De acordo com documentos obtidos pela Sputnik, o tenente-coronel Arnaud Helly, da Direção Francesa de Inteligência Militar (DRM) e da Direção-Geral de Segurança Externa (DGSE), alugou um apartamento no centro de Kiev por 59 noites, de janeiro a março de 2020.
Em outro documento oriundo da Embaixada da França em Kiev, é assinalado pessoalmente por Helly o fim de sua estadia em 21 de março de 2020. No documento também há a assinatura do adido de Defesa da missão diplomática, Andrée Evrard.
No entanto, mais duas faturas vistas por nossos jornalistas mostram que Helly continuou alugando o mesmo endereço por quase mais dois meses até 10 de maio de 2020, pagando o aluguel antecipadamente. Embora os detalhes das ordens do coronel não sejam claros, o endereço onde ele ficou ficava a apenas 800 metros do conhecido hotel Golden Gate Inn.
O jornalista independente britânico, Warren Thornton, relatou à Sputnik que conversou com ex-mercenários que lhe disseram que o Golden Gate Inn era um refúgio seguro para membros de sua profissão, junto a espiões e intermediários – devido à sua reputação como um ponto turístico popular proporcionando cobertura para suas idas e vindas e diminuindo o risco de serem alvo de um ataque com mísseis russos.
Thornton serviu no Exército britânico como franco-atirador durante seis anos, seguidos de oito anos como guarda de trabalhadores humanitários em países devastados pela guerra – onde conheceu muitos adidos diplomáticos e empreiteiros militares privados.
Em um webcast, Thornton disse que Helly "gosta de frequentar vários restaurantes que são conhecidos por serem usados por vários empreiteiros — agora, quando dizemos empreiteiros, esse é apenas um termo legal para soldados mercenários".
A natureza da missão de Helly, que foi seguida por novas visitas a Kiev nos dois anos seguintes, permanece envolta em mistério. Mas a sua presença ocorreu durante um período em que os países da OTAN estavam aumentando o fornecimento de armas e o treino militar para a Ucrânia, em preparação para o conflito com a vizinha Rússia.
O recém-nomeado embaixador da França na Armênia, Olivier Decottignies, e o adido de Defesa, tenente-coronel Arnaud Helly, encontram-se com o ministro da Defesa armênio, Suren Papikyan, em 9 de agosto de 2023
© Foto / Ministério da Defesa da Armênia
Helly já havia visitado a cidade de São Petersburgo, no norte da Rússia, durante um mês de julho a agosto de 2018, aparentemente para melhorar seu domínio da língua russa. Ele ficou em outro apartamento alugado sob seu pseudônimo de Internet".
Thornton acompanhou os movimentos do pessoal francês na Rússia, revelando que a DGSE tinha uma série de agentes em São Petersburgo em rotação mensal. Desde então, Helly foi enviado para a Armênia, a antiga república soviética no Cáucaso que o Ocidente está a tentar atrair para fora da órbita russa.
Um comunicado de imprensa do Ministério da Defesa armênio, em agosto deste ano, informou sobre uma reunião com o novo embaixador francês, Olivier Decottignies, e "o recém-nomeado adido de defesa, tenente-coronel Arnaud Helly".
O oficial já tinha sido enviado em missões para a vizinha Geórgia, onde os protestos pró-União Europeia apoiados pelos Estados Unidos ameaçaram derrubar o governo depois de este ter assumido uma posição neutra em relação ao conflito.
Percurso militar
Arnaud Gildas Helly foi comissionado pela primeira vez no Exército francês como segundo-tenente em outubro de 2006, mostram os registros públicos, depois de se formar em economia e ciências sociais na Academia Militar de Saint-Cyr, ao norte da França. Na altura da sua viagem a Kiev em 2020, ocupava o posto de comandante, equivalente a major nos Exércitos dos países de língua inglesa.
Em outubro de 2020, para assinalar o seu 15º ano de serviço militar, foi agraciado com a medalha da Ordem Nacional do Mérito na classe de cavaleiro, honraria concedida a oficiais por serviço com "méritos distintos".
Isso foi logo seguido por uma promoção em dezembro de 2021 a tenente-coronel. Os registos não detalham o que justificou a sua rápida ascensão na hierarquia, mas o seu trabalho na Ucrânia pode ter potencialmente algo a ver com isso.
A França tem sido um dos principais braços ocidentais da Ucrânia no conflito por procuração da OTAN com a Rússia, doando dezenas de armas de artilharia autopropulsadas, tanques leves e outros veículos blindados, mísseis terra-ar e de cruzeiro.
Mas diante das evidências vistas pela Sputnik, as mesmas sugerem que Paris tinha agentes de inteligência em Kiev no período que antecedeu o conflito, algo que pode revelar um envolvimento ainda mais profundo entre os franceses e os ucranianos do que se tinha ideia.