Com isso, pais ou responsáveis enfrentam um grave dilema: a escassez de creches ou o alto custo faz com que cada vez mais familiares sejam forçados a ficar em casa para cuidar dos filhos.
Na Pensilvânia, o líder de uma associação empresarial local, Kevin Schreiber, disse à AFP que o problema já existia antes do coronavírus. "Foi apenas um problema exposto e agravado pela pandemia", acrescenta.
Sem creches disponíveis ou acessíveis, o país enfrenta dificuldades, em um momento de significativa escassez de mão de obra. Só na região de York, que fica entre Washington e Nova York, 20% dos estabelecimentos infantis deixaram de funcionar.
Já as que permanecem abertas funcionam com 85% da capacidade de receber alunos, justamente por conta da falta de mão de obra. Tudo isso impacta diretamente na força de trabalho do país, que tem taxa de desemprego de 3,8%.
Problema afeta 4,5 milhões de americanos
O diretor da entidade que cuida do credenciamento das creches no país, Calvin Moore, detalha a magnitude do problema nos Estados Unidos: em mais de 20% das famílias, um dos pais teve que deixar o emprego para cuidar das crianças. "Na maioria das vezes é a mãe. Isso resulta em uma grande perda da renda familiar", diz.
No país, o custo médio anual de uma creche é de US$ 8,6 mil (R$ 44,3 mil), quase o dobro da mensalidade em faculdades públicas — ao contrário do Brasil, as instituições de ensino superior geridas pelo governo cobram dos alunos.
Conforme a entidade, no início de 2023 eram 4,5 milhões de americanos e americanas sem trabalhar por falta de creche para deixarem os filhos.
"Cerca de 25% da renda familiar vão para cuidados infantis", pontua Kim Bracey, da associação YWCA em York. A situação é ainda mais dramática para mães solteiras.
O cartão de crédito tem sido uma alternativa para bancar os custos, mas para isso as famílias assumem dívidas com juros altos, frisa Brancey.
Queda na taxa de participação feminina no mercado
Dados do Banco Central dos Estados Unidos revelaram que houve uma leve alta da participação feminina no mercado de trabalho em agosto, para 57,7%, voltando ao patamar pré-pandemia. Porém ainda está abaixo do recorde histórico do país, de 60,3% em 2000 — há 23 anos.
Em fevereiro de 2021, o presidente do sistema bancário, Jerome Powell, lembrou que o país liderava o mundo na participação das mulheres na força de trabalho, principalmente entre as décadas de 1970 e 1980, panorama que mudou.
"Pode ser apenas que essas políticas nos deixaram para trás. [...] Entre as principais economias avançadas, apenas a Itália tem uma proporção menor de mulheres em idade ativa na força de trabalho", critica.
A comunidade empresarial de York decidiu abordar a falta de creches arrecadando "milhões de dólares para implementar várias iniciativas não apenas para abordar o acesso a creches de qualidade e acessíveis, mas também para aumentar o número de professores na indústria de cuidados infantis", disse Schreiber.
"É a principal razão que os empregadores citam em termos de absenteísmo. Portanto precisamos fazer um trabalho melhor, não apenas aqui em York, mas em todo o país", finaliza.