Alguns equipamentos militares norte-americanos já haviam sido fornecidos ao Estado judeu ao abrigo do memorando de entendimento de 2018 entre Washington e Tel Aviv para assistência de segurança. Ontem (9), a Casa Branca enviou porta-aviões, quatro destróieres, um cruzador de mísseis e vários caças para a região.
Hoje (10), em discurso na Casa Branca, o presidente norte-americano, Joe Biden, voltou a dizer que "garantiremos que Israel tenha o que precisar para cuidar dos seus cidadãos, defender-se e responder a estes ataques". Ele também anunciou que o secretário de Estado, Antony Blinken, viajará a Israel amanhã (11) para conversar com os líderes israelenses.
Todos esses passos significam que os EUA fornecerão seus foguetes e obuseiros a Israel em vez de enviá-los para Ucrânia?
Na visão do ex-analista sênior de Política de Segurança do gabinete do secretário de Defesa dos EUA, Michael Maloof, isso já está acontecendo por conta da influência que a comunidade israelense tem em território norte-americano, a qual seria muito maior do que a da comunidade ucraniana.
"Tenho certeza que [o presidente ucraniano Vladimir] Zelensky percebe que os EUA são muito mais favoráveis a Israel por causa do número de judeus americanos nos Estados Unidos e do lobby judeu no Congresso, que é bastante extenso. A Ucrânia não tem esse tipo de representação no Congresso. O povo americano não quer uma guerra com a Rússia. […] Portanto, a Casa Branca encontra-se em uma encruzilhada muito séria sobre qual caminho geopolítico seguir", afirmou Maloof.
O ex-analista também acredita que terá "uma competição entre os dois por assistência": "Temos compromissos rígidos com Israel em termos da Cúpula de Ferro. Nós os ajudamos a desenvolvê-la, na verdade", relembrou.
Se Israel realmente lançar uma operação terrestre em Gaza e a guerra com o Hamas se transformar em um conflito regional mais amplo, Tel Aviv precisaria não apenas de munições, mas também de artilharia, provavelmente bombas que seriam lançadas de aeronaves, de acordo com o especialista militar.
O problema, no entanto, não é que Israel ou a Ucrânia obteriam mais ou menos armas, mas o que sobraria para as próprias forças militares dos EUA, destacou Maloof.
"Temos um excedente de aeronaves e sistemas Cúpula de Ferro, mas o estoque dos EUA será limitado. Obuseiros, bombas e artilharia: tudo está indo para Ucrânia. E a questão é: qual é a nossa posição com os nossos próprios militares dos EUA em termos de preparação? Ninguém está falando sobre isso […]", pontuou.
Segundo o ex-analista do Pentágono, as capacidades estadunidenses para abastecer os seus aliados não são ilimitadas, e, para isso, teria de reestruturar a sua economia, que já se encontra em grande crise. A questão também é se o povo americano quer agora essa assistência mais encorpada para Israel, segundo Maloof.
"Os Estados Unidos terão então de tomar algumas decisões muito sérias em termos de produção interna, na escala que vimos durante a Segunda Guerra Mundial, onde as indústrias teriam de mudar da produção em tempos de paz para a produção em tempos de guerra. É isso que queremos? O cidadão americano, as pessoas que conheço não querem isso. Elas não sentem esse desejo de lutar nas guerras de outras pessoas o tempo todo, simplesmente porque estamos nisso desde 2001", complementou.
De acordo com o site Council Foreign Relations, Washington já enviou, entre 24 de janeiro de 2022 e 31 de julho de 2023, US$ 76,8 bilhões (R$ 388 bilhões) para Ucrânia, sendo US$ 46,6 bilhões (R$ 235 bilhões), ou seja, 61%, em ajuda militar.