Para o especialista, o Exército israelense montado ao redor de Gaza "não está preparado para essa luta", afirmou à Sputnik. "Eles não estão treinados ou equipados para essa luta. Eles não estão psicologicamente preparados para essa luta."
Ritter justificou sua opinião a partir do histórico de treinamento das forças de Israel após a derrota em 2006 na Segunda Guerra do Líbano, contra o Hezbollah. Na época, cerca de 30 mil soldados israelenses, que contavam com o apoio de tanques, artilharias, helicópteros e aviões, foram derrotados por uma infantaria leve de 3 mil combatentes do Hezbollah.
"A guerra foi um desastre absoluto para as FDI. Os comandantes do Hezbollah descobriram que as tropas israelenses eram, em geral, mal organizadas e disciplinadas, com muito pouco treino que fosse relevante para os rigores da guerra moderna. Os operadores de tanques israelenses não estavam familiarizados com táticas relevantes para o terreno em que operavam, ficando vulneráveis a ataques do Hezbollah, que destruíram 20 dos tanques Merkava de Israel", afirmou.
Projeto Gideon e a reestruturação das FDI
Em 2016, com o intuito de superar a derrota para o Hezbollah e reconfigurar o seu Exército, Israel iniciou o Projeto Gideon. O problema é que o plano preparou as tropas israelenses para um cenário completamente diferente do de hoje.
"O evento foi centrado em uma grande campanha aérea travada contra o Irã e uma grande guerra terrestre travada contra o Hezbollah, no norte de Israel/sul do Líbano", afirmou Ritter. Na mente dos generais de Israel, as revoltas em Gaza e na Cisjordânia seriam pequenas e localizadas, podendo ser contidas pelos comandos centrais e meridional.
Essas tropas, que compõem a maior parte da força de invasão de Gaza, foram treinadas em exercícios de contraterrorismo que enfatizaram a segurança dos residentes de Judeia e Samaria. Ou seja, nada comparado com os ataques deste ano. Para Ritter, com exceção de algumas unidades de elite, as tropas de Israel estão mais acostumadas com "rituais de tempo de paz, mais parecidos com a vida de um oficial penitenciário do que com a de um soldado".
"As FDI tornaram-se especialistas em prender crianças, espancar mulheres e assassinar homens desarmados."
Combate urbano
A situação torna-se ainda pior pelo fato de que a invasão de Gaza é uma situação de combate urbano, ressaltou Ritter. "Extrair um inimigo competente dos escombros de uma cidade destruída, especialmente quando ele está preparado e organizado para tal batalha, é um trabalho mortal."
"O combate urbano é extraordinariamente difícil. Isso fica ainda mais evidente quando um defensor consegue se instalar entre os escombros de uma cidade destruída. Pergunte aos alemães em Stalingrado. Pergunte aos franceses, britânicos, indianos e poloneses que lutaram no monte Cassino. Pergunte aos ucranianos ou aos russos sobre Mariupol e Artyomovsk."
"Qualquer ataque israelense a Gaza está condenado ao fracasso antes mesmo de começar", concluiu o analista.
A história do conflito entre Israel e Palestina
Em 29 de novembro de 1947, a Assembleia Geral das Nações Unidas votou a criação de dois Estados — um judeu e um árabe — na margem ocidental do rio Jordão, ao mesmo tempo em que Jerusalém manteria o status de zona internacional.
Em 14 de maio de 1948, Israel declarou sua independência. Imediatamente depois, Egito, Síria, Jordânia, Líbano e Iraque começaram uma guerra contra o Estado recém-formado.
Durante a Guerra dos Seis Dias (1967), Israel ocupou a Faixa de Gaza e a Cisjordânia (margem ocidental do rio Jordão), incluindo Jerusalém Oriental. Surgiram as colônias de judeus em terra palestina, levando ao deslocamento em massa de palestinos.
Após a Primeira Intifada (manifestação de resistência dos palestinos contra as autoridades israelenses nos territórios ocupados, que durou de 1987 a 1993), foi assinado o acordo de paz de Oslo. Foi um período de transição de cinco anos. Era para começar com a redistribuição de tropas israelenses da Faixa de Gaza e Cisjordânia e terminar com a determinação do status final dos territórios palestinos.
Em 1996, a Palestina realizou suas primeiras eleições, e Yasser Arafat, então líder da Organização para a Libertação da Palestina, foi eleito presidente da Autoridade Nacional Palestina.
Em 2002, em meio à Segunda Intifada ou Intifada Al-Aqsa, os Estados Unidos, a União Europeia, a Rússia e as Nações Unidas propuseram um plano de paz denominado Roteiro para a Paz. Previa a retomada das negociações, a resolução do conflito e o estabelecimento de um Estado independente palestino.
Em 2005, Israel, unilateralmente, sem qualquer acordo político, retirou-se completamente da Faixa de Gaza.
Em 25 de janeiro de 2006, eleições legislativas foram realizadas pela segunda vez. Duas organizações se destacaram: o Hamas ganhou a maioria dos assentos (80), enquanto o Fatah levou 43 assentos no Conselho Legislativo Palestino.
Em junho de 2007, houve um conflito militar na Faixa de Gaza entre as duas frentes. O Hamas assumiu o controle total do território de Gaza, depois de expulsar a maioria dos ativistas do Fatah (que não era mais governo).
As tensões escalaram mais uma vez, drasticamente, quando, em 2018, o então presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou o reconhecimento de Jerusalém como a capital israelense e transferiu a Embaixada dos EUA para lá.
Em 29 de novembro de 2012, a Palestina recebeu o status de Estado observador nas Nações Unidas, evento que é amplamente considerado o reconhecimento de fato do Estado palestino pela comunidade internacional.
Como resultado de ataques de foguetes a partir da Faixa de Gaza, Israel vem realizando operações contra a infraestrutura do Hamas desde 2008, tendo sido a última em maio de 2023.
Países como Rússia e Brasil têm pedido às duas partes em conflito que cheguem a um cessar-fogo e retornem à mesa de negociações.