

A chefe da administração de Taiwan, Tsai Ing-wen, fez um discurso ao presidir o lançamento do avançado submarino diesel-elétrico Hai Kun (SS-711) na quinta-feira (28). O submarino está programado para passar por uma série de testes antes que a Marinha da República da China (ROCN, na sigla em inglês) receba o navio em 2024.
A cerimônia ocorreu na cidade portuária de Kaohsiung, no sul, Tsai disse que "a história se lembrará deste dia para sempre", enfatizando que "um submarino produzido internamente foi considerado uma missão impossível [para Taiwan] no passado".

"Mas hoje, um submarino projetado e construído por nossos compatriotas está a sua frente. Conseguimos construir um submarino não é apenas um objetivo, mas uma concretização palpável do nosso compromisso de defender o nosso país. Os submarinos são equipamentos importantes para a Marinha de Taiwan no desenvolvimento de estratégias de guerra assimétricas", observou a líder.

Cheng Wen-lon, chefe-executivo da empresa de construção naval taiwanesa CSBC, disse a repórteres que "a nova embarcação foi totalmente projetada por nós e seu desempenho será melhor do que o de seus pares atualmente na ativa", em um aparente aceno ao velho submarino da classe Hai Shih da Marinha de Taiwan.
Panorama internacional
Taiwan planeja construir 4 submarinos próprios até 2027 em meio a tensões com a China
O CEO do CSBC acrescentou que após a cerimônia de lançamento, a empresa "será submetida ao chamado HAT [teste de aceitação do porto] e SAT [teste de aceitação do mar] antes de ser enviada aos militares de Taiwan para mais testes de combate e preparação para fortalecimento de força".

Curiosidade da embarcação

Durante a cerimônia de lançamento, o submarino de US$ 1,54 bilhão (cerca de R$ 7,7 bilhões) foi oficialmente chamado de Hai Kun, em homenagem a um peixe gigante mitológico capaz de se transformar em um pássaro. O peixe foi destacado no antigo texto Zhuangzi, escrito pelo filósofo chinês Zhuang Zhou durante o chamado período dos Reinos Combatentes, por volta do século IV a.C..
O nome da embarcação em inglês é Narwhal, que está relacionado a uma baleia de presa única mencionada por uma revista científica dos EUA como uma das criaturas mais estranhas do mundo.
A chefe da administração de Taiwan, Tsai Ing-wen (C), entre as três pessoas ao lado do submarino, participa da cerimônia de lançamento das embarcações de fabricação nacional nos estaleiros da CSBC Corp em Kaohsiung, sul de Taiwan, 28 de setembro de 2023

Não é o único

É importante notar que um segundo submarino da mesma classe está atualmente em construção e deve passar a fazer parte da Marinha de Taiwan em 2027.
Neste momento, a ROCN tem duas embarcações de fabricação holandesa construídas na década de 1980 e mais dois submarinos norte-americanos da época da Segunda Guerra Mundial, que são utilizados apenas para treino.

Design e armamento

A mídia local se manteve em silêncio sobre as características do Hai Kun, afirmando apenas que o submarino de 79 metros de comprimento tem um deslocamento entre 2.460 e 2.950 toneladas. Alguns compararam o design do novo submarino ao dos navios da classe Hai Lung (Sea Dragon, ou Dragão do mar), os submarinos com cascos aerodinâmicos que estão atualmente em serviço na Marinha de Taiwan.
O que se especula é que o Hai Kun foi equipado com algum tipo de sistema de propulsão independente do ar (AIP, na sigla em inglês) para ajudar a embarcação a aumentar significativamente o tempo que pode permanecer submerso para evitar que um inimigo o rastreie.
Panorama internacional
Xi Jinping considera a reunificação com Taiwan 'inevitável' e que 'nenhuma força a pode impedir'
Quanto ao armamento da embarcação, o almirante Huang Shu-kuang, conselheiro do Conselho de Segurança Nacional de Taiwan, foi citado por um meio de comunicação norte-americano ao afirmar que o Hai Kun está equipado com um sistema de combate desenvolvido pela empresa aeroespacial e de defesa norte-americana Lockheed Martin.
Segundo ele, o novo submarino pode transportar os torpedos pesados MK-48 Mod 6 AT, que já estão em serviço na Marinha dos EUA e são capazes de se mover à velocidade de 55 nós (101 quilômetros) por hora.

Huang foi ecoado pelo ex-funcionário do Departamento de Defesa dos EUA, Tony Hu, que disse a um meio de comunicação norte-americano que o MK-48 é "um torpedo pesado" com uma ogiva "muito grande" que "pode causar muitos danos".

"Sua capacidade de encontrar o alvo e rastreá-lo até o fim é muito poderosa. É um sistema muito importante mesmo nos Estados Unidos", enfatizou o ex-funcionário do Pentágono.

Objetivo do novo substituto

A maioria dos observadores concorda que os novos submarinos poderiam contribuir significativamente para a estratégia de defesa de Taiwan, ajudando a ilha a repelir qualquer hipotético ataque chinês.
Ainda segundo analistas militares, Taiwan tem seguido uma estratégia de guerra assimétrica destinada a criar forças de defesa mais manobráveis que possam combater adversários maiores e com mais recursos, como a China, que tem atualmente mais de 60 embarcações, incluindo submarinos de ataque nuclear, à medida que continua a construir mais.
O analista militar do Instituto de Estudos de Defesa e Segurança Nacional de Taiwan, William Chung, disse a uma emissora do Reino Unido que os submarinos Hai Kun poderiam ajudar a marinha relativamente pequena de Taiwan a vencer as poderosas forças navais da China, travando um "combate de guerrilha através de furtividade, letalidade e elemento surpresa."
Em particular, o analista acrescentou que estes novos submarinos taiwaneses poderiam ajudar a proteger os vários estreitos e canais que ligam a chamada "primeira cadeia de ilhas" — um grupo de ilhas que inclui Taiwan, as Filipinas e o Japão, que são vistas como um possível teatro de operações em qualquer conflito potencial envolvendo a China.
Pequim, que considera Taiwan uma parte essencial da China, tem repetidamente elogiado o seu próprio plano pacífico para a reunificação com a ilha, que inclui o acordo denominado "Um País, Dois Sistemas".
Comentar