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Lira e Vieira na Ásia: Brasil gasta muito esforço com Europa e sem muito resultado, diz analista

Teve início nesta segunda-feira (9) uma série de visitas de políticos, como o presidente do Congresso, Arthur Lira (PP-AL), e funcionários do alto escalão do governo brasileiro a países da Ásia, como China, Índia, Indonésia, Filipinas e Camboja.
Sputnik
Com o objetivo de estabelecer acordos comerciais e consolidar relações diplomáticas, as reuniões evidenciam o crescimento da influência global do Brasil, especialmente perante o Sul Global, apontaram analistas ouvidos pela Sputnik Brasil.
Nesta segunda-feira (9), o ministro das Relações Exteriores, o embaixador Mauro Vieira, já está na Indonésia, onde participa da 1ª Reunião Trilateral Brasil-ASEAN (sigla em inglês para Associação de Nações do Sudeste Asiático).
O grupo de nações, composto por dez países, representa a quinta maior economia global e, segundo projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI), será responsável por 10% do crescimento do PIB global em 2023.
Em termos absolutos, os países da ASEAN (Brunei, Camboja, Cingapura, Filipinas, Indonésia, Laos, Malásia, Mianmar, Tailândia e Vietnã) são o terceiro maior parceiro comercial do Brasil. É a primeira vez que um representante brasileiro visita o Camboja e as Filipinas, demonstrando o desejo do país de aumentar sua presença ao redor do globo.
Para Marcos Cordeiro Pires, professor de relações internacionais da Universidade Estadual Paulista (Unesp), os encontros não são só um marco para o Brasil, mas para todo o mundo. "Não há nenhuma solução para os desafios enfrentados pela humanidade que não passe pela atuação decidida dos países em desenvolvimento", afirmou.

"Um dado pode exemplificar isto: em 2022, cinco países em desenvolvimento estavam entre as dez maiores economias do mundo, quatro delas do BRICS: China, Índia, Rússia e Brasil. Por conta disso, ampliar os laços políticos e econômicos deixou de ser um tema ideológico e se tornou um imperativo para a elite política e econômica do Brasil."

A posição de Pires vai de acordo com a de Afonso de Albuquerque, professor de ciência política da Universidade Federal Fluminense (UFF), que vê na visita de Mauro Vieira a abertura de novos caminhos pelos quais o Brasil pode exportar sua liderança ao redor do mundo.
Nesse sentido, se aproximar de um bloco como a ASEAN permite ao Brasil atuar como conciliador em diferentes frentes, como um intermediário na resolução de conflitos entre os países da ASEAN e seus colegas do BRICS, Índia e China.

"O Brasil desempenha um papel muito diferente daquele papel que é desempenhado pela China e pela Rússia, que buscam um protagonismo através de uma oposição à ordem ocidental. A posição brasileira é a posição de um mediador. Ele entra nos diálogos sem reduzir o espaço de um ou de outro, projetando certo lugar de liderança, justamente pelo fato de não ser ameaçador."

Lira visita Índia e China

As visitas do alto escalão vão além das realizadas pelo embaixador. O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), chegará à Índia na terça-feira (10) para um encontro de chefes de Parlamento de países do G20.
Em seguida, Lira e outras lideranças parlamentares vão à China, onde se encontrarão com parlamentares chineses e cumprirão agendas empresariais. Para Evandro Menezes de Carvalho, professor de direito internacional público da UFF e da Fundação Getúlio Vargas (FGV), onde também atua como coordenador do Núcleo de Estudos Brasil-China (NEBC), a política externa brasileira ainda não está à altura do desafio de ter a China como parceiro estratégico.
Apesar de ser o maior parceiro comercial, o "potencial da relação sino-brasileira ainda está aquém do que poderia ser", afirmou Menezes de Carvalho. Uma das maiores provas disso, aponta o acadêmico, é que o Brasil está distante do maior projeto de política externa da China, a Iniciativa Cinturão e Rota, que conta com a parceria de 18 países da América Latina e Caribe.

"O nível de conhecimento e esforço que o Brasil tem e dá nas relações com a Europa – e sem muito resultado concreto (veja o caso do acordo Mercosul-UE) – não [é visto] na relação com a China e a Índia. As nossas lideranças ainda não estão preparadas para o mundo que se avizinha. Estão reagindo aos fatos apenas. No próximo ano, Brasil e China celebrarão 50 anos de relações diplomáticas. É uma boa oportunidade para reorganizar os rumos da política externa."

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